Em um sinal da escalada das tensões no Oriente Médio, o Irã lançou nesta terça-feira (16) um ataque com mísseis contra alvos no norte do Iraque, desencadeando uma disputa incomum entre os vizinhos. A ofensiva iraniana ocorreu simultaneamente a ataques de Teerã contra alvos em Idlib, na Síria, e a bases de militantes sunitas — rivais dos muçulmanos xiitas do Irã — no Paquistão.
O Iraque reagiu à ação do Irã chamando de volta, em protesto, seu embaixador em Teerã. Os dois países travaram uma sangrenta guerra entre 1980 e 1988, mas se tornaram aliados depois que um governo de maioria xiita se estabeleceu em Bagdá após a intervenção dos EUA que depôs o ditador Saddam Hussein. A Guarda Revolucionária — força militar de elite de Teerã — justificou o bombardeio alegando ter destruído um “centro de espionagem israelense” em Erbil, na região semiautônoma do Curdistão iraquiano.
Os ataques à Síria e à região paquistanesa do Baluquistão foram descritos pelos iranianos como uma ação contra o grupo Estado Islâmico (EI) — inimigo de Teerã.
A série de ofensivas parece agravar as preocupações sobre a instabilidade no Oriente Médio no momento em que rebeldes houthis do Iêmen ampliam seus ataques destinados a bloquear a passagem de navios pelo Mar Vermelho — em reação à guerra de Israel contra o grupo terrorista Hamas. O Irã patrocina com armas e recursos os rebeldes muçulmanos iemenitas.
Mas como as ações do Irã não visaram diretamente nem objetivos israelenses nem americanos, o preço do petróleo no mercado internacional se manteve praticamente estável. No fechamento, a cotação do barril do tipo de referência mundial, o Brent, subiu 0,2% em relação ao dia anterior, para US$ 78,29.
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Síria (16 de janeiro de 2024), atingida por mísseis iranianos na noite de segunda-feira, de acordo com um grupo de resgate voluntário — Foto: AP Photo/Omar Albam
Mesmo assim, analistas mostram preocupação com a possibilidade de o Iraque — que como o Irã é um player importante no mercado mundial de energia — possa ser levado de volta a um teatro de conflitos regionais. Uma série de grupos militantes ligados a Teerã integram as forças de segurança regulares iraquianas.
A Guarda Revolucionária do Irã disse que os ataques são uma resposta às “atrocidades” israelenses contra vários de seus comandantes e das forças aliadas de Teerã em todo o Oriente Médio desde o início do conflito na Faixa de Gaza.
O premiê iraquiano, Mohammed Shia al-Sudani, porém, disse que o ataque foi uma “agressão clara” contra o Iraque e uma ocorrência perigosa que “minou o estreito relacionamento entre Teerã e Bagdá”, informou a mídia estatal iraquiana. Ele disse que o Iraque se reserva o direito de “tomar todas as medidas legais e diplomáticas que lhe são concedidas pela sua soberania”.
Os mísseis do Irã atingiram uma área residencial perto do consulado dos EUA em Erbil e foi descrito pelo premiê da região do Curdistão, Masrour Barzani, como um “crime contra o povo curdo”, no qual pelo menos quatro civis foram mortos e seis ficaram feridos.
O empresário curdo multimilionário Peshraw Dizayee e vários membros de sua família estavam entre os mortos. Eles foram atingidos quando um míssil explodiu em sua casa, disseram fontes de segurança iraquianas.
O conselheiro de Segurança Nacional do Iraque, Qasim al-Araji, negou que a casa fosse um centro de espionagem israelense. “Depois que recebemos uma denúncia de que havia ali uma sede do Mossad [o serviço secreto externo de Israel], visitamos o local e percorremos todos os cantos da mansão, e tudo indicava que se trata de uma casa de família”, disse a jornalistas.
Defendendo o ataque, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, Nasser Kanaani, disse que Teerã respeita a soberania e a integridade territorial de outros países, mas é “direito legítimo do Irã de dissuadir ameaças à segurança nacional”.
Em relação ao Estado Islâmico, Teerã adeclarou ter atacado “autores de operações terroristas” no Irã — que acusa o grupo de responsabilidade por duas explosões que mataram quase 100 pessoas e feriram dezenas no memorial ao militar iraniano Qassem Soleimani.
Teerã acusou o grupo militante Jaish al Adl, alvo do ataque no Paquistão de ser aliado do EI.
Fonte: Valor Econômico

