Por Rafael Vazquez e Larissa Garcia — De São Paulo e de Brasília
16/09/2022 05h02 Atualizado há 4 horas
O resultado bem acima do esperado do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) em julho surpreendeu os economistas consultados pelo Valor, que colocaram viés de alta para o desempenho da economia brasileira no terceiro trimestre depois dos dados.
O indicador subiu 1,17% em julho, na comparação dessazonalizada com junho, conforme divulgado ontem pela autoridade monetária. O número veio acima da mediana das estimativas colhidas pelo Valor Data, de crescimento de 0,40%, e também superou bastante o teto das projeções, que era 0,60%. Além disso, o crescimento de junho foi revisado para cima – de 0,69% para 0,93% na comparação dessazonalizada com maio.
“Nossa projeção hoje para o terceiro trimestre é crescimento de 0,6% ante o trimestre anterior, mas agora o viés é de alta. Pode chegar mais próximo de 1%, talvez 0,8%”, disse o economista da Rio Bravo Investimentos Luca Mercadante. “É possível que nossa projeção já esteja um pouco conservadora, porque ainda vemos a desaceleração chegando por causa da política monetária restritiva.”
Ele pondera, porém, que o IBC-Br reforça a percepção de que a desaceleração será mais lenta e gradual do que o mercado previa e observa que, a partir de agosto, será preciso avaliar os efeitos dos auxílios liberados pelo governo federal – aumento do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 e os “vouchers” pagos a taxistas e caminhoneiros.
Segundo Mercadante, o efeito mais forte do que o previsto da reabertura econômica após o fechamento provocado pela covid, que tem favorecido especialmente o setor de serviços, e os estímulos fiscais contínuos lançados pelo governo explica em grande parte as frequentes revisões que os economistas estão fazendo sobre a atividade desde o começo de 2022. Nesse sentido, o IBC-Br de julho fortalece a percepção de que o PIB, no fim do ano, deve se aproximar mais a 3%.
O fato tem dado gás para que o ministro da Economia, Paulo Guedes, critique os economistas do mercado em praticamente todos os seus discursos recentes, lembrando que projetavam estagnação ou até queda do PIB esse ano. Contudo, segundo o índice do Banco Central, a atividade econômica teve alta de 3,87% em julho em relação ao mesmo período do ano passado e anota alta 2,09% nos últimos 12 meses. No acumulado de janeiro a julho, a elevação foi de 2,52%.
“Ainda acreditamos que a desaceleração venha porque temos um caminho de juros muito alto para percorrer”, explica Mercadante. “As cornetas do Paulo Guedes, no fim das contas, vêm por duas questões. Lidamos no primeiro semestre com um efeito que era difícil quantificar, que era esse efeito de reabertura. E houve uma série de impulsos fiscais que foram dados ao longo do ano e forçaram as revisões.”
Rodolfo Margato, economista da XP, que espera que o trimestre entre julho e setembro termine com crescimento de 3,5% na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, mantém a projeção, mas já colocou um viés de alta para o cenário. Ele destacou que a surpresa do dado de julho pode ter sido consequência da melhora acentuada na produção agrícola mensalizada e fortes resultados líquidos do setor externo. “Podem ter exercido contribuição relevante”, escreveu Margato.
Já o economista-chefe do Banco Original, Marco Caruso, chamou a atenção para dados que sinalizam um setor de serviços menos vibrante a partir de agosto. “O indicador do iGet Serviços, do Santander e Getnet, apontou retração nos serviços prestados às famílias em agosto.
Paralelamente, o PMI [índice de compras dos gerentes, produzido pela IHS Markit ] aponta retração de 55,8 em julho para 53,9 em agosto, enquanto a confiança no setor de setor de serviços da FGV apontou leve recuo de 0,2 ponto percentual no mesmo período”.
Por outro lado, ele também destaca que os auxílios podem exercer um efeito difícil de detectar previamente.
Fonte: Valor Econômico

