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Instituições de ensino estão lançando novos cursos de qualificação ou disciplinas inéditas em programas voltados para as lideranças do setor de saúde. A intenção é preparar médicos e executivos na condução de operações que enfrentam, cada vez mais, desafios ligados à gestão de pessoas, judicialização e à transformação digital nos expedientes.
Na Escola do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCX-FMUSP), uma das novidades apresentadas neste ano é o programa HC Líder. “O objetivo é desenvolver líderes de alto desempenho, em um cenário em constante evolução”, define Gisleine Eimantas, diretora-executiva do centro de aprendizagem.
É essencial que gestores de organizações públicas e privadas se adaptem à renovação na área da saúde, diante de novas tecnologias e legislações, continua Eimantas. O conteúdo inclui questões como transformação digital e judicialização — dados da Procuradoria-Geral e da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo indicam que o Estado gastou R$ 789 milhões no atendimento de pedidos judiciais para fornecimento de medicamentos em 2023, um aumento de 18% em relação ao ano anterior.
O HC Líder é composto por quatro MBAs, que abordam desde a gestão em inovação até a engenharia clínica. “Promovem a visão de experiências do HC e do mercado”, explica Eimantas. Os programas têm duração de 12 meses cada um e são destinados a gestores e pesquisadores que atuam ou desejam trabalhar em institutos de ciência, hospitais, redes de saúde e no governo. Um dos MBAs, de saúde digital, começa em setembro.
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Segundo a diretora da HCX, a escola criada em 2009 soma mais de 70 cursos de especialização lato sensu, 60 especializações com bolsa e dez programas de residência. Somente nas pós-graduações, recebeu mais de 18 mil alunos.
No entendimento de Marcelo Marinho Aidar, coordenador do MBA em gestão da saúde da Fundação Getulio Vargas (FGV), os principais desafios para as lideranças estão relacionados à capacidade de “ler” o ambiente externo de negócios, formular e implementar estratégias. “A competência em gestão é uma lacuna que muitos trazem da formação básica como especialista, mas que passa a ser fundamental quando é preciso liderar equipes ou gerenciar uma organização hospitalar”, analisa.
O MBA em gestão da saúde da GV existe desde 2021 e diplomou cerca de 480 alunos. Reforça desde os aspectos críticos para a administração de unidades públicas e privadas até assuntos como governança, detalha Aidar. O coordenador conta que, devido às mudanças na indústria de cuidados, pelo menos 16% do total de disciplinas do programa, como transformação digital e empreendedorismo, são novas ou foram incluídas a partir de 2020.
A maioria (70%) dos alunos do curso, de 432 horas/aula, são médicos, distribuídos entre homens e mulheres, na faixa de 30 a 40 anos. “Estão prestes a assumir ou já ocupam um cargo de liderança em organizações de saúde”, diz Aidar. Uma nova turma começa em outubro.
Patrícia Gabriela Viana Mantoanelli, CEO da clínica Bibancos Odontologia, concluiu um MBA em gestão da saúde no ano passado e relata que a experiência acrescentou métodos às atividades que já realizava. “Hoje, percebo que a minha visão de planejamento é muito mais clara e ordenada, o que impacta positivamente os resultados do trabalho”, diz.
Flávia Nielsen, gerente de programas em gestão do ensino do Einstein, unidade de educação da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, pontua que os líderes precisam olhar com mais atenção para a gestão de pessoas. Prova disso é que a unidade desenhou, no ano passado, o curso hard e soft skills para a liderança na saúde, focado no desenvolvimento de novas competências.
Para 2025, um dos cursos planejados é o Certificate em mentoria, indicado para profissionais que desejam se aprimorar como protagonistas na evolução dos liderados. “A mentoria é um método eficaz de aprendizagem e promove o desenvolvimento tanto para quem recebe a orientação como para aqueles que a fornecem”, compara a gerente.
Nielsen conta que o Centro de Ensino em Gestão, aberto em 2019, reúne um portfólio de mais de 130 cursos, desde programas de curta duração, pós e MBAs. Já formou mais de 24 mil alunos, sendo oito mil somente em 2023. “Por meio da educação continuada, transmitimos a expertise de gestão do Einstein”, afirma. A partir de setembro, começa uma nova leva de treinamentos, em frentes como auditoria de serviços e gestão de projetos.
Leila Barbosa, coordenadora do MBA em gestão para médicos do Instituto de Educação Médica (Idomed) —composto pelas faculdades Estácio, Fameac, Famejipa, Fapan e Unifacid —, diz que é preciso responder às novas necessidades das chefias.
“Há uma crença de que médicos e escolas de medicina estão preocupados em atender demandas de capacitação técnica, mas pouco se fala sobre gestão de conflitos, de finanças ou logística, questões com as quais os profissionais precisam lidar quando chegam num posto de decisão”, observa Barbosa.
O Idomed, que reúne 17 escolas médicas com mais 8,5 mil alunos, oferece o MBA gestão para médicos desde 2022. As 27 disciplinas da grade, segundo Barbosa, são distribuídas em módulos, como visão global do negócio de medicina e experiência do paciente. Recentemente, foram incluídas cadeiras como legislação e inteligência artificial aplicadas à área médica. Os alunos são médicos que têm, em média, de 37 a 60 anos de idade, com 10 a 20 de experiência profissional, relata.
Na visão de Samuel Barros, reitor do Ibmec Rio de Janeiro, que inaugurou em abril o MBA em gestão de saúde, os interessados que procuram a qualificação são, na maioria, jovens que planejam conquistar postos de comando mais elevados. De acordo com ele, a turma tem profissionais com cerca de 30 anos de idade que ocupam posições de coordenação e gerência.
Para Barros, além das habilidades de administração, os gestores devem investir no desenvolvimento de competências emocionais. “Ser líder em um ambiente de saúde requer características ligadas à sensibilidade”, afirma. “A empatia, por exemplo, é importante para entender a dor do colaborador que precisa dar uma notícia pouco agradável às famílias dos pacientes.”
Fonte: Valor Econômico