A inflação nos Estados Unidos subiu para 2,9%, o nível mais alto desde janeiro, em um sinal de uma tendência de alta há muito prevista por economistas, à medida que as empresas americanas começam a repassar os custos das tarifas e outras políticas do presidente do país, Donald Trump, pressionam os preços.
Na comparação mensal, o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) avançou 0,4% em agosto, também a maior alta desde janeiro, na sequência de um avanço de 0,2% em julho. O indicador foi puxado pela alta de 0,4% no custo da habitação, que inclui aluguéis e quartos de hotel. Os alimentos aumentaram 0,5%, sendo que o custo da alimentação em casa subiu ainda mais, 0,6%.
Os números vieram praticamente em linha com as expectativas dos mercados, que já estimavam o impacto tarifário. Economistas consultados pela Reuters previam uma alta de 0,3% em agosto, em comparação com o mês anterior, e de 2,9% em 12 meses.
As tarifas elevaram os preços de diversos itens taxados por Trump, como o café (alta de 3,6% ante julho), cujo principal fornecedor para os EUA é o Brasil — alvo de uma alíquota de 50%, a mais alta da guerra comercial. Os preços da carne bovina também tiveram forte alta (2,7% na comparação mensal), resultado do impacto combinado das tarifas e das secas anteriores que assolaram o rebanho americano.
Outra política de Trump também está pressionando os preços para cima, segundo analistas. A escassez de mão de obra nas fazendas, em razão da deportação de imigrantes sem documentos pelo governo Trump, também teve influência no encarecimento dos alimentos.
“Frutas e vegetais frescos subiram quase 2% em um mês. Isso é impressionante”, afirmou Dean Baker, fundador do Centro de Pesquisa Econômica e Política em entrevista à CNN. “Isso se deve às deportações em massa e às tarifas”.
Até então, o repasse das taxas pelas empresas estava sendo gradual, mas agora muitas delas esgotaram os estoques que construíram antes da entrada do início da guerra comercial. Pesquisas recentes com empresas já vinham sinalizando aumentos iminentes de preços.
Fora o impacto sobre os alimentos, as tarifas também estão fazendo com que outros produtos fiquem mais caros, como roupas, peças automotivas e elétricos, em um momento em que o mercado de trabalho nos EUA parece cada vez mais frágil.
Os preços das roupas subiram 0,5% em agosto, assim como os produtos de vídeo e áudio. Já as peças automotivas ficaram 0,6% mais caras, enquanto os preços de carros novos cresceram 0,3%.
“As evidências de que mais inflação ligada às tarifas está chegando são esmagadoras, embora ainda ela possa levar alguns meses até se materializar plenamente”, disse Stephen Stanley, economista-chefe do Santander U.S. Capital Markets.
Os economistas, porém, estão divididos se o repasse das tarifas será um evento pontual ou prolongado. Os que avaliam que o impacto será de menor magnitude argumentam que o mercado de trabalho mais fraco manterá os salários mais baixos e forçará as empresas a evitar novos aumentos nos preços.
Excluindo alimentos e energia, cujos preços são mais voláteis, o IPC subiu 0,3%, repetindo julho. O chamado núcleo da inflação foi puxado por custos mais altos da habitação e das tarifas aéreas. O componente conhecido como equivalente de aluguel dos proprietários aumentou 0,4%, enquanto os preços de hotéis saltaram 2,3%. As tarifas aéreas subiram ainda mais, 5,9%, enquanto os preços de carros e picapes usados tiveram elevação de 1,0%.
Nos 12 meses até agosto, o núcleo da inflação avançou 3,1%, mesmo resultado de julho.
Um relatório também divulgado nesta quinta-feira (11) pelo Departamento de Trabalho mostrou que os pedidos iniciais de seguro-desemprego, um indicador de demissões, subiu de 27 mil para 263 mil, o maior número em quase quatro anos, mas o resultado pode ter sido impactado pelo feriado do Dia do Trabalho.
No entanto, dados recentes também mostraram que o número de contratações desacelerou vêm desacelerando drasticamente neste ano e que foram criados 911 mil empregos a menos em 12 meses até março do que o estimado anteriormente.
“Suspeitamos que o aumento dos custos decorrentes das tarifas manterão o ritmo mensal da inflação elevado até o início do próximo ano, mas o impacto na inflação de serviços deve ser limitado pela fraqueza do mercado de trabalho, consumidores mais exigentes e expectativas de inflação estáveis”, afirmou Sarah House, economista do Wells Fargo.
No entanto, economistas afirmam que a combinação de aumento da inflação e de deterioração das condições do mercado de trabalho poderia realimentar os temores de estagflação no país.
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Fonte: Valor Econômico

