A Inteligência Artificial (IA) tem o potencial de aumentar o PIB global em 7% em um período de dez anos, é o que aponta o Goldman Sachs. E essa não é a única motivação para que IA seja um dos temas que pauta as recomendações da força-tarefa de Transformação Digital e que, pela primeira vez, ganhe destaque nos debates do B20. O assunto não é novo, discute-se desde os anos 50, mas os recentes avanços como a possibilidade de coletar e analisar grandes volumes de dados; o aumento da capacidade computacional; modelos de aprendizados de máquina e de linguagem; e a chegada da IA Generativa, tornam este assunto essencial para os debates do B20.
O posicionamento, consensado entre mais de 160 lideranças do setor privado global, propõe aos líderes do G20 um aproveitamento responsável do poder transformador da Inteligência Artificial, apoiando o seu desenvolvimento e adoção, e, paralelamente, colaborando para que se alcance uma ambição compartilhada, fundamentada em princípios comuns de ética, sustentabilidade, segurança e inclusão.
São vários os exemplos da contribuição positiva da Inteligência Artificial que podemos citar. Na assistência médica, há grande progresso em curso na descoberta e na síntese de medicamentos. Ao analisar e identificar padrões implícitos em grandes quantidades de dados, a IA pode ajudar na identificação de novos fármacos promissores e estimar sua eficácia e segurança, acelerando significativamente o desenvolvimento de novos tratamentos.
Já na Educação, a IA permite um aprendizado aprimorado e personalizado, ao analisar o progresso de cada aluno e, a partir desta análise, recomendar materiais e atividades específicos, aumentando a eficácia da aprendizagem.
No ambiente industrial, a IA tem suportado o aprimoramento da manutenção preditiva; a otimização de processos por meio de simulação; controle de qualidade; inovação de design e treinamento da força de trabalho.
Com tantas possibilidades contributivas, quais são os riscos associados à Inteligência Artificial então? De uma perspectiva global, para nos contrapormos à disparidade e evitarmos exclusões, será necessária uma atenção especial à infraestrutura, dados e talentos.
Isso porque a infraestrutura que se requer para treinar e manter sistemas de IA, geralmente, está além do alcance de países em desenvolvimento ou empresas menores. Os resultados gerados são fortemente influenciados pelos conjuntos de dados, insumo básico para a Inteligência Artificial e que, geralmente, sub-representam países menos desenvolvidos ou grupos demográficos.
Outro aspecto deriva do crescente uso de IA por indivíduos e organizações para tomada de decisões. Se os vieses presentes nas bases de dados não forem identificados e abordados adequadamente, podem ser gerados resultados discriminatórios.
Com relação aos talentos, é necessário reconhecer que as oportunidades educacionais e de mentoria necessárias para criar tecnologias de ponta como IA também necessitam estar ao alcance de estudantes de países em desenvolvimento.
Trabalhar todos esses elementos nos permitirá, como sociedade, extrair todo o potencial da Inteligência Artificial. É um esforço conjunto que envolve o setor privado, o setor público, a academia e a sociedade civil. Por isso, ao longo dos últimos 7 meses de trabalho, na força-tarefa de Transformação Digital, atuamos de forma integrativa, para evitar que cada recomendação feita ao G20 fosse um elemento independente. Assim, chegamos à inclusão digital e à cibersegurança, como dois elementos estruturantes fundamentais para qualquer tecnologia, inclusive a Inteligência Artificial.
No âmbito da relação do setor privado com o setor público, o B20 propõe que os governos trabalhem em prol da convergência global e interoperabilidade jurisdicional, incluindo terminologia e princípios comuns, apoiando-se em frameworks existentes para definir um conjunto compartilhado de padrões baseados em risco e evidências para uma IA ética, sustentável e inclusiva.
Outra recomendação importante é que os países do G20 estabeleçam clusters e ecossistemas nacionais e internacionais de inovação em IA que incentivem a colaboração entre empresas, instituições de pesquisa, startups e agências governamentais a fim de permitir que as organizações aprimorem suas capacidades e apoiem as agências governamentais na manutenção de um ambiente regulatório atualizado, permitindo experimentação controlada, dentro de uma estrutura definida.
Propõe-se também que talentos sejam desenvolvidos em programas educacionais somando universidades e instituições de pesquisa para criar uma força de trabalho qualificada em IA.
O que concluímos de toda essa jornada é que a tecnologia, independente de qual seja, é um meio. Ela é importante para resolver gargalos e superar restrições. Porém, a transformação se dá pela forma como a sociedade a adota. Nesse sentido, as políticas públicas sugeridas, ainda que elaboradas no contexto da Inteligência Artificial, levam a um conjunto de ações que podem ser aplicadas a quaisquer tecnologias que estejam em escala ou que venham a surgir. Assim, avançamos na jornada de fazer da Transformação Digital um catalisador para melhorar a qualidade de vida das pessoas.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2024/y/Q/0VeaqhT8qMM7xpSF24Fw/pexels-thisisengineering-3861969-1-.jpg)
Fonte: Valor Econômico