Por Augusto Decker
Valor — São Paulo
25/03/2024 12h40 Atualizado há 10 horas
O banco americano Goldman Sachs recomenda que investidores vendam ações e títulos de estatais brasileiras e adotem posições compradas em empresas do setor privado que devem se beneficiar do ciclo de cortes de juros. A instituição afirma que, embora tenham fundamentos sólidos, as empresas públicas estão negociadas a múltiplos historicamente altos na comparação com os pares privados. Além disso, possíveis intervenções governamentais podem causar rebaixamentos nas notas de crédito dessas companhias.
“O aumento da intervenção governamental nas estatais brasileiras trouxe atenção ao potencial prêmio político para ações e crédito no Brasil. Nós acreditamos que o Brasil está negociando em linha com mercados emergentes da perspectiva de relações entre ativos”, apontam os estrategistas Jolene Zhong, Nathan Fabius e Caesar Maasry. “Dito isso, estatais brasileiras negociam a múltiplos historicamente mais altos do que seus pares privados listados. Essa relação se mantém numa comparação relativa de ativos entre crédito e ações.”
Os profissionais do Goldman Sachs recordam que os acontecimentos recentes envolvendo a política de dividendos da Petrobras lembraram investidores das interferências passadas em estatais, e que esses eventos costumavam causar um aumento no prêmio de risco dessas companhias.
Hoje, embora o prêmio de risco esteja modesto na comparação com pares de países emergentes, as estatais estão negociando a níveis mais altos do que os pares privados. Levantamento do banco mostra que a relação do preço sobre valor patrimonial (price-to-book, em inglês) das estatais na comparação com companhias privadas está perto da máxima histórica. Os cálculos do Goldman Sachs levam em conta a Petrobras, o Banco do Brasil, a Sabesp e a Cemig.
“Na medida em que o ciclo de cortes [de juros] nos Estados Unidos e no Brasil se desenvolve, as estatais podem ser superadas por pares do setor privado num ambiente de juros mais baixos, como foi o caso no passado”, projetam os estrategistas do Goldman. “Embora os fundamentos das estatais pareçam fortes, os múltiplos elevados as deixam mais suscetíveis a um potencial rebaixamento nos ratings em caso de maior intervenção do governo.”
O banco aponta que, do ponto de vista dos fundamentos, o bom desempenho recente das estatais veio principalmente de um retorno sobre patrimônio (ROE, na sigla em inglês) elevado dos papéis de commodities, que se beneficiaram dos preços mais altos do petróleo. “Em contraste, o ROE do setor privado tem sido limitado nos últimos anos, mas está começando a melhorar na margem”, diz o banco. “Daqui para frente, esperamos que os ROEs das estatais brasileiras comecem a moderar e a convergir com o setor privado num cenário de juros mais baixos e maior intervenção.”
Para o Goldman Sachs, a Petrobras está mais forte hoje do que no passado em razão da desalavancagem da companhia e do aumento na lucratividade e no fluxo de caixa livre. Entretanto, na visão do banco, os planos de aumento no capex “e possíveis mudanças na qualidade da governança podem afetar seus níveis de dívida no futuro, embora a Petrobras atualmente se encontre numa posição forte do ponto de vista do crédito”.
Fonte: Valor Econômico

