Cristiano Guimarães, chefe da área de banco de investimento, vê cenário mais propício a ofertas no segundo semestre de 2025
Passados mais de três anos sem a estreia de empresas na bolsa brasileira, a operação que marcará a retomada das ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) terá que ser “à prova de balas”, aponta o chefe do segmento corporativo e do banco de investimento do Itaú BBA, Cristiano Guimarães. Segundo ele, a esperada operação abre alas dependerá do nome da candidata, que terá que ter resultados robustos, mas também de uma transação de grande porte que garanta a liquidez exigida pelos investidores.
Isso porque, em tempos incertos, é premissa do lado do investidor ter companhias reconhecidas em suas áreas e que tenham negociação diária mínima na bolsa para permitir uma porta de entrada – ou de saída. E tudo isso em consonância com um cenário de juros mais baixos. Assim, o executivo do Itaú BBA aponta que o novo ciclo de aperto monetário no Brasil jogou para frente as expectativas em relação à renda variável. Ele lembra, contudo, que o mercado antecipa os cortes de juros e que, por isso, 2025 deverá ter mais movimento, depois de 2024 ano se mostrar mais fraco do que o previsto.
O olhar, no momento, é de mais atividade a partir do segundo semestre do próximo ano, com um mercado de ofertas subsequentes (“follow-on”) mais saudável. “Alguns” IPOs também podem ocorrer, muito embora esteja difícil neste momento prever a retomada exata das ofertas iniciais. “Difícil termos um ano mais fraco para renda variável do que em 2024”, frisa Guimarães, referindo-se à queda anual de mais de 40% nos volumes das emissões. O ano só não foi pior por conta da oferta de privatização da Sabesp – que rendeu, contudo, pouca receita para os bancos coordenadores.
A dinâmica desse mercado depende de quando o ponteiro do fluxo de capital voltará para a renda variável, algo que está atrelado aos juros, diz. Por enquanto, o capital segue rumo à renda fixa.
E esse pêndulo oscilando entre os produtos, por conta dos juros, não é saudável. O ideal para o mercado, de acordo com o executivo, é que os diferentes mercados estejam sempre funcionais e com suas “janelas” abertas, garantindo às empresas diferentes bolsões para captarem, ou seja, proporcionando diversidade de fontes de financiamento (“funding”). No entanto, afirma, isso não tem ocorrido no Brasil, com a gangorra dos juros afetando a dinâmica, deixando o mercado de renda variável fechado neste momento, por exemplo. “Precisamos ter um juro de equilíbrio que não deixe os preços muito depreciados ou inflados, permitindo que os mercados funcionem de forma apropriada”, comenta. Isso ocorrerá “necessariamente com a Selic em um dígito”.
Para o ano que vem, o executivo do BBA acredita que não haverá um vetor claro de crescimento para a atividade de banco de investimento no país. Neste ano, a protagonista foi a renda fixa, com emissões em nível recorde, em resposta a um grande ritmo de fluxo de entrada de recursos na modalidade. Até o fim de setembro, as emissões de renda fixa chegaram a R$ 335 milhões, sendo R$ 173 bilhões distribuídos ao mercado – o restante foi encarteirado pelos bancos.
No período, muitas empresas aproveitaram as taxas convidativas do mercado, com o fechamento dos spreads como reflexo da alta demanda, para anteciparem suas emissões, com muitas recomprando papéis mais antigos. Mas a leitura é a de que essa tração deve diminuir, com alguns sinais já sendo observados. Recentemente, muitos fundos estão declinando de comprar alguns papéis devido ao baixo retorno, priorizando o caixa ou até mesmo fechando para captação. Além disso, grande parte dos recursos dos investidores já migrou rumo à renda fixa. “O ritmo de entrada de recursos para a renda fixa deve arrefecer um pouco”, aponta Guimarães.
Dessa forma, provavelmente sem poder contar mais uma vez com o estrondoso crescimento das operações de renda fixa no ano que vem, o banco, que neste ano tem se mantido na liderança do mercado com uma fatia de 13,4%, segundo dados da Dealogic, contará com seus demais braços de atuação para garantir crescimento de mercado. Além do ganho de participação (“market share”), segundo Guimarães, o Itaú também analisa novas atuações, como na área de esportes e entretenimento, nicho em que ainda não atuava. Acaba de atrair da XP, por exemplo, o executivo Guilherme Ávila para estruturar a área. “Temos uma visão de longo prazo, sem efeito sanfona”, diz. Na área de esportes e entretenimento, segundo o chefe do banco de investimento do Itaú BBA, o olhar está também na trajetória desse mercado nos Estados Unidos, onde a área de atuação do segmento está muito além do futebol. “A expectativa é que essa área, assim como ocorreu lá fora, no Brasil também se tornará relevante”, comenta.
Um ponto que tem ajudado o banco a evitar a volatilidade de suas receitas, segundo ele, tem sido crescer em transações de maior valor agregado, como as estruturadas, que, por serem mais complexas, envolvem no geral diferentes áreas banco e são pensadas na medida para o cliente. “Nosso mercado é competitivo e temos que buscar alternativa de crescimento nos três segmentos (renda fixa, renda variável e M&A)”, afirma. Para ter mais especialização, ele diz que o banco tem apostado em contratações chave. “Nosso negócio é feito de pessoas. Conhecimento faz a diferença e, portanto, sempre estamos investindo em buscar os melhores nas suas áreas de atuação”, diz.
Em fusões e aquisições, o ano tem sido de estabilidade quando se fala em “fees”, que são as receitas recebidas pelas instituições financeiras na conclusão das transações, comenta. O banco tem apostado mais recentemente também no chamado “middle market”, segmento que até pouco tempo não era um foco ao qual o banco destinava sua energia. “Essa é uma estratégia e foco de crescimento”, diz.
Ainda na indústria de M&A, o ano mostrou forte presença de empresas nacionais unindo forças, em claro movimento de consolidação, com as companhias buscando ter mais musculatura e usando como moeda de troca suas ações na combinação, estratégia que também não cristaliza a atual queda das ações negociadas em bolsa. “A combinação de negócios evita uma discussão de valor absoluto dos negócios em um momento que diversos setores estão com avaliação deprimida”, aponta. No ano, exemplos de operações do tipo são as realizadas entre Soma e Arezzo, Petz e Cobasi, além de 3R e Enauta. “Há outras operações sendo analisadas”, antecipa. Mais recente Próxima Brasil mantém nível de risco médio, diz Mapfre
Fonte: Valor Econômico