/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2025/I/Q/WYHbjeTyWnNYXApiFWJg/foto12fin-101-jubarte-c6.jpg)
Num momento em que a economia brasileira começa a perder ritmo pela política monetária restritiva por muito tempo, ter na carteira títulos públicos atrelados à inflação representa uma melhor relação risco/retorno para o investidor do que a bolsa, segundo Elmer Ferraz, gestor de ações que acaba de se juntar como sócio à Jubarte Capital.
“A bolsa, se tirar Vale e Petrobras, negocia a 10 vezes o lucro. Dependendo da forma como se olha, não está cara, mas se desconta o juro real brasileiro, o prêmio de risco está perto de 3%, senão abaixo disso”, diz. “Os dados de junho a agosto mostram desaceleração da economia local. A surpresa [de crescimento] não é para agora, vem a reboque do ciclo eleitoral. Para nós, essa composição justifica que a bolsa não é o melhor risco/retorno comparada a outros ativos globais. Onde podemos estar errando? Se o crescimento do lucro das companhias vier acima das expectativas.”
Excluindo-se Vale e Petrobras, o gestor calcula um incremento de 10% a 12% para os resultados das empresas listadas na B3.
Ferraz é um reforço para a estratégia macro global da Jubarte, casa fundada há quase dois anos e que tem o estilo de montar posições a partir das leituras dos ciclos econômicos globais. Ele chega para compor o time justamente num momento em que o principal fundo da casa não tem exposição a ações locais.
O gestor teve uma passagem relativamente rápida pela Verde Asset Management, entre janeiro de 2023 e maio de 2024, e perto de vencer o período de não competição negociou a sua vinda para a Jubarte. Já era um profissional conhecido do núcleo de fundadores, que, tal como ele, construíram boa parte da carreira na Itaú Asset Management.
No mês passado, a Jubarte já tinha trazido o ex-Banco Central Luiz Fernando Figueiredo, chairman da JiveMauá, para compor o seu conselho consultivo.
“São movimentos que mostram de maneira inequívoca que a gente está investindo num negócio que acredita muito, num momento em que vê a indústria de fundos lambendo as suas feridas”, diz Eduardo Camara Lopes, sócio-fundador e executivo-chefe de investimentos (CIO) da Jubarte. Ele observa que após três anos de saques bilionários nos fundos de investimentos sob um sentimento de aversão a risco generalizado, o ciclo atual não deve diferir muito de outros de maior depressão dos ativos, seguido por uma fase de recuperação.
O executivo cita a recessão entre 2014 e 2016 no Brasil e o colapso financeiro global disparado pela quebra do americano Lehman Brothers, em 2008, como períodos em que o setor encolheu, com a decisão de desinvestimento de algumas assets. “Com o dinheiro voltando para o risco, quem estiver preparado consegue crescer”, diz. “Nossa tese é fundamentalista e estamos no pior momento do ciclo e agora é hora de investir. Olhando para trás foi muito ruim, mas à frente, os próximos três anos tendem a ser melhores que os últimos três.”
Ferraz diz que nas duas vezes que se movimentou profissionalmente e os projetos deram certo foram em períodos de aversão a risco. Após a crise de 2008, ele se juntou ao multimercado Galileo, no Safra, quando “parecia que o mundo ia acabar, e foi o melhor momento da indústria”. No segundo semestre de 2015 integrou a equipe da família de fundo de ações Dunamis, da Itaú Asset, quando a renda variável estava totalmente fora de questão para o investidor brasileiro. Os principais resultados vieram de companhias listadas nos Estados Unidos.
“Dá para extrair muito valor no momento de ciclo de cada país. Não tenho nenhum amor em particular à bolsa brasileira”, diz Ferraz.
A Jubarte foi fundada no início de 2024 por Lopes, ex-executivo-chefe de investimentos (CIO) da Itaú Asset Management, ao lado de Denis Jungerman, que comandou no Brasil o fundo de pensão do Estado de Quebec, Canadá (CDPQ), e de outros nomes egressos da gestora do Itaú: Milena Landgraf, hoje CIO da estratégia macro, e Benjamim Mandel, chefe de pesquisa.
No conselho consultivo, já na largada ganhou a chancela do historiador econômico Niall Ferguson, pesquisador da Universidade de Oxford, que entrou como sócio. Este fórum conta ainda com Marcus Menoita (economia real e agronegócio), Manoel Lemos (tecnologia e inovação), além de Figueiredo.
Com um patrimônio relativamente pequeno, na casa dos R$ 300 milhões, o negócio ainda não chegou ao equilíbrio financeiro, mas tem capital humano para surfar uma virada do ciclo, reflete Câmara. “A gente montou a empresa no pior momento, sabia que ia ser difícil, a aversão a risco estava presente, mas não previa que o CDI ia de 11,5% para 15% e que ficaria alto por tanto tempo”, diz. “Empreender não é fácil, estávamos conscientes disso, mas a gente entende que lá na frente tem frutos bons para colher”, afirma.
Antes de a inflação brasileira dar sinais consistentes de queda e abrir o caminho para uma Selic mais baixa, pró-tomada de risco, o cenário internacional reserva a decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). É um ambiente que vem com toda a artilharia do governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra a independência do Fed e a imposição de tarifas mais altas a seus pares comerciais.
“Trump tem dado muito trabalho desde o início [do mandato] com uma sequência de políticas que representam um choque de crescimento negativo: as tarifas, menos imigração e, de outro lado, em termos de impulso fiscal, não há muito para puxar”, diz Mandel. “O fator dominante é o crescimento para baixo.”
O economista diz, contudo, que o Fed é sensível à atividade, não tem conflito com isso e deve reagir se a inflação estiver sob controle. Os dados são favoráveis a uma queda de juros, embora os ataques de Trump tirem graus de liberdade, acrescenta Câmara. “A pior coisa é parecer que vai cortar juros por influência política”, diz.
Mas se o Fed começar a baixar as suas taxas de juros de referência em setembro, isso também ajuda o Comitê de Política Monetária (Copom) brasileiro a seguir esse script, diz Landgraf. “No curto prazo tem a expectativa de que o Banco Central mantenha uma retórica mais dura, com a atividade e o mercado de trabalho ainda aquecidos. Apesar de notícias positivas do lado da inflação, quando se olha a composição, o Copom ainda tem um trabalho a ser feito.”
Para ela, a lógica de alta de juros até os 15% ao ano já aconteceu, falta repercutir na atividade. A expectativa da casa é que o BC comece a cortar em dezembro. “A gente acredita que os dados de atividade vão mostrar o efeito dos juros na economia e vamos ver uma desaceleração maior”, diz Landgraf.
Fonte: Valor Econômico

