Comandantes iranianos disseram que não houve danos e que as explosões foram causadas pelas baterias de defesa antiaérea que derrubaram objetos não identificados. Não houve acusações lançadas contra Israel ou pedidos de vingança.
O presidente Ebrahim Raisi não mencionou o ataque ao fazer um pronunciamento ao vivo pela TV horas depois, muito embora as autoridades tenham prometido anteriormente retaliar imediatamente a qualquer ataque direto israelense ao território iraniano.
Em Israel, a resposta foi igualmente silenciosa. Desde que o Irã lançou seu primeiro ataque direto contra Israel a partir de solo iraniano, na semana passada, não havia qualquer dúvida de que o governo de Benjamin Netanyahu responderia. A única dúvida era quando e em que escala.
Mas quando a resposta veio, ela pareceu — até agora — limitada. E Israel não confirmou nem desmentiu o ataque, optando por não assumir a responsabilidade enquanto os israelenses tocavam a vida normalmente.
Por ora, parece que os arqui-inimigos — que vêm colocando em risco a estabilidade no Oriente Médio enquanto aumentam a aposta em seu antigo conflito – recuaram do limiar de uma guerra.
Netanyahu, conhecido por ser avesso ao risco, apesar de sua retórica beligerante, parece ter acatado o conselho dos Estados Unidos e outros aliados ocidentais de Israel, em vez de seus aliados da extrema direita, que queriam um contra-ataque “esmagador”. A resposta comedida e direcionada ao ataque do Irã por enquanto diminui o risco de desencadear uma guerra regional aberta.
O ataque iraniano do fim de semana passado, embora grande em termos de projéteis lançados, foi sinalizado com antecedência e também causou danos mínimos. Teerã, que montou o ataque em resposta ao ataque ao seu consulado em Damasco por Israel, este mês, também deixou claro que “a missão foi cumprida” e que não quer uma escalada. Mas mesmo que a região, que está em suspense há dias, respire aliviada, isso será apenas momentâneo.
Desde o brutal ataque do Hamas em 7 de outubro e da feroz ofensiva retaliatória de Israel na Faixa de Gaza, o Oriente Médio se encontra em uma perigosa espiral ascendente. Hostilidades irromperam em múltiplas frentes entre Israel e militantes apoiados pelo Irã. Tropas dos EUA foram atraídas para o combate no Iraque, Síria e Iêmen. Israel e o Hezbollah, o movimento militante libanês apoiado pelo Irã, estão envolvidos em combates diários na fronteira que em qualquer outro momento seriam considerados uma guerra total.
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imagem de satélite da instalação nuclear do Irã em Isfahan — Foto: Planet Labs PBC via AP
As linhas vermelhas pré-existentes entre Israel, o Irã e seus representantes foram embaçadas, enquanto velhos precedentes foram deixados de lado.
O ataque direto do Irã contra Israel foi uma grande aposta do aiatolá Ali Khamenei, o líder supremo iraniano. Ele deixou de lado, pelo menos temporariamente, sua estratégia de longa data da “paciência estratégica”, para deixar claro que está disposto a arriscar sua maior prioridade — a sobrevivência da república islâmica — e partir para o conflito se sentir que Israel cruzou uma linha.
Ao atacar a missão diplomática do Irã em Damasco, Israel também pressionou demais Teerã, cruzando uma linha crítica para o regime. Para Netanyahu, o ataque foi um sinal de que nenhum alvo está fora de alcance, enquanto Israel tenta restabelecer sua capacidade de dissuasão depois da enorme falha de inteligência demonstrada no 7 de outubro.
O ataque noturno desta sexta-feira (19) teve a características da abordagem mais tradicional de Israel de atingir alvos iranianos com ataques e assassinatos direcionados e calibrados. Mas ainda é muito cedo para assumir que o conflito israelo-iraniano, há muito latente, voltou às sombras.
É de se esperar que Israel continue a atacar alvos iranianos, especialmente na Síria, onde já matou pelo menos 18 membros da Guarda Revolucionária, incluindo comandantes de alta patente, desde outubro. Jatos israelenses teriam atingido alvos militares na Síria durante o ataque desta sexta-feira (19) ao Irã.
Mesmo que os dois lados queiram — conforme afirmam — evitar uma guerra total, outro erro de cálculo ou provocação poderá acender o estopim para a próxima escalada. A situação volátil fica ainda mais precária devido ao fato de as regras mudarem constantemente e os riscos aumentarem: o que um lado considera uma ação calculada, o outro pode considerar uma provocação inaceitável.
Ambos também estão determinados a mostrar que suas capacidades de dissuasão estão sendo restauradas e ambos enfrentam pressões de círculos eleitorais locais para responder às hostilidades do outro.
Esta é a dura realidade desde que o ataque do Hamas matou 1.200 pessoas, segundo as autoridades israelenses. E quanto mais a ofensiva de Israel em Gaza perdurar, aumentando o número de mortos, que as autoridades palestinas afirmam estar em quase 34 mil, maiores serão os riscos. (Tradução de Mario Zamarian)
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Irã adverte que pode produzir arma nuclear, se Israel atacar — Foto: Imagem Valor Econômico
fonte: valor econômico

