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O Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, está pronto para cortar as taxas de juros pela primeira vez desde 2020. O tamanho do corte – e onde as taxas estarão daqui a três meses – é uma incógnita.
Os operadores atribuem uma chance quase igual de o banco central anunciar um corte de 0,25 ou de 0,5 ponto porcentual ao fim de sua reunião na quarta-feira.
O clichê de que os investidores odeiam incertezas tem se mostrado verdadeiro desde o início de agosto, quando sinais de enfraquecimento do mercado de trabalho desencadearam um debate sobre a possibilidade de o Fed ter esperado demais para cortar juros. Os mercados de ações e de bônus tornaram-se voláteis após um ano que vinha se mostrando notavelmente calmo.
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Os investidores agora tentam discernir se dados econômicos recentes mostram simplesmente uma economia aquecida voltando ao normal ou um vislumbre inicial de recessão. Analistas afirmam que os mercados de ações e bônus parecem discordar sobre a resposta.
Essa desconexão antecede uma das mais aguardadas reuniões do Fed na memória recente. Os investidores vão observar atentamente a entrevista coletiva do presidente Jerome Powell em busca de comentários sobre a economia, juntamente com o chamado gráfico de pontos, em que as autoridades projetam as taxas de longo prazo.
“Os mercados andam tensos nos últimos dois meses”, diz Rick Rieder, diretor de investimentos de renda fixa da BlackRock. “Os bônus se moveram rapidamente de uma visão otimista para uma recessão.”
Operadores de derivativos de juros agora precificam uma taxa básica de juros de cerca de 2,75% até o fim do ano, abaixo dos atuais 5,25%. Isso equivaleria a dez cortes de 0,25 ponto – algo que o Fed provavelmente só faria em resposta a uma recessão.
Enquanto isso, as ações oferecem uma visão muito mais otimista. O S&P 500 registrou várias quedas grandes em um único dia nas últimas seis semanas, mas se recuperou todas as vezes. O índice acumula alta de 18% no ano e está a apenas 0,7% de seu nível recorde.
Analistas afirmam que o mercado de ações reflete o otimismo de que o Fed conseguirá evitar uma recessão. Os índices de ações também estão sendo estimulados por lucros enormes nas empresas de tecnologia, que alguns afirmam estarem menos expostas ao destino da economia em geral.
Então, qual visão está correta? Muitos investidores veem paralelos com o fim de 2023, quando o mercado de bônus rapidamente precificou seis cortes de juros para 2024.
“Acho que o mercado tende a ir para os extremos”, acrescenta Rieder. “Não vejo muitas evidências de que a economia americana caminha para uma recessão, pelo menos no curto prazo.”
Os dados econômicos têm sido variados ultimamente. As contratações em julho e julho foram mais fracas do que o inicialmente relatado, mas o crescimento das folhas de pagamento melhorou em agosto. A taxa de desemprego subiu ligeiramente, mas segue em um nível saudável de 4,2%. As demissões têm sido raras: os pedidos semanais mais recentes de seguro-desemprego ficaram mais ou menos no mesmo nível de um ano atrás.
O relatório do índice de preços ao consumidor (CPI) na semana passada mostrou que a inflação esfriou para 2,5% em agosto, o quinto mês seguido de queda e o menor aumento desde o começo de 2021. E a atividade industrial desacelerou, com os dados mostrando demanda moderada.
Os rendimentos dos bônus de curto prazo, que refletem as expectativas dos operadores quanto ao rumo das taxas referenciais de juros, caíram vertiginosamente desde o começo do terceiro trimestre. O rendimento dos Treasuries de dois anos caiu para 3,575% na sexta-feira, o menor nível do ano.
Os rendimentos de longo prazo também estão em queda, com o do Treasury de dez anos em 3,648%, menos de um ponto porcentual abaixo do patamar de alta registrado em abril. Os rendimentos dos bônus caem conforme seus preços sobem, e os investidores nervosos que correm para os ultrasseguros Treasuries podem derrubar ainda mais os rendimentos.
“O mercado de bônus parece estar precificando muito mais cortes nos juros do que seria garantido se víssemos um pouso suave com crescimento de 2% do PIB”, diz Alicia Levine, chefe de estratégias de investimentos e ações do BNY Wealth. “Acho que ele tende a exagerar no número de cortes e depois recua, conforme os dados que sugerem o contrário vão chegando.”
Embora poucos em Wall Street estejam prevendo uma recessão em breve, a maioria concorda que esse risco agora é maior agora do que parecia há alguns meses.
Os consumidores de renda mais baixa, em particular, estão dando sinais de estresse, e a inadimplência em cartão de crédito e no financiamento para compra de automóveis aumentou. Embora as maiores companhias de capital aberto tenham sido amplamente protegidas do impacto dos juros mais altos, graças às suas grandes posições de caixa, as empresas menores que dependem mais do endividamento sentiram o aperto das despesas com juros maiores.
David Kelly, principal estrategista global da J.P. Morgan Asset Management, diz que os cortes de juros acentuados nos mercados futuros são um reconhecimento desse risco adicional.
“Vejo dois resultados possíveis aqui: teremos um pouso suave e o Fed conseguirá reduzir lentamente as taxas de juros, como pretende. Ou, talvez haja uma chance de 30% de tudo dar terrivelmente errado, mergulharmos em uma recessão e o Fed entrar em pânico e cortar de forma agressiva”, diz Kelly. “Acho que o que estamos vendo no mercado futuro é uma espécie de média ponderada dessas duas visões.”
Fonte: Valor Econômico

