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Após os movimentos recentes de fusão de hospitais entre Dasa e Amil e Rede D’Or com Bradesco Seguros, o setor de saúde começa a traçar cenários e os próximos passos. Apesar do momento ainda não ser propício para aquisições, há potencial para novas operações nesse mercado.
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Há ativos no radar e consolidadores menos alavancados e maior fôlego de capital de giro como a companhia da família Moll, controladora da Rede D’Or, e Hapvida podem seguir em novas frentes.
Levantamento da butique de investimentos BR Finance mostra que 139 hospitais já foram adquiridos pelos grandes grupos. Hoje, há cerca de 270 unidades ainda na mão de seus fundadores e são ativos situados em cidades com mais de 200 mil habitantes. Desse total, 96 têm mais de 100 leitos e 176 possuem entre 50 e 100 unidades de internação.
No alvo, contudo, estão ativos de negócios de gestão profissionalizada, que oferece menos risco.
Segundo fontes, há interesse do mercado pelo Grupo Santa, rede com seis unidades, entre eles o Hospital Santa Lúcia, referência em Brasília. No ano passado, a Bradesco Seguros adquiriu 20% da rede e não há preferência da seguradora para aquisição do restante. Em geral, a seguradora tem o controle de seus ativos como, por exemplo, Fleury e OdontoPrev. No entanto, no setor hospitalar, a Bradesco Seguros vem optando por ter fatias de cerca de 50% em sociedade com diferentes grupos como Mater Dei, Albert Einstein e Rede D’Or – essas empresas ficam responsáveis pela gestão hospitalar, que não é o seu “core business”.
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O mercado ainda observa as redes Hospital Care, dos fundos Crescera e Abaporu (da família do empresário Elie Horn, fundador da Cyrela), e a Kora, controlada pela gestora de private equity (que compra participações em empresas) H.I.G. Mas em ambos os casos o interesse é por alguns de seus hospitais, não o grupo todo – o que acaba sendo uma decisão difícil para o controlador ficar apenas com os ativos de menor liquidez.
A Kora vale na bolsa cerca de R$ 540 milhões e alguns de seus hospitais conseguem ser negociados por cifras maiores. O grupo é dono da rede Meridional, dona de sete unidades no Espírito Santo, e do Hospital Anchieta, em Taguatinga (DF). São ativos com um bom número de leitos em suas respectivas praças e marcas reconhecidas.
A Kora vive um impasse entre minoritários e o controlador que tenta tira-lá do Novo Mercado com uma oferta pública de ações (OPA) a R$ 0,70 – o que desagrada aos menores acionistas. “Uma das soluções seria mesmo vender ativos, mesmo que a companhia fique menor para desalavancar”, diz uma fonte a par do assunto.
Já a Hospital Care, rede com presença em seis cidades do país, tentou uma abertura de capital em 2021 e negociou vender cerca de um terço à Bradesco Seguros em 2022, mas as negociações não avançaram. Desde o ano passado, seu principal ativo, o Hospital Vera Cruz, em Campinas (SP), tem um concorrente na beira de sua porta: a Rede D’Or ergueu um grande hospital a pouco metros.
Em 2023, a Hospital Care fechou com prejuízo de R$ 228 milhoes, um salto sobre os R$ 43,8 milhões apurados em 2022. O seu caixa operacional ficou negativo de R$ 150 milhões. No primeiro trimestre deste ano, houve uma melhora, o prejuízo caiu pela metade para R$ 22 milhões.
Há ainda movimentos de ativos adquiridos nos últimos anos que estão sendo vendidos. No ano passado, a Hospital Care vendeu o hospital de São José, o Austa, cujo controle havia sido comprado em 2020, para um grupo de Goiás. Em maio, a Mater Dei desfez a aquisição do Hospital Porto Dias, em Belém, que foi recomprado pelos fundadores. Essa operação, incorporada à companhia em 2021, vinha apresentando dificuldades de capital de giro e impactava negativamente o balanço da Mater Dei.
“Muitos ativos adquiridos na última onda de M&As ainda não conseguiram capturar as sinergias, fazer as integrações num mercado que passou por profundas mudanças nos últimos anos”, diz Luiza Mattos, sócia da Bain & Company.
O sócio da JGP, responsável pela área de fusões e aquisições da gestora, Fernando Kunzel, afirma que o tabuleiro de xadrez do setor está se movimentando, mas aguarda uma onda menos intensa da vista ao longo da pandemia, quando dezenas de operações ocorreram. Na sua expectativa, ainda existe uma desconexão de ‘valuations’, o que pode atrasar algumas transações. “Tem gente querendo comprar hospitais, mas a conta não está fechando. Teve hospital que foi adquirido a até 12 vezes o Ebitda e agora a oferta chega a seis vezes.”
A advogada Renata Rothbarth, sócia do escritório Machado Meyer, lembra que hoje o cenário da saúde é bem diferente daquele encontrado em 2021, quando houve um ‘boom’ de aquisições no setor. “Hoje, os consolidadores estão muito atentos aos acordos de credenciamento que os hospitais têm com as operadoras de planos de saúde”, diz Renata. Atualmente, um dos maiores problemas dos hospitais é o capital de giro devido ao alargamento de prazos de pagamento dos convênios médicos.
Outros ativos que podem gerar interesse são os hospitais que ficaram de fora da fusão entre Amil e Dasa. Segundo fontes, há interessados para venda dos hospitais Klinikum, em Fortaleza, e Promater, em Recife – ambos são da empresa de José Seripieri Filho, o Júnior.
Há também unidades da Dasa que não entraram no acordo e a companhia da família Bueno já informou a possibilidade de desinvestimento. São eles: hospitais da Bahia, em Salvador, São Domingos, no Maranhão, e a rede de clínicas oncológicas AMO, na Bahia.
Há uma expectativa de que esses ativos sejam, em algum momento, alvos de aquisições, uma vez que hospitais isolados, que não fazem parte de uma rede, não têm escala e rentabilidade. Estabelecimentos com menos de 150 leitos não são considerados rentáveis – na maior parte dos hospitais do país, esse número não chega a 50.
“Atualmente, há poucas combinações transformacionais e boa parte dos hospitais mais relevantes já foi adquirida pelos consolidadores”, diz a sócia do escritório Machado Meyer.
Ainda segundo fontes, são esperados movimentos vindo da Aliança, controlada pelo empresário Nelson Tanure, que fez oferta sem sucesso pela Amil. Há cerca de dois meses, a Oncoclínicas anunciou a entrada do banco Master, que costuma trabalhar com Tanure.
Enrico De Vettori, presidente da Gestão Hospitalar e sócio da HSI, afirma que o setor está, agora, se ajustando no pós-pandemia. “Estamos observando dois movimentos, um das empresas que estão se juntando para melhorar a eficiência e ter um balanço mais saudável e outro vindo daquelas que não querem se unir e estão buscando alternativas”, diz. Dentre elas, está a venda de ativos, incluindo a de “sale and leaseback”.
Maximo Lima, presidente da HSI, aponta que esse movimento vem na esteira de um ciclo de mercado em que o custo de capital no mercado estava muito barato, levando a um ciclo expansionista de muito grupos, por meio de aquisições. “Essa é uma indústria em transformação, saiu de um período duro [com reestruturação financeira] e está se rearrumando.”
O Grupo Santa informou que “em respeito às cláusulas de sigilo presentes em seus contratos”, não comentará sobre a sociedade que detém com a Bradesco.
Procurados, o Hospital Care e Kora não retornaram até o fechamento da edição.
Fonte: Valor Econômico