Os fundos de infraestrutura deram um salto em 2024, com a captação subindo quase 10 vezes em relação ao ano anterior. O segmento somou R$ 109,5 bilhões até o fim de novembro do ano passado, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Para se ter uma dimensão do salto, em todo o ano de 2023 a entrada de recursos foi de R$ 13,8 bilhões, ante R$ 8,2 bilhões no ano anterior, ainda de acordo com levantamento feito pela entidade.
Se tratando de patrimônio líquido desses fundos, ainda no mesmo período, o volume atingiu R$ 186,1 bilhões, três vezes o observado no ano anterior (R$ 62,6 bilhões). Com a demanda pelo produto, as gestoras também prepararam suas prateleiras. No fim de novembro, ainda de acordo com a Anbima, tinham 1.192 fundos de infraestrutura disponíveis, ante 441 no fim de 2023. No fim de 2022, eram 283 fundos do tipo.
O diretor da Anbima, Pedro Rudge, diz que a restrição no início do ano passado para a emissão de alguns títulos isentos, como os certificados de recebíveis agrícolas e imobiliários (CRAs e CRIs) geraram uma busca dos investidores por outros produtos com o mesmo benefício, sendo esse um importante fator para o crescimento da procura pelo fundos de infraestrutura. “Essa foi uma maneira que os investidores encontraram de manter o benefício fiscal”, diz.
Rudge aponta, contudo, que os fundos de infraestrutura têm características diferentes dos demais produtos, seja pelo risco, visto que são atrelados a projetos, seja pelos prazos mais longos. Apesar disso, ele lembra que grande parte dos investidores apenas colocam na conta, na hora da tomada de decisão, a isenção de imposto.
O lado positivo, segundo o executivo, é que, com esse incremento de demanda pelo produto, o mercado de capitais tem se posicionado como grande financiador dos projetos de infraestrutura do país. “Com o tempo o mercado de capitais acabou preenchendo um espaço que antes era ocupado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)”.
O mercado de capitais acabou preenchendo um espaço que antes era ocupado pelo BNDES”
Como são investimentos de longo prazo, a decisão dos gestores tem sido listar os fundos na bolsa, para driblar qualquer pressão por eventuais saques. O investidor que quiser sair do investimento, assim, vende sua cota em bolsa para fazer liquidez.
O sócio e responsável pela estratégia de crédito privado e infraestrutura na JiveMauá, Samer Serhan, acredita que o salto do produto tem um responsável: o benefício fiscal, não só a isenção do rendimento, mas também a no ganho de capital. “Esse é um dos poucos produtos que têm essa dupla isenção. Os fundos imobiliários e Fiagros são tributados no ganho de capital”, aponta. Serhan afirma que, ao mesmo tempo que o público do varejo passou a olhar o produto, o mercado percebeu a demanda desse público, levando rapidamente novos produtos às prateleiras.
O sócio da JiveMauá aponta que esse benefício tributário dos fundos foi herdado das regras das próprias debêntures incentivadas. “Mas ao investir no fundo a vantagem é a diversificação e a gestão profissional”, diz. Esse tratamento, lembra, foi dado para ajudar a direcionar recursos dos investidores para infraestrutura, que possui um déficit, se tratando da demanda, dado os elevados investimentos necessários no setor. Ele destaca que tal demanda por investimentos vai continuar em alta e cita, por exemplo, o setor de data centers.
O especialista da JiveMauá diz que os fundos de infraestrutura também trouxeram a distribuição de dividendos periódicos, que atrai o público pessoa física, algo já conhecido nos fundos imobiliários, por exemplo. Para conseguir fechar a equação, segundo Serhan, se estrutura um mix de diferentes papéis e projetos dentro da carteira. A favor, comenta, está o fato de que nos primeiros seis meses do fundo a composição do portfólio é livre, o que traz mais liberdade ao gestor para garantir os dividendos.
Já o gestor de crédito privado da gestora Legacy, Leonardo Ono, afirma que na gestora, que possui quatro fundos de infraestrutura, o foco tem sido em projetos de saneamento, energia, telecom e rodovias. “A demanda tem sido ainda forte por papéis e fundos de debêntures de infra isenta”, diz.
Para o sócio e gestor da Kinea, Aymar Almeida, a ampla oferta de debêntures incentivadas, que são os papéis que alimentam esses fundos, teve como suporte concessões dos últimos anos e que agora tiveram que buscar financiamento para seus projetos no mercado de capitais. Almeida cita que uma conjunção de fatores levou a um crescimento acelerado dessa indústria no ano passado, mas afirma que para 2025 o ritmo pode ser um pouco mais lento, já que as empresas poderão analisar outras alternativas de financiamento para driblar os juros altos. Porém, aponta que a necessidade por financiamento do setor seguirá elevado. “Temos mapeado cerca de 20 leilões de rodovias nos próximos 12 meses”, comenta.
O gestor da Kinea destaca que hoje um terço da exposição do fundo está em saneamento. E para frente há um olhar para rodovias e geração fotovoltaica.
Diante do fluxo de capital para os fundos, a Kinea decidiu fechar o fundo e apenas abri-lo para captação de forma seletiva, ou seja, à medida que a casa consegue originar emissões com o perfil de risco adequado para a gestora. Com isso, evita ir a mercado e comprar títulos fora do perfil desejado.
Fonte: Valor Econômico

