Segundo a empresa de pesquisa Morningstar, os fundos de ações geridos ativamente têm apresentado saídas de capital na maior parte dos últimos dois anos, tornando até mesmo as estratégias mais ortodoxas difíceis de serem vendidas.
Os poucos fundos que continuam atraindo investidores geralmente se concentram em subsegmentos de mercado, como tecnologia ou sustentabilidade.
Isso afetou a demanda por fundos de “special situations”, um termo vagamente definido que geralmente se refere a fundos que enxergam oportunidades em eventos pontuais, como reestruturações ou fusões e aquisições, priorizando a habilidade do gestor em detrimento de temas ou fatores específicos.
Tamanha é a raridade desses fundos que, entre os milhares de fundos ativos disponíveis para clientes no Reino Unido, apenas 26 atualmente levam esse nome, de acordo com a Morningstar.
Esses fundos começaram como uma forma de os investidores lucrarem com atividades corporativas, como fusões e aquisições. Porém, enquanto isso ainda é popular entre investidores institucionais, os clientes de varejo tendem a evitar esses fundos devido à falta de liquidez diária, segundo Richard Swain, chefe de pesquisa de fundos da gestora de fortunas Bentley Reid.
“Para os clientes de varejo, fundos de ‘special situations’ têm tendido a ser fundos de deep value”, diz Swain, referindo-se à estratégia de investir em ações cujo valor de mercado é considerado muito abaixo do valor dos ativos da empresa emissora. “Em um momento em que as alocações em estratégias de valor e em ações do Reino Unido estão diminuindo, talvez seja inevitável que a demanda por esses fundos tenha caído.”
Alguns investidores se sentem desestimulados pela abordagem em estilo institucional desses fundos, que toleram menos liquidez enquanto oferecem maior flexibilidade ao gestor.
“Tendemos a evitá-los, principalmente porque você nunca tem certeza do que está dentro deles”, diz Simon King, diretor de investimentos da Vermeer Partners, gestora de fortunas. “O nome é muito genérico, e há uma ampla diversidade de estratégias dentro deles, incluindo muitas que não têm estratégia alguma.” Como os retornos frequentemente são inconsistentes e correlacionados a preços de ações de pequena e média capitalização, é melhor simplesmente investir em fundos direcionados a esses segmentos, acrescenta.
“Muitos dos gestores ‘estrela’ nesse setor são como ‘pistoleiros’, mudando os portfólios constantemente. Se eles realmente são bons, tendem a migrar para a gestão de hedge funds.”
Sem definição clara, falta lugar para esses fundos nos portfólios
Ben Yearsley, cofundador da consultoria Fairview Investing, utiliza fundos de “special situations” em portfólios, mas concorda que a imprecisão do termo desencoraja muitos gestores de investimentos.
“É justo perguntar: o que é um fundo de ‘special situations’? É um fundo de valor? Um fundo sem restrições? Multi-cap? Até mesmo de crescimento? A falta de uma resposta provavelmente explica por que o nome está em declínio, e não consigo me lembrar de nenhum lançamento recente”, afirma.
“Como não há uma definição do que é um fundo de ‘special situations’, não há um lugar definido para ele no portfólio. A maioria dos gestores constrói portfólios com cada fundo tendo um papel específico. Portanto, se você não sabe no que o fundo vai investir, como pode comprá-lo para um portfólio?”
Os defensores, no entanto, destacam o desempenho de alguns fundos. Por exemplo, o fundo UK Special Situations da gestora Ninety One, lançado em 1978, atualmente ocupa a quinta posição entre os mais de 200 fundos na tabela de desempenho da Investment Association para “UK All Companies” nos últimos cinco anos.
Alessandro Dicorrado, que gerencia o fundo de 46 anos há quatro anos, descreve os fundos de “special situations” como “uma versão mais flexível da abordagem de valor”.
“O investimento tradicional em valor pode ser muito sistemático e rígido”, diz ele. “Os fundos de ‘special situations’ tendem a ser um pouco mais abertos. Trata-se de encontrar empresas subavaliadas, mas, enquanto as estratégias de valor e alguns fundos institucionais tendem a focar na identificação de um catalisador específico, não acreditamos que seja possível fazer isso — focamos em empresas que estão apresentando bom desempenho e possuem uma boa gestão.”
Para Stuart Widdowson, sócio-gerente da Odyssean Capital, o segredo é encontrar ações subvalorizadas. “Normalmente, é uma empresa que não está atingindo todo o seu potencial”, afirma.
Um indicador é a troca de presidente nos últimos três anos. “Essas ações geralmente são subvalorizadas porque investidores que focam em momentum buscam empresas que são perfeitas, ou quase perfeitas, então eles não estariam procurando por ‘special situations'”, explica Widdowson. Ele também analisa os 10 maiores acionistas de uma empresa para verificar se “eles estão alinhados com nosso pensamento”.
Ele alertou, entretanto, que “fundos de ‘special situations’ exigem muito trabalho para identificar e desenvolver. Então, por exemplo, se você gerencia um portfólio com 100 ações, como alguns gestores fazem, não conseguiria dedicar o tempo necessário”.
Fonte: Financial Times
Traduzido via ChatGPT

