O diretor de política monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, disse que “migramos para um período de um pouco mais de cautela”, citando uma atividade mais forte, a reprecificação da política monetária nos Estados Unidos e a desacoragem das expectativas. O diretor do BC participou do Fórum Anual de Economia e Cooperativismo de Crédito em Anápolis (GO), promovido pelo Sicredi.
O diretor do BC citou, por exemplo, a surpresa positiva da atividade econômica, que “todos ficam contentes e ninguém torce pelo contrário”, mas que a função do BC é ser cuidadoso “porque são indícios de uma economia mais aquecida e que pode significar um processo de desinflação mais lento somado ao fato de uma preocupação que está relacionada à mudança ou reprecificação da política monetária americana.”
Galípolo apontou que juros mais altos nos Estados Unidos “sempre provocam” alguma dificuldade do ponto de vista cambial para os países emergentes.
Em outro momento, o diretor do BC explicou que o mercado de câmbio no Brasil é um dos mais líquidos e que, muitas vezes, quando os gestores precisam reduzir risco de emergentes ou se defender da valorização do dólar “o real, vamos dizer, é a porta mais larga de saída neste momento e acaba sofrendo com mais volatilidade por causa disso”.
Galípolo ainda tratou do mercado de trabalho e afirmou que, mesmo que ainda não seja possível identificar a passagem da dinâmica para salário que pressione a inflação, “um mercado de trabalho mais dinâmico indica que você deve esperar processo de desinflação mais custoso e mais lento ao longo desse processo”.
Sobre o processo de desancoragem das expectativas, Galípolo afirmou que é algo que “incomoda muito a gente” e que se assistiu a desancoragem ampliar mesmo com comportamento mais benigno da inflação corrente.
Na última ata, o Comitê de Política Monetária (Copom) destacou que a política monetária deve se manter contracionista até que o processo de desinflação se consolide e que as expectativas fiquem ancoradas em torno das suas metas. Além disso, ressaltou que o cenário doméstico e o cenário global incerto “demandam maior cautela”.
Galípolo ainda comentou sobre o balanço de riscos da inflação. O diretor do BC apontou que não se trata só da quantidade de itens para cada lado, altista e baixista, mas também de “ponderar quais são os impactos que cada um daqueles itens tem”.
O balanço de riscos do último Copom está simétrico, ou seja, com fatores para ambas as direções. No entanto, nas últimas duas reuniões, o documento mostrou que houve um debate sobre uma assimetria altista, mas que a decisão majoritária entre os membros do comitê foi por manter o balanço simétrico.
O último relatório Focus mostrou que a mediana de projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2024 ficou em 4%. No início de maio estava em 3,72%. Já para 2025, a mediana vem subindo há 11 semanas consecutivas e chegou a 3,90% ao ano. A meta é de 3% para ambos os anos.
Sobre o futuro da política monetária, Galípolo reforçou que o BC não está oferecendo nenhum tipo de “guidance” (sinalização). O diretor explicou que a incerteza e a adversidade aumentaram e a decisão está mais dependente de dados. “Neste momento estamos abertos e aguardando para esperar como os desdobramentos vão se dar”, afirmou. A próxima reunião do Copom será nos dias 30 e 31 deste mês.
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Fonte: Valor Econômico

