As cisões estão na moda. O argumento citado com frequência para defender o chamado “spin-off” de uma empresa é que isso libera valor oculto. Mas, como classe de ativos, empresas criadas por um desmembramento têm um histórico irregular.
O drama em curso da Kenvue é um bom exemplo. A empresa, dona de marcas como o analgésico Tylenol, o antisséptico bucal Listerine, Band-Aid e Neutrogena, tem passado por dificuldades desde que se separou da Johnson & Johnson, em maio de 2023.
O preço de suas ações caiu em cerca de um quinto desde sua estreia, o que lhe dá um valor de mercado de US$ 42 bilhões. Em comparação, a empresa rival de bens de consumo Colgate-Palmolive teve uma alta de 8,5% e a própria J&J, um ganho de 2%, talvez por não estar mais sobrecarregada com a unidade de saúde do consumidor.
A Kenvue chamou a atenção não de um, mas de três investidores ativistas: Starboard Value, Third Point Capital e Toms Capital Investment Management. Esta semana, a empresa substituiu de maneira repentina seu executivo-chefe, Thibaut Mongon, e anunciou que levaria a cabo uma revisão estratégica dos negócios, o que incluiria a “otimização” de sua vasta carteira de marcas.
A justificativa para a cisão da Kenvue era simples. O grupo detém algumas das maiores e mais reconhecidas marcas de consumo nos Estados Unidos. Seu crescimento é lento e sua margem, baixa, mas ele gera um fluxo de caixa estável. Essa dinâmica é muito diferente da das divisões de medicamentos e dispositivos médicos que constituem o núcleo da J&J. Uma Kenvue independente seria capaz de gastar mais em marketing e inovação de produtos e estaria mais afastada dos litígios e obrigações relacionados com o talco que têm atormentado a J&J.
Dois anos depois, as coisas não funcionaram tão bem como se esperava. Em seu prospecto de 2023, a Kenvue acreditava que seu setor cresceria a uma taxa anual composta de 3% a 4% até 2025. Mas o fato é que as vendas cresceram a uma taxa anual composta de menos de 1% entre 2021 e 2024. E este ano despencaram, com uma queda de 4% tanto no primeiro como no segundo trimestre, em comparação com os mesmos períodos do ano anterior.
Pelo menos em parte, os problemas da Kenvue estão relacionados a seu setor. Os consumidores estão mais cautelosos e, como resposta, os varejistas têm reduzido ativamente seus níveis de estoque. Além disso, embora a Kenvue garanta não ter observado nenhum aumento significativo na participação de mercado de concorrentes que comercializam produtos com marca própria nas categorias em que atua, a disponibilidade de opções mais baratas de todo tipo, de aspirinas a cremes retinol, deve ser tentadora para consumidores com pouco dinheiro.
Agora, o executivo-chefe interino da Kenvue, Kirk Perry, precisará tentar uma recuperação. Mas a lição mais geral para os que investem em empresas de bens de consumo — da Kraft-Heinz à Kellogg’s — é que mudanças na estrutura empresarial só vão até um certo ponto na criação de valor. Para a caixa registradora tocar, os negócios de base precisam ter um bom desempenho — ou eles mesmos acabarão na cesta de compras de um predador.
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Fonte: Valor Econômico