Por Fernanda Simas e Pedro Borg, Valor — São Paulo
15/08/2023 16h37 Atualizado há 12 horas
A inflação na Argentina voltou a acelerar e foi de 6,3% em julho, ante 6% do mês anterior. Em meio as incertezas que cresceram após a vitória do ultradireitista Javier Milei nas primárias presidenciais de domingo, a grande preocupação agora é com a inflação de agosto e setembro — que, segundo analistas, deve chegar aos dois dígitos.
Com a inflação de 6,3% de julho, divulgada nesta terça-feira (15) pelo instituto oficial de estatísticas Indec, a alta anual chegou a 113,4%. Em junho, foi de 115,6%.
No cenário econômico alimentado pela tensão eleitoral, a cotação do dólar paralelo (blue), fechou ontem em 730 pesos — um dia depois de o banco central ter elevado a taxa oficial do dólar em 22%, para 350 pesos a unidade.
A alta da inflação de julho já era prevista após o pacote cambial implementado pelo governo no mês passado — o próprio governo argentino tinha admitido que as medidas cusariam uma alta no preço da carne.
Desde janeiro, a inflação argentina acumula 60,2% e está entre uma das mais altas do mundo. O setor que teve a maior alta no mês foi o de comunicações, com 12,2%, consequência do aumento nos serviços de telefonia e internet, seguido pelo setor de lazer e cultura, com 11,2%, puxado pela subida de preços dos pacotes turísticos, segundo o Indec.
“Para agosto, em razão do impacto da desvalorização [do peso], o mercado prevê uma cifra entre 8% e 10%. Neste mês, no máximo em setembro, projeta-se que a inflação chegue a dois dígitos. Quando isso ocorre, todos os setores são afetados”, explica o consultor econômico Gustavo Marangoni.
“A inflação de julho está dentro do previsto. Prevíamos 6,6%. Para agosto, estamos prevendo uma inflação de 10% a 11%. Aqui consideramos o impacto do câmbio impositivo aos impostos, além do salto do dólar. Os dados das duas primeiras semanas do mês embasam essa avaliação”, afirma o economista Nicolás Alonzo, da Orlando J. Ferrerés & Associados.
Com a desvalorização feita pelo banco central, os analistas agora preveem que no fim deste ano, a inflação acumulada em 12 meses fique entre 150% e 160%. “As previsões para o futuro não são boas. Se a inflação anualizada estava em torno de 140% até dias atrás, agora é factível pensar que passará de 160%”, diz Marangoni.
“Para o fim do ano, prevemos uma inflação de 150%, quase 12 pontos mais do que observávamos no mês passado”, afirma Alonzo.
O principal impacto econômico da inflação neste momento é a falta de produtos. “Há setores que estão parados, como automotivos, sem listas de preços, esperando para ver se a situação do dólar se estabiliza ou se continua a sensação de incerteza que caracterizou os dois primeiros dias da semana.”
Nesta terça, o governo anunciou a suspensão da exportação de carne por 15 dias para renegociar os preços praticados pelos frigoríficos locais após a alta na taxa de câmbio. A medida foi anunciada pela Secretaria do Comércio e só será suspensa depois que o governo fechar novo acordo de preços.
A Casa Rosada busca discutir com produtores alternativas para conter o aumento do preço interno do produto. A negociação está sendo mediada pelo Consórcio de Exportadores de Carnes Argentinas, a principal do país.
Atualmente os principais produtores de carne da Argentina praticam preços segundo o acordo firmado pelo Programa Precios Cuidados, que represa o preço de diversos produtos do país, em uma tentativa de conter a inflação.
A desvalorização do peso foi uma reação ao resultado das primárias. Milei ficou com 30% dos votos, seguido da coalizão de centro-direita Juntos por el Cambio, com 28,3% — liderada por Patricia Bullrich. A frente governista Unión por la Patria, liderada pelo ministro da Economia, Sergio Massa, ficou com 27,3%.
Fonte: Valor Econômico

