A rápida valorização do iene, que avançou mais 1% ontem em relação ao dólar, vem pressionando moedas de vários países pelo mundo. Os analistas atribuem a mudança a uma reversão nas operações globais de “carry trade”, que se financiam em moedas de mercados com juros baixos – caso do iene – para aplicar em divisas de rendimento mais elevado, como real, peso mexicano e dólar australiano e neozelandês.
O iene subiu ontem pelo terceiro dia consecutivo e já acumula uma alta de quase 5% desde que atingiu a mínima em quase quatro décadas, em 3 de julho, após o fim dos juros negativos no país. A moeda japonesa rompeu o limiar psicológico de 155 unidades por dólar, ultrapassando a chamada média móvel de 100 dias pela primeira vez desde meados de março.
A suspeita de intervenção no câmbio no início deste mês ajudou a impulsionar a recuperação da moeda japonesa, juntamente com comentários sobre a fraqueza excessiva do iene por parte do ex-presidente Donald Trump e de altos membros do partido do governo no Japão.
Agentes de mercado também consideram uma possível alta de juro pelo Banco do Japão (BoJ) na próxima semana, o que prejudicaria o apelo do iene como moeda de financiamento para “carry trade”.
O cenário está “potencialmente apertando as posições vendidas [que apostam na baixa] em ienes, dado que o ‘carry trade’ tem sido uma estratégia popular nos últimos anos”, escreveu Charu Chanana, chefe de estratégia de câmbio da Saxo Capital Markets, em nota.
“O iene subiu mais de 4% em relação ao dólar americano, com o Fed facilitando as apostas, coincidindo com as expectativas de que o Banco do Japão poderá aumentar ainda mais as taxas na reunião de julho. Esta mudança potencial nos diferenciais de juros favorece o iene”, completou.
As taxas de juro ultrabaixas no Japão fizeram do iene uma fonte de financiamento popular nos últimos anos para “carry trade”. Essas operações estão sendo desfeitas conforme os investidores apostam em mais aumento nas taxas de juros no Japão e na possibilidade de mais intervenções por parte das autoridades japonesas.
“Esta semana assistimos a uma reversão mais pronunciada de ‘carry trades’, sublinhando a concentração do posicionamento vendido em iene que agora enfrenta uma pressão mais intensa da intervenção”, disse Richard Franulovich, chefe de estratégia cambial do Westpac Banking. “Os políticos locais tornaram-se mais vocais em torno dos perigos econômicos decorrentes da fraqueza do iene.”
O secretário-geral do Partido Liberal Democrata (LPD), Toshimitsu Motegi, juntou-se esta semana ao ministro da Transformação Digital, Taro Kono, no apelo a taxas de juro mais elevadas para conter a fraqueza do iene. Os comentários de Kono e Motegi, do LDP, aumentam o sentimento de cautela sobre um possível aumento das taxas do BoJ”, disse Keiichi Iguchi, estrategista sênior da Resona Holdings. Juntamente com as suspeitas de intervenções no iene no início deste mês, “um aumento da taxa do BoJ poderia marcar o fim da fraqueza do iene”. Trump disse em entrevista à Bloomberg Businessweek que os EUA têm um “grande problema cambial” devido à fraqueza do iene e do yuan. Isso ampliou a perspectiva de que ele possa agir para enfraquecer o dólar se vencer as eleições.
Fonte: Valor Econômico

