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A prévia da inflação de setembro surpreendeu com notícias positivas em várias aberturas, em especial, no comportamento dos serviços – foco de maior atenção do Banco Central. Apesar disso, economistas veem o dado com cautela, já que muitos dos riscos estão se materializando, em especial em energia elétrica e alimentação. Além disso, quedas pontuais registradas pelo indicador podem se reverter nas próximas leituras.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) subiu 0,13% em setembro, desacelerando de 0,19% em agosto. O dado veio abaixo das projeções de 32 economistas consultados pelo Valor Data, que variava de 0,14% a 0,33%, com mediana em 0,28%. O IPCA-15 acumula alta de 4,12% em 12 meses e de 3,15% este ano.
Cinco das nove classes de despesas do indicador apresentaram desaceleração na passagem entre agosto e setembro: artigos de residência (de 0,71% para 0,17%); transportes (de 0,83% para -0,08%); despesas pessoais (de 0,43% para -0,04%); educação (de 0,75% para 0,05%); e comunicação (de 0,09% para 0,07%).
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Por outro lado, alimentação e bebidas (de -0,80% para 0,05%); habitação (de 0,18% para 0,50%); vestuário (de 0,09% para 0,12%); e saúde e cuidados pessoais (de 0,27% para 0,32%) aceleraram as altas de preços.
Impulsionada pela adoção da bandeira tarifária vermelha 1, a energia elétrica foi a maior contribuição individual para o resultado, passando de -0,42% em agosto para 0,84% em setembro.
“Tudo surpreendeu para baixo, foi uma composição inegavelmente mais benigna que o esperado”, resume Luiz Bianconi, economista da SulAmérica Investimentos. Ele destaca a queda dos preços no cinema, teatros e concertos (-5,77%) por causa de promoções da Semana do Cinema e também a continuidade da devolução das altas em seguros voluntários de veículos (-2,53%), fortemente impulsionados pelas enchentes no Rio Grande do Sul, em maio.
A média dos cinco núcleos do Banco Central desacelerou de 0,29% para 0,18%, e os serviços subjacentes passaram de 0,39% para zero – este último, a melhor leitura desde junho de 2020, no auge da pandemia, ressalta Luís Leal, economista-chefe da G5 Partners.
Mesmo a média móvel de três meses dessazonalizada e anualizada dos serviços subjacentes, métrica bastante acompanhada para avaliar a inflação ligada ao ciclo econômico “na ponta”, também apresentou melhora, continua Leal, saindo de 4,90% para 3,85%, o melhor nível desde julho de 2021.
O dado de setembro desencadeou revisões tímidas para o IPCA do mês fechado e, em menor grau, para 2024. A Warren baixou sua estimativa para setembro de 0,57% de 0,47%. O banco ABC Brasil passou de 0,54% para 0,46%. A do ASA caiu de 0,63% para 0,50%. Para o ano, o ajuste foi de 4,6% para 4,5%.
Coordenador dos índices de preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), André Braz chama atenção para o impacto da estiagem sobre a bandeira tarifária até o fim do ano. “Há chance de que essa bandeira vermelha possa durar até o ano que vem, caso não chova o suficiente para abastecer as usinas hidrelétricas”, salienta.
Outro ponto também ligado à seca é a alimentação. Para Fabio Romão, economista da LCA Consultores, a alta de preços do grupo pode superar a mediana dos últimos dez anos. “Itens específicos como cereais, leguminosas hortaliças e verduras poderão perder parte de seu ímpeto de queda em setembro”, afirma. “Projetamos altas, destacadamente em frutas, carnes, leites e derivados, panificados e bebidas, e infusões.”
André Valério, economista do banco Inter, lembra ainda que, por questão metodológica, o IPCA-15 só capturou parte da pressão advinda bandeira vermelha e dos alimentos, que tiveram deflação em agosto. No dado fechado de setembro, a leitura desses grupos já deve acelerar, diz, observando que coletas de preços têm mostrado o pressão firme sobre alimentos.
Mesmo o desempenho dos serviços precisa ser levado com cautela. “Os serviços subjacentes vieram em zero, mas eu notaria que esse dado foi muito impactado por dois itens, cinema e seguro de automóvel”, afirmou a chefe de pesquisa econômica para a América Latina do BNP Paribas, Fernanda Guardado. “Parte dessa surpresa se reproduz no número fechado de setembro, mas parte disso pode ser revertida adiante. Assim, é difícil dizer que esse número pode se tornar tendência”, disse a ex-diretora do Banco Central em conversa com jornalistas após a apresentação do cenário global do banco francês para o quarto trimestre.
Este último ponto, no entanto, tem causado alguma contrariedade entre economistas. Isso porque, embora a avaliação geral seja de que o mercado de trabalho e a atividade trabalhem acima de sua capacidade – como o BC passou a considerar em sua última decisão de juros -, a inflação de serviços tem perdido ímpeto na margem.
“Tem sido uma dinâmica bem surpreendente. Mesmo os serviços mais sensíveis ao mercado de trabalho mostram tendência de desaceleração”, nota Valério. “O que vemos é uma dinâmica inflacionária sem estresse significativo em 2024, tirando a aceleração ocorrida entre junho e agosto, que foi mais causada por fatores de calendário do que um qualitativo ruim.”
Com base nessa visão mais construtiva, reforçada pelo IPCA-15 de setembro, o Inter avalia que não há motivo significativo para acelerar o ciclo de altas da Selic. O banco vê mais três altas de 0,25 ponto porcentual, levando os juros a 11,50%.
Avaliação semelhante tem o economista e sócio do Rio Bravo Investimentos, Evandro Buccini. Ele nota que o Copom não atribuiu a elevação recente de 0,25 ponto percentual (p.p.) na Selic à inflação, mas a outros fatores da economia nacional, como pleno emprego e excesso de gastos do governo.
Já Fernanda Guardado entende que o dado não deve mudar a expectativa de aceleração do ritmo de altas para 0,50 ponto – o banco enxerga ajuste da Selic encerrando em 12,25%. Apesar disso, o número “traz maior conforto para fazer essa aceleração e gerar ao longo do tempo convergência para processo de desinflação de volta à meta” de 3,0%”, diz.
Fonte: Valor Econômico

