Por John Reed, Eleanor Olcott e Joe Leahy, Financial Times — Nova Déli, Hong Kong e Rudong (Jiangsu)
19/04/2023 10h48 Atualizado há 13 horas
A Índia vai ultrapassar a China como país mais populoso do mundo em meados deste ano, disse a Organização das Nações Unidas (ONU), marcando um momento histórico para os rivais asiáticos.
A população da Índia vai superar a marca de 1,428 bilhão em meados deste ano, ficando pouco acima dos mais de 1,425 bilhão de pessoas da China, onde as taxas de fertilidade estão caindo, segundo o Painel da População Mundial, elaborado pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA, na sigla em inglês), divulgado ontem.
O crescimento da população é tema politicamente delicado na China e na Índia, e ambos os governos foram contidos em suas respostas ao marco demográfico.
“Quero dizer a vocês que os dividendos populacionais não dependem apenas da quantidade, mas também da qualidade”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, ontem em Pequim. “Nosso dividendo populacional não desapareceu, nosso dividendo está se formando e o ímpeto de desenvolvimento é forte.”
O porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da Índia não comentou o assunto de imediato.
Não é possível prever a data exata da inversão com nenhum grau de precisão, porque os dados populacionais são baseados em estimativas. A ONU já havia indicado amplamente que a população da Índia estava a caminho de ultrapassar a China.
Em 2022, a população da China caiu pela primeira vez em 60 anos, com as mortes superando os nascimentos, deixando o país com um total de 1,41 bilhão de habitantes, segundo estimativa de Pequim.
A taxa de natalidade da China vem diminuindo há muito tempo, em parte pela adoção bem-sucedida da política do filho único em 1980, que limitava a quantidade de filhos permitido por casal a um número abaixo da média necessária para a estabilidade da população de um país, de 2,1 filhos, conhecida como “taxa de substituição”. Pequim já abrandou essa política, mas o número de nascimentos na China continua em queda.
Peng Xizhe, professor de população e desenvolvimento na Universidade de Fudan, disse que o ponto de inflexão entre os dois países chega um pouco antes das previsões originais dos demógrafos chineses, por volta de 2025.
Ele acrescentou que maiores oportunidades para os mais jovens na China, particularmente no ensino superior, “resultaram em casamentos e filhos mais tarde e uma proporção relativamente maior da população querendo permanecer solteira”.
Na Índia, a taxa de crescimento populacional atingiu um pico de 2,4% na década de 1980 e caiu para 1% em 2020, segundo uma funcionária da ONU. Ela acrescentou que o ritmo de crescimento em 31 de seus 36 Estados está agora na taxa de substituição ou em declínio.
Mas a população geral da Índia continua crescendo por causa das taxas de fertilidade mais altas nos cinco Estados restantes. Especialistas preveem que o país atingirá seu pico populacional em algum momento em meados deste século.
“A Índia se deparará com uma situação de impulso populacional pelos próximos 20 a 30 anos antes de ter um declínio da população geral”, disse Andrea Wojnar, representante do UNFPA na Índia. Ela acrescentou que as projeções populacionais oficiais, usando os dados de base do último censo nacional do país em 2011, deram uma “boa aproximação da população total e sua estrutura idade-sexo”.
Alguns analistas preveem que o crescimento populacional poderá trazer dividendos econômicos à Índia, caso o país consiga aproveitar os talentos e habilidades de uma força de trabalho em crescimento e relativamente jovem.
Rory Green, economista-chefe para a China da empresa de pesquisas TS Lombard, disse que o anúncio da ONU “se soma à narrativa da ‘China em desaceleração e Índia em crescimento’, que é importante para investidores quando decidem sua alocação para os mercados emergentes”.
Apesar das mudanças demográficas, ele acrescentou que a economia da China ainda continuará muito maior que a da Índia. Com base em seus cálculos, se a China parasse de crescer em 2023 e a economia da Índia crescesse 10% ao ano, ainda levaria quase 20 anos para ser alcançada.
A Índia está buscando se aproveitar da reorientação das cadeias de fornecimento para fora da China e, no ano passado, passou o Reino Unido e se tornou a quinta maior economia do mundo.
Ainda assim, a Índia fica atrás da China em investimento estrangeiro direto e em seu próprio investimento em infraestrutura, e enfrenta dificuldades para criar empregos suficientes para milhões de jovens que entram em sua força de trabalho todos os anos.
O desemprego tem aumentado apesar do status do país como a grande economia com maior crescimento do mundo neste ano, o que representa um desafio para o governo do primeiro-ministro, Narendra Modi, que se prepara para buscar um terceiro mandato nas eleições de 2024.
“A Índia precisa usar a janela de oportunidade do dividendo demográfico atualmente disponível, mas não poderá fazê-lo se o ritmo de investimento for lento”, disse Poonam Muttreja, diretora executiva da organização não governamental Fundação População da Índia (PFI). “Isso significa que a Índia terá que trabalhar num ritmo mais rápido e investir nas pessoas — especialmente nos jovens.”
A atualização das estimativas populacionais vem acompanhada do relatório anual Situação da População Mundial, elaborado pelo UNFPA, principal agência mundial encarregada de rastrear as tendências demográficas. O relatório alerta para crescentes “ansiedades populacionais”, uma vez que o número total de habitantes no mundo ultrapassou a marca de 8 bilhões.
Fonte: Valor Econômico
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