Por Liane Thedim — Do Rio
23/11/2023 05h03 Atualizado há 5 horas
Num mercado que saiu de reservas totais de R$ 50 bilhões em 2005 para R$ 1,2 trilhão hoje, e que desde então não registra um ano sequer com captação líquida negativa, as gestoras independentes entraram na briga com os bancões e já demonstram força na atração de recursos para previdência. No ano até setembro, a Kapitalo Investimentos, por exemplo, tem captação líquida de R$ 2,5 bilhões no segmento, segundo dados da Anbima, que representa as instituições do mercado de capitais. A Genoa Capital aparece com R$ 2,1 bilhões, Ace Capital, com R$ 2 bilhões, e Neo Investimentos, com R$ 1,1 bilhão no período.
Peso-pesado do setor, com reservas de R$ 50 bilhões, a Icatu tem hoje cem assets parceiras e mais de 150 fundos disponíveis. Somente em 2023, a seguradora lançou 21 produtos, sendo nove multimercados, sete de crédito privado, dois de renda fixa e três de ações, além de 33 exclusivos. “Temos um trabalho ativo de selecionar gestoras para criarmos fundos com diferentes perfis de risco”, explica Henrique Diniz, diretor de produtos de previdência da Icatu Seguros.
Segundo ele, nos últimos dois anos, a captação na Icatu cresceu mais de 270% em novembro e dezembro, em média. Mas, especificamente neste fim de ano, a perspectiva de taxação dos fundos exclusivos fechados e “offshore” em 2024 joga mais luz sobre a previdência. “Agora vai ficar mais clara a evolução da indústria.”
Diniz lembra que, primeiro, a legislação não permitia ações em fundos, depois liberou até 49% e agora no varejo permite até 70% e, para qualificado, até 100%. “Houve essa evolução, mas menos de 5% da indústria estão em ações, o que é contraditório, já que quem tem investimentos de longo prazo não deveria ser tão conservador. É justamente onde pode tomar mais risco”, avalia.
A previdência, afirma, é uma alternativa eficiente porque a portabilidade permite a migração para produtos de diferentes perfis de risco sem desconto de imposto. “A alta rápida dos juros afetou muito a indústria de fundos e de previdência, o que levou o investidor a reposicionar sua carteira para um perfil mais conservador. Agora, vemos o cenário se modificando com o início do ciclo de corte de juros e a procura por multimercados e ações voltando.”
Na Icatu, a distribuição por nível de risco é diferente da média de mercado. Enquanto na indústria em geral, 76% estão em renda fixa, na seguradora, a parcela responde por 52% dos investimentos. Na seguradora, os multimercados são os mais fortes, com 38,7%; ações têm fatia de 6,8%. Para ele, essa participação pequena da renda variável no mercado é herança desse passado mais restritivo e, por isso, tende a crescer.
Cassiano Ciampone, chefe de relações com investidores da Tenax Capital, já identifica uma procura maior de “family offices” e private banking. “Historicamente a previdência tinha recursos pouco eficientes e estava fora do radar desse público”, diz. “É um segmento eficiente para o investidor de longo prazo. Não tem por que olhar para esses produtos de maneira diferente dos outros.”
A gestora lançou em outubro o Total Return Prev, voltado para investidores qualificados e que investe em diferentes mercados, como ações, juros, câmbio, commodities e crédito, no Brasil e no exterior. O fundo usa derivativos para amenizar a volatilidade e tem como meta de retorno IPCA mais 10% ao ano.
Criada em fevereiro de 2022 e com R$ 1,2 bilhão sob gestão, a asset independente já havia lançado em julho uma previdência multimercado, que ainda engatinha: seu patrimônio líquido soma R$ 5 milhões apenas. De acordo com Ciampone, o objetivo é nos próximos dois anos chegar a R$ 1 bilhão em previdência. “Estamos num momento de aversão a risco, mas temos convicção de que, com os cortes de juros, o investidor naturalmente vai buscar alternativas mais rentáveis.”
Ele ressalta que os fundos novos têm vantagem sobre os antigos, que não podem ser atualizados para as novas regras. Quanto mais recente, portanto, mais eficiente, já que os anteriores às regras mais flexíveis em geral cobravam taxa de administração mais alta e ainda uma taxa de carregamento. Agora, os fundos podem cobrar performance, e a de carregamento caiu em desuso. “O mercado está de olho nisso na medida em que o investidor pode tomar a decisão de deixar ou não seu fundo exclusivo, e a procura pelo mais eficiente vai ser um fator importante.”
A AZ Quest também está vendo na inovação uma forma de atrair esses novos recursos. A gestora lança em até três meses um fundo de previdência sistemático, que se junta a outro criado no fim do ano passado, o Altro Prev, de crédito privado “high grade” (empresas com alto nível de avaliação), mas, segundo Ronaldo Zanin, cochefe da área comercial da asset, com uma gestão mais ativa que a tradicional.
Nos últimos seis meses, o patrimônio líquido do Altro foi de R$ 25 milhões para R$ 270 milhões, o que, afirma ele, já pode embutir algum reflexo da discussão de taxação dos fundos fechados. “Como a demanda por previdência tem subido continuamente, a sofisticação dos produtos acompanha esse movimento.”
O fundo sistemático será derivado do AZ Quest Bayes Long Only Sistemático, que, de acordo com Marcello Paixão, gestor responsável pelos Fundos Sistemáticos na AZ Quest Bayes, aloca em cem ações diferentes, frente à média de mercado de 20 papéis. “Avaliamos preço e valor patrimonial, e a que tiver menor razão entre os dois vai para a carteira.”
Fonte: Valor Econômico

