Após ter emitido sinais bastante conservadores sobre o ambiente inflacionário na semana passada, o diretor de política monetária do BC, Gabriel Galípolo, repetiu as duras mensagens em aparição pública feita nesta segunda, em evento em São Paulo. Diante da avaliação do dirigente de que o cenário atual é “desconfortável” para cumprimento da meta de inflação e de dizer explicitamente que a possibilidade de elevar os juros está na mesa do Comitê de Política Monetária (Copom), o que se viu no mercado de juros foi uma elevação das taxas curtas, em um sinal de que os agentes têm visto uma maior probabilidade de alta da Selic no curto prazo.
Em sua palestra em evento promovido pela Warren Rena, Galípolo destacou que ficou satisfeito com a interpretação feita por sua última fala pública. A declaração foi considerada bastante “hawkish” [inclinada a uma política monetária mais restritiva] por participantes do mercado e contribuiu para uma valorização do real e para uma queda nos juros de longo prazo nos últimos dias.
Galípolo reforçou que os diretores novos são menos conhecidos e que precisam ganhar credibilidade. Isso passaria, segundo ele, por um processo em que “as falas e ações são coerentes”, o que deu ainda mais força à interpretação de que o Copom estaria aberto à retomada do processo de aperto monetário, caso ela seja necessária.
Galípolo também apontou, textualmente, que uma elevação na taxa básica de juros, a Selic, está na mesa do Copom e voltou a afirmar que classifica o balanço de riscos para a inflação como assimétrico. “Isso reflete que o Copom, hoje, vê uma maior chance de um custo maior do processo de desinflação e que a gente vem tendo dados que têm deixado a gente numa situação mais desconfortável”, avaliou.
“Quando se colocou o cenário alternativo [de Selic estável pelo horizonte relevante], é importante reforçar que fizemos essa transição justamente para não pegar o mercado no contrapé. Saímos de um ciclo de cortes e passamos a dizer que estamos dispostos a viver com uma taxa restritiva por mais tempo. Isso foi lido como uma retirada da mesa da probabilidade de alta de juros. Isso não é verdade; a possibilidade de alta de juros ainda está na mesa”, afirmou.
Galípolo disse que se alinha à visão de que o cenário é desconfortável e que “gostaria de ver uma melhora nas variáveis para questão do cumprimento da meta”.
Mesmo assim, o diretor reforçou que a ata do Copom deixou claro que não há “guidance” (orientação futura) para a próxima reunião, que acontece em setembro, e que suas falas recentes também vão na mesma direção. “Estamos abertos para seguir vendo a evolução dos dados para tomada de decisão em todas as alternativas que já foram elencadas”.
Já o presidente do BC, Roberto Campos Neto, falou pela primeira vez sobre política monetária desde a última decisão do Copom, em palestra na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Na quinta-feira, ele já havia feito uma fala pública, mas sem tratar especificamente do Copom.
Campos Neto disse que, independentemente de quem seja o presidente ou de qual seja o mandato, a autoridade monetária fará o que for necessário para atingir a meta de inflação. “Não importa se eu vou estar lá ou se eu não vou estar, ou quem vai estar lá, que o BC vai agir sempre de forma técnica.” O presidente também compartilhou a avaliação que a inflação está rodando acima da meta e as expectativas estão desancoradas, e que isso é um “fator de preocupação”.
Tanto Campos Neto quanto Galípolo comentaram sobre o resultado do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho. Em 12 meses, o índice ficou em 4,50%, o teto do intervalo de tolerância da meta, estabelecida em 3% com uma banda de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
O presidente do BC ressaltou que a inflação cheia, no acumulado em 12 meses, vinha caindo, mas recentemente “subiu um pouquinho” para 4,5% ao ano. Por outro lado, ressaltou que, ao olhar os núcleos da inflação, eles estão relativamente comportados. “A gente consegue ver que tem uma ‘correlaçãozinha’ na ponta entre mão de obra apertada e alguns setores que são mais intensivos em serviços, mas não é nada nesse momento que preocupa muito”, apontou.
Já Galípolo reforçou que o dado veio com um “headline” maior e uma composição “que traz uma série de alertas.
Campos Neto voltou a destacar a importância da credibilidade, tanto do ponto de vista da política fiscal quanto da política monetária, para a redução nos prêmios de risco embutidos nos preços de mercado. No fiscal, ele ressaltou que o governo tem feito um esforço fiscal grande e que é necessário entender qual vai ser a dinâmica daqui para frente. “À medida que a gente consiga demonstrar esse esforço de forma mais clara, acho que o prêmio de risco deve diminuir.”
Sobre o fiscal, o presidente do Banco Central afirmou que “às vezes não é tão bom quanto parece, mas também não é tão ruim quanto parece. Tem muito exagero no que tem sido dito. Agora, realmente o Brasil tem que fazer um esforço extra olhando o médio prazo para fazer com que as pessoas acreditem que a gente vai ter uma convergência de dívida”, apontou.
Campos Neto disse que o país continua registrando números bons em termos de atividade econômica, tem surpreendido para cima e até “se disseminado um pouco mais na surpresa”. O presidente do BC também avaliou que o desemprego está “muito, muito baixo”.
Fonte: Valor Econômico

