Por Anaïs Fernandes — De São Paulo
07/12/2023 05h01 Atualizado há 5 horas
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Revisões recentes do Produto Interno Bruto (PIB) nominal do Brasil devem reduzir em cerca de um ponto percentual a série da dívida bruta/PIB do país, estimam economistas. Eles ponderam que essa pode até ser uma mudança de nível benéfica, mas a tendência preocupante de um endividamento crescente se mantém. Além disso, decisões envolvendo os precatórios podem compensar parte dos ganhos conjunturais.
Ontem, o Banco Central divulgou que a dívida bruta do Brasil subiu 0,3 ponto percentual em outubro, para 74,7% do PIB. Com o resultado de revisões e novas informações apresentadas pelo IBGE recentemente – a respeito das contas nacionais trimestrais até setembro de 2023 e das contas anuais de 2021 -, o PIB a preços correntes nos últimos 12 meses até setembro está 1,37% superior à estimativa utilizada pelo BC, segundo Fernando Montero, economista-chefe da Tullet Prebon.
Como o PIB nominal é o denominador da relação dívida/PIB, um valor maior ajuda a reduzir o nível do endividamento do país.
Assim, a expectativa de Montero era que o BC revisasse a dívida/PIB de setembro de 74,37% para 73,7%, e a de outubro, de 74,7% para 73,7% do PIB. Isso não aconteceu na divulgação de ontem, na sua avaliação, porque não deu tempo de a autoridade monetária incorporar os novos dados do IBGE. Esses ajustes na série, diz Montero, devem ocorrer na próxima publicação.
O PIB nominal avançou porque o seu deflator implícito – espécie de inflação mais geral da economia, não apenas ao consumidor, como é o IPCA – tem vindo maior. Nas contas anuais de 2021, revisadas recentemente pelo IBGE, o crescimento real daquele ano diminuiu de 5% para 4,8%, mas o deflator passou de 11,4% para 13%, segundo Montero. Um deflator de 2021 “muito acima do inicialmente estimado”, diz, puxa para cima toda a série nominal.
Além disso, nesta semana, foi a vez de as contas trimestrais acrescentarem mudanças modestas para o PIB real de 2022 (de 2,9% para 3%), mas mais fortes para o deflator (de 8,2% para 8,5%).
Montero nota que a economia real (descontada a inflação), na verdade, avança menos depois das revisões. Entre o segundo e o terceiro trimestre deste ano, subiu 0,15%, mas o patamar real do segundo trimestre foi rebaixado 0,22%. “O nível real da economia no terceiro trimestre estava abaixo do patamar anterior do segundo trimestre, antes da revisão de todas as séries de 2021”, explica.
Tudo o mais constante, as revisões de PIB nominal na série devem diminuir a dívida bruta/PIB de 2021 de 78,3% para 77,3%, enquanto o indicador de 2022 cairá de 72,9% para 71,7%, estima Roberto Secemski, economista-chefe para Brasil do Barclays.
Para este ano, ele prevê uma dívida/PIB em 74,4%, já incorporando a última revisão do IBGE, mas ainda sem considerar os pagamentos dos precatórios.
“Ajuda na foto, mas a tendência ainda é de alta ao longo do tempo” — Tiago Sbardelotto
Depois da autorização do Supremo Tribunal Federal (STF), o governo corre para quitar, até o fim do ano, os pagamentos represados, em um valor que ronda R$ 95 bilhões. Secemski estima um pagamento único no valor equivalente a 0,9% do PIB, o que elevaria a dívida/PIB deste ano da sua projeção atual para 75,3% e a de 2024 para 78,4%, de 77,8% previsto.
Do ponto de vista da dívida bruta, “a queda causada pelo aumento do PIB nominal pode ser compensada pelo próximo pagamento da ‘bola de neve’ dos precatórios”, afirma o economista do Barclays.
Secemski e Montero calculam que o deflator do PIB cresceu 3,3% no terceiro trimestre deste ano, ante igual período de 2022. Há um ano, o deflator subia 8,6%.
Apesar da melhoria contínua no deflator dos serviços – de 10,2% no terceiro trimestre de 2022 para 5,8% em 2023 -, ele continua a rodar acima de todas as outras categorias, destaca Secemski. “Não chega a ser uma surpresa, e está desacelerando, o que é bom. Mas o deflator de serviços mostra um pouco mais de inércia”, diz. Isso é um freio a mais, na sua avaliação, para o Banco Central pensar em acelerar o ciclo de cortes da Selic.
Com a atualização do PIB nominal, considerando a revisão da série do IBGE, a projeção da XP para a dívida/PIB em 2023 passou de 75,6% para 74,1%, sem incluir ainda eventuais efeitos dos precatórios. “Vale ressaltar que esse é o efeito apenas do PIB. Além disso, houve uma redução de nível, que ajuda na foto, mas a tendência ainda é de alta ao longo do tempo”, afirma Tiago Sbardelotto, economista da XP.
Fonte: Valor Econômico

