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A Granado, indústria brasileira de cosméticos, acaba de adquirir 100% da Care Natural Beauty, marca nacional premium de “beleza limpa”. Com isso, o grupo espanhol Puig, que tem 35% da Granado, passa a ser também “sócio indireto” da startup nativa digital, criada há seis anos por Patrícia Camargo e Luciana Navarro, com a missão de desenvolver cosméticos e maquiagem livres de ingredientes tóxicos.
A intermediação do negócio foi feita por Anna Chaia, conselheira da Care e de outras companhias como a varejista de móveis e decoração Madeira Madeira e da Azzas 2154, que reúne os grupos de moda Arezzo e Soma. O valor da operação não foi divulgado. “Essa [aquisição da Care] foi um ‘fair deal’ [acordo justo] feito entre mulheres, e de sócias para sócias”, diz Patricia Camargo, fundadora e CoCEO da Care. Os departamentos financeiros e advogados das partes ajudaram no processo.
“Muitas empresas nos procuram para investir, mas são raras as oportunidades em que a última linha do balanço é azul. Patricia Camargo e Luciana Navarro vão continuar com a gente à frente do negócio. Porque queremos que a Care não perca nem a paixão, nem a agilidade de ser uma startup e nativa digital”, disse Sissi Freeman, diretora de marketing e vendas da Granado.
Com a aquisição, a Granado entra no mercado de “beleza limpa”, conceito já estabelecida no Hemisfério Norte e que tem atraído a atenção de outros fabricantes nacionais. É o caso da Adcos, que já tem ampla projeção em dermocosméticos, e este ano lançou a marca Elbo.
Com a Care, a Granado também tem a oportunidade de se fortalecer em maquiagem, segmento no qual não tem know-how.
“Nós temos a tecnologia para fazer produtos naturais e livres de toxinas, só que atuamos com produtos mais massivos. A beleza limpa é uma questão de rastreabilidade de ingredientes, uma lista muito mais restrita, e também de embalagem, o que torna seu posicionamento de preço superior”, disse Freeman.
“Vamos manter os fornecedores especializados que a Care desenvolveu e atuar em categorias que elas não estão, como corpo e perfumaria. Com a Care, vamos poder reforçar também nosso processo de premiunização”, completou.
Um perfume “beleza limpa”, portanto sem conservante químicos e com ingredientes limpos, já está sendo pensando, com desenvolvimento conjunto, de Granado e Care.
Para Chaia, que iniciou o processo de aproximação das empresas no início deste ano, a complementariedade entre as duas empresas é “imensa”. A Granado terá presença na área de cuidados com a pele [skincare, no jargão do setor), por exemplo; e a Care vai se beneficiar do expertise da Granado em lojas físicas, diz Chaia.
O grupo Puig tem reforçado sua presença no mercado de cuidados com a pele, por sua vez, com marcas como Apivida e Uriage, além de participação na Isdin. “A Puig nos incentivou na aquisição da Care e, por ter aberto capital neste ano, também se beneficia de uma empresa com certificações internacionais como ‘clean beauty’ ”, diz Freeman.
Com a aquisição, a Granado vai investir na expansão de lojas próprias Care, no modelo que as sócias Navarro e Carmargo queriam: butiques-spa, ou seja, espaços com experimentação de produtos e massagem.
“A Care será nossa terceira marca, além de Granado e Phebo, que terá uma estratégia específica. No próximo ano, serão quatro quiosques e duas lojas no Sudeste”, diz Freeman.
O plano de negócios prevê que em 2028 a Care tenha 27 lojas e 35 quiosques e alcance faturamento de R$ 270 milhões, sendo 45% vindo do comércio eletrônico. Hoje, 80% do resultado vem de vendas próprias feitas pela internet e 20% de marketplace parceiros. Há pouco mais de um mês a Care Natural Beauty passou a ser vendida em toda a rede Sephora, conforme antecipado pelo Valor. O faturamento previsto para este ano é de R$ 45 milhões, e margem Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de 5%.
Freeman destaca que, apesar da presença forte no digital, a Granado pode se beneficiar do conhecimento da Care, por ser nativa nessa área. “A presença delas na Sephora abre caminho para nossas linhas premium também. Por outro lado, nossa presença nacional e estrutura logística vão fortalecer a participação delas no atacado.”
A Care precisava se capitalizar para expandir a operação. “Mas depois de conversas com fundos de investimento, decidimos por uma parceria estratégica, em que compartilhássemos valores com uma empresa do setor de beleza”, diz Navarro. Chaia, que já havia feito no passado uma aproximação entre Granado e L’Occitane, quando dirigia a empresa francesa no Brasil, (uma parceria que não prosperou), começou a abordagem no início do ano. “A Care não é uma empresa em ciclo de desespero. Ao contrário. As sócias trabalham desde o início pensando no médio e longo prazo.”
Para tanto, Navarro e Camargo foram visitar a fábrica da Granado, no Rio de Janeiro, para conferir a viabilidade de fabricar produtos de beleza limpa naquela estrutura. Hoje, 95% do portfólio da marca conta com embalagens de vidro e plásticos verdes com a possibilidade de reposição do conteúdo, com foco em refil.
“A área de refil, em especial com os produtos para bebês, está se expandindo muito para a gente. Vamos manter e expandir essa estratégia da Care. Inclusive compramos uma nova máquina, que importamos, com o bico ‘torneirinha’, como a Care utiliza hoje, que funciona como dosador”, diz Freeman.
A diretora da Granado diz que a internacionalização vem num segundo momento, mas o fato de a Care ter desenvolvido formulações com ingrediente brasileiros como o amazônico Pracaxi, se torna um diferencial num mercado “muito concorrido”.
A Granado vai fechar o ano com 100 lojas no Brasil e 10 lojas no exterior, sendo a mais nova aberta no Soho, em Nova York. Recentemente a empresa conquistou espaço nas gigantes de departamento Harvey Nichols e El Corte Inglés.
Por sinal, a coleção de Natal da marca este ano privilegiou a temática de fundo do mar e não os ícones tradicionais de neve e Papai Noel, que não fariam sentido no mercado externo.
O faturamento previsto para este ano é de “R$ 1,6 bilhão líquido, o que significa 24% de crescimento sobre o ano anterior”, diz a diretora da Granado.
Para 2025, a meta é aumentar o faturamento entre 18% e 20%. “Em geral fechamos os números para o próximo ano em outubro. Mas nossos cálculos eram com dólar a R$ 5,4. Agora estamos revendo com o dólar no patamar de R$ 6”, disse Freeman.
Fonte: Valor Econômico