Por Owen Walker, Emma Dunkley, Olaf Storbeck, Barney Jopson, Silvia Sciorilli Borrelli e Hudson Lockett, Financial Times
26/10/2022 19h23 Atualizado há 14 horas
Os maiores bancos da Europa geraram lucros gigantescos no terceiro trimestre, graças à alta das taxas de juros, o que aumenta as chances de governos europeus decidirem aplicar impostos sobre as chamadas receitas inesperadas.
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O Deutsche Bank divulgou ontem um de seus melhores desempenhos trimestrais desde antes da crise de 2008 e ruma a um de seus melhores lucros anuais desde 2009, enquanto Barclays, Santander, UniCredit, Standard Chartered, HSBC e UBS superaram as expectativas.
O principal motivo para o bom desempenho foram os juros mais altos, que normalmente impulsionam os lucros bancários, mas a força das operações de corretagem de renda fixa também ajudou as instituições que têm grandes unidades de banco de investimento, como o Deutsche Bank e o Barclays.
Os bancos conseguem obter grandes lucros com a diferença entre os juros cobrados sobre os empréstimos concedidos, que sobem de acordo com os juros básicos definidos pelos bancos centrais, e os juros que pagam aos clientes pelos depósitos, que ficam para trás em relação aos juros básicos.
O executivo-chefe do UniCredit, Andrea Orcel, admitiu que a política monetária do Banco Central Europeu (BCE) foi um fator no bom balanço do banco, que é “o resultado de boa dinâmica comercial, ambiente favorável de taxas de juros, contínua disciplina de custos, baixo custo de risco e, o mais importante, do empenho e trabalho dos nossos colaboradores”.
Os lucros dos bancos são um alvo atraente para governos sofrendo de falta de dinheiro. Em julho, a Espanha tornou-se o primeiro país da Europa Ocidental a propor um imposto excepcional sobre os lucros bancários, seguindo os passos da Hungria, que já o adotou. Os planos da Espanha a colocam em rota de possível colisão com o BCE.
O novo ministro das Finanças do Reino Unido, Jeremy Hunt, também se prepara para manter um imposto sobre os bancos dentro do conjunto de aumentos tributários idealizados para neutralizar o impacto desastroso do plano orçamentário de corte de impostos divulgado por seu antecessor.
Na terça-feira, após os fortes resultados do HSBC, parlamentares da oposição no Reino Unido conclamaram o governo a aplicar sobre os bancos um imposto sobre ganhos inesperados.
“Será difícil que o público aceite os grandes lucros sendo acumulados pelos bancos enquanto as contas de seu financiamento residencial ficam fora de controle”, afirmou a porta-voz do Tesouro, a democrata-liberal Sarah Olney. “O ministro das Finanças deveria, certamente, explorar a tributação dos lucros excedentes dos bancos, em especial se a alternativa forem cortes dolorosos em nossos serviços públicos.”
O executivo-chefe do HSBC, Noel Quinn, é contra o imposto proposto. “O Reino Unido já tem uma carga tributária sobre o setor de serviços financeiros maior que a das empresas em geral no Reino Unido”, disse na terça-feira. C. S. Venkatakrishnan, executivo-chefe do Barclays, disse a jornalistas que o “regime tributário previsível” de Londres é uma parte importante de seu status como centro financeiro internacional, mas que o banco aguardará “a decisão do governo sobre essas coisas”.
O Barclays divulgou lucro antes de impostos de 1,97 bilhão de libras esterlinas nos terceiro trimestre, um aumento de 6% em relação ao mesmo período de 2021, superando as expectativas dos analistas.
O lucro antes de impostos do Deutsche Bank mais do que dobrou, para 1,6 bilhão de euros no terceiro trimestre, o maior para o período desde 2006 e acima da expectativa média dos analistas de 1,3 bilhão de euros. A quatro divisões do banco registraram aumento de receita, com a unidade de banco de investimento ganhando participação na corretagem de renda fixa.
O Santander, o maior banco da região do euro, registrou um aumento anual de 11% no lucro líquido, para 2,42 bilhões de euros no terceiro trimestre, superando as expectativas, mas apresentando desaceleração em relação ao crescimento trimestre anterior. O banco espanhol incrementou as provisões para perdas com crédito em 24%, para 2,76 bilhões de euros, já que a inflação e os juros mais altos colocam empresas e consumidores sob pressão.
O UniCredit, com sede em Milão, projetou que o lucro líquido deste ano ultrapassará os 4,8 bilhões de euros, acima de sua previsão anterior, graças ao aumento dos juros e a lucros melhores do que os esperados no terceiro trimestre. O segundo maior banco da Itália registrou lucro recorde de 1,71 bilhão de euros nos três meses encerrados em setembro, acima do 1 bilhão de euros previsto por analistas, beneficiado por perdas com empréstimos abaixo das projetadas.
Os lucros do Standard Chartered no terceiro trimestre ficaram acima do esperado, também impulsionados pelo aumento dos juros. A contribuição de Cingapura para os resultados do banco superou a de Hong Kong, que tem encontrado dificuldades para se recuperar das rigorosas restrições da pandemia. O banco divulgou lucro antes dos impostos de US$ 1,4 bilhão no terceiro trimestre, 40% a mais que nos mesmos meses de 2021, superando as estimativas dos analistas, de US$ 1,1 bilhão.
O bom desempenho do Standard Chartered chega na esteira do anúncio do balanço do rival HSBC, que na terça-feira divulgou lucro recorde no terceiro trimestre, e supera as previsões mesmo após as recentes turbulências em seu mercado local, marcado pelas fortes variações nos títulos do governo do Reino Unido.
Fonte: Valor Econômico

