Forças dos EUA realizaram na segunda-feira (15) novos ataques contra alvos ligados aos militantes houthis no Iêmen, em meio à interrupção do comércio global causada pelo desvio de navios de carga, para evitar os ataques do grupo apoiado pelo Irã no Mar Vermelho.
O Comando Central do Exército dos EUA disse que suas forças atacaram e destruíram quatro lançadores de mísseis balísticos que os houthis haviam preparado para atacar navios no Mar Vermelho nas primeiras horas do dia. Foi a terceira rodada de ataques das forças americanas contra alvos houthis no Iêmen em menos de uma semana, no momento em que os EUA tentam deter as agressões dos rebeldes nessa via navegável crucial de transporte de cargas da Ásia para a Europa.
No entanto, horas depois, os houthis conseguiram lançar um míssil que atingiu o Zografia, um navio de propriedade grega de transporte de commodities sólidas a granel, que navegava em direção ao Canal de Suez, ponto de saída do Mar Vermelho. O ataque se seguiu a outro, na segunda-feira, contra um graneleiro americano no Golfo de Áden.
Os mais recentes ataques houthis levaram mais categorias de navios a evitar a importante rota marítima através do Mar Vermelho, preferindo uma jornada mais longa entre a Ásia e a Europa via o Cabo da Boa Esperança, no sul da África, e atrasando entregas para as empresas.
Grupos automobilísticos têm sido especialmente afetados pelos atrasos dos navios, que até agora afetaram principalmente navios de contêineres que carregam bens manufaturados e componentes semiacabados.
Na segunda (15), a Volvo Cars disse que suspendeu a produção em sua fábrica na Bélgica depois que a interrupção no transporte atrasou a entrega de caixas de câmbio, enquanto a fabricante de pneus Michelin disse que os atrasos no Mar Vermelho levarão a “paradas ocasionais” em suas fábricas europeias em janeiro.
Números da Clarkson, a companhia de serviços de transporte marítimo de Londres, sugerem que mais classes de navios começam a desviar suas rotas; entre 13 e 15 de janeiro, as chegadas de graneleiros ao Golfo de Áden pela rota do Mar Vermelho caíram 25% em relação à primeira metade de dezembro. Até a semana passada, as chegadas dessas embarcações pouco tinham sido afetadas.
Essa queda ameaça provocar atrasos e custos extras para setores como os de alimentos e metais, que recebem remessas de muitas mercadorias transportadas em navios graneleiros.
A ação dos EUA na segunda-feira (15) seguiu-se a uma onda inicial de ataques por forças do Reino Unido e dos EUA contra mais de 60 alvos houthis no Iêmen nas noites de quinta e sexta-feira (12), que os dois países disseram ter como objetivo conter os houthis e evitar a interrupção do transporte marítimo.
Os houthis prometeram responder agressivamente à ação militar contra eles e a continuar atacando navios. Eles insistem que sua campanha é uma resposta à ofensiva de Israel contra o Hamas.
Os houthis dispararam seu último míssil por volta de 13h45, horário local, em “rotas marítimas internacionais” no sul do Mar Vermelho, segundo o Comando Central dos EUA. O Zografia, que estava vazio quando foi atacado, mas continuou em condições de navegar, prosseguindo em sua viagem e sem registro de feridos, disse um comunicado.
Fuzileiros navais desaparecidos
As forças dos EUA também disseram que a Marinha do país apreendeu mísseis balísticos de fabricação iraniana e componentes de mísseis de cruzeiro, em 11 de janeiro, de um navio que se dirigia para “reabastecer as forças houthis no Iêmen”. Dois fuzileiros navais caíram no mar na operação e a busca por eles seguia na segunda-feira.
Os últimos ataques houthis levantaram a possibilidade de os armadores de embarcações que transportam mercadorias a granel desviem seus navios em massa para longe da rota do Mar Vermelho, como já fizeram empresas que operam navios de transporte te contêineres. As chegadas de navios de contêineres caíram 90% desde o começo de dezembro, segundo a Clarksons.
Uma grande operadora de navios, a NYK Line, do Japão, disse que “suspendeu temporariamente” a navegação de todos os seus navios pelo Mar Vermelho, que incluem graneleiros, navios-tanque, transportadores de gás natural liquefeito (GNL) e de automóveis.
“Para as embarcações que estão navegando perto do Mar Vermelho, a NYK as instruiu a esperar em águas seguras e está considerando mudanças de rota”, disse a companhia.
Outras operadoras de navios de transporte de gás também estão mudando suas rotas. Nils Kristian Strøm, director-gerente da Knutsen LNG, que opera seis navios-tanque para a petroleira Shell, confirmou que os navios que operam para a companhia foram desviados para uma rota mais longa.
Outros três navios de transporte de gás natural a serviço da estatal QatarEnergy, do Catar — que deveriam entrar no Mar Vermelho a caminho para a Europa —, desviaram para rotas diferentes, segundo dados do Kpler, um serviço de informações sobre rastreamento de navios.
O premiê do Catar, o xeque Mohammed bin Abdulrahman al-Thani, disse na segunda-feira que a escalada dos ataques no Mar Vermelho mudou “a maneira como vemos o comércio internacional, como vemos o transporte marítimo internacional, o quão interconectados estamos de leste a oeste”.
Falando no Fórum Econômico Mundial em Davos, o xeque Mohammed disse: “Acredito que se queremos resolver o problema, precisamos resolver o verdadeiro problema, o problema central, que é a guerra em Gaza, para que tudo mais possa ser neutralizado”.
Também em Davos, o assessor de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, disse que seu país acredita que os houthis continuarão ameaçando os EUA depois de seus primeiros ataques. Mais países precisariam confrontar o grupo, disse ele.
“Isso vai até um amplo conjunto de países, incluindo aqueles com influência em Teerã e influência em outras capitais do Oriente Médio, fazendo disso uma prioridade”, afirmou ele.
Tais medidas indicariam que “o mundo inteiro” rejeita a ideia de que um grupo como os houthis possa “basicamente sequestrar o mundo”, como eles estão fazendo, afirmou Sullivan.
Fonte: Valor Econômico

