31 Jul 2024CÍCERO COTRIM
A alta do IPCA-15 de julho, de 0,30%, acima das estimativas, reforçou a avaliação dos analistas sobre a eventual necessidade de o Copom voltar a elevar a Selic. Na visão do Itaú Unibanco, a política monetária brasileira se encontra no limiar de uma inflexão. Nas condições atuais, avalia o banco, o nível da Selic necessário para levar a inflação à meta já seria de pelo menos 11% ao ano.
“Tal condição deve levar o comitê a renovar a promessa de vigilância, e afirmar que avaliará se a estratégia de manutenção da política monetária em patamar contracionista por tempo suficiente será capaz de assegurar o processo de desinflação e reancoragem das expectativas”, afirma o time de pesquisa macroeconômica, liderado pelo economistachefe do Itaú, Mário Mesquita.
Para o banco, um possível sinal mais duro e inteiramente cabível pelo Copom seria “a descrição de um balanço de riscos assimétrico para cima, acompanhada da afirmação de que o comitê não hesitará em retomar o ciclo de ajuste (para cima)”.
Depois da divulgação do IPCA-15, semana passada, a equipe de economistas da Kínitro Capital alertou em relatório a clientes que os riscos de uma alta dos juros “estão se avolumando”. “Nossas simulações sugerem que, com valores atuais para os principais determinantes da inflação, mesmo com a taxa Selic estável em todo horizonte prospectivo, as projeções de inflação do Copom se situariam ligeiramente acima do centro da meta. Isso significa que estamos em um limiar para o BC e os seus passos seguirão dependendo de uma série de elementos, como a resiliência da atividade econômica, a interrupção do processo de desancoragem das expectativas fiscais e de inflação, além da flexibilização da política monetária nas principais economias”, diz a Kínitro no relatório.
SINAL. Na visão da Legacy Capital, já na reunião desta quarta, o Copom deveria preparar o mercado para uma provável elevação de juros em setembro, sob pena de induzir uma depreciação ainda maior do real ante o dólar e uma desancoragem adicional das expectativas.
Segundo a gestora, as incertezas quanto ao compromisso do governo sobre a manutenção do arcabouço fiscal e à condução da política monetária a partir de 2025, além de outros fatores, contribuíram para uma depreciação significativa da taxa de câmbio e para a elevação das expectativas de inflação nas últimas semanas.
“Nossas estimativas sugerem que a projeção de inflação a ser apresentada pelo BC, na reunião do Copom (de hoje), no cenário com juros estáveis, dificilmente será inferior a 3,4%. O patamar de desvio de 40 pontos-base (0,4 ponto porcentual) seria compatível com elevação imediata dos juros, já nesta próxima reunião (de setembro)”, afirma a Legacy Capital, em publicação na rede social LinkedIn. •
COLABOROU CAROLINA ARAGAKI
Fonte: O Estado de S. Paulo

