Por Demetri Sevastopulo, Financial Times — Washington
28/06/2023 17h37 Atualizado há 17 horas
O governo Biden está considerando novos controles à exportação de chips para inteligência artificial (IA), à medida que Washington intensifica seus esforços para tornar mais difícil para a China obter tecnologia com aplicações militares.
A atualização dos amplos controles do Departamento do Comércio dos Estados Unidos às exportações introduzidos em outubro poderá tornar mais difícil para empresas como Nvidia e Advanced Micro Devices (AMD) vender chips avançados para a China, segundo três fontes a par da situação.
A medida teria um efeito significativo sobre a Nvidia, que respondeu aos controles de 7 de outubro projetando os chips de unidades de processamento gráfico chamados A800 e H800 para substituir chips mais avançados cujas vendas ficaram mais restritas sob as novas regras.
O presidente-executivo da Nvidia, Jensen Huang, disse recentemente ao “Financial Times” que os controles às exportações existentes poderão causar um “dano enorme” à indústria tecnológica dos EUA. E acrescentou que eles deixaram sua companhia com “as mãos amarradas nas costas” ao impedi-la de vender seus chips mais avançados para a China.
Os chips A800 e H800 são mais lentos do que os que a empresa substituiu, mas ainda assim são a tecnologia mais importante a impulsionar a pesquisa e o desenvolvimento de IA para as gigantes de tecnologia da China.
Tencent, Alibaba, Baidu, ByteDance e outros grupos chineses fizeram pedidos adicionais de chips da Nvidia quando a onda de IA generativa explodiu na China este ano, segundo duas fontes a par da situação.
A diretora financeira da Nvidia, Colette Kress, disse nesta quarta-feira que o grupo do Vale do Silício não sofrerá um “impacto material imediato” se Washington endurecer os controles às exportações, atingindo os chips A800 e H800. Mas tal decisão teria um efeito sobre a companhia com o tempo, acrescentou ela.
Kress disse que as restrições à venda de unidades de processamento gráfico (GPUs) de centros de dados para a China resultariam, no longo prazo, em uma “perda permanente de oportunidades para a indústria dos EUA competir e liderar um dos maiores mercados do mundo e afetaria nossos negócios futuros e resultados financeiros nesse mercado”.
Kress disse que historicamente a China responde por algo entre 20% e 25% da receita da Nvidia com produtos relacionados a centros de dados.
Os novos controles às exportações seriam o mais novo esforço do presidente Joe Biden para tornar mais difícil para a China a obtenção de tecnologias avançadas, incluindo chips de IA que podem ser usados em tudo que vai de pesquisa e desenvolvimento de armas hipersônicas ao desenvolvimento de armas nucleares.
O “Financial Times” informou em março que empresas chinesas, que incluíam grupos de vigilância de IA que estão na lista de vetos dos EUA, estavam encontrando meios para contornar os controles às exportações, chegando ao ponto de alugar acesso aos chips A100.
O assessor de Segurança Nacional Jake Sullivan descreveu a postura do governo Biden como a criação de uma “cerca alta” em torno de um “pequeno pátio” de tecnologias críticas como a IA, que são capazes de permitir aos militares chineses usar tecnologia americana para prejudicar os interesses de segurança dos EUA.
Paul Triolo, um especialista em China e tecnologia da consultoria Albright Stonebridge, disse que a atualização das regras de 7 de outubro significa que a descrição “pequeno pátio, cerca alta” é “menos crível” porque o impacto seria “amplo e aumentaria substancialmente com o tempo”.
Pequim acusa os EUA de tentar “conter” a China. Em uma medida tomada em maio que a maioria dos especialistas viu como retaliação, a China proibiu os operadores de infraestrutura do país de comprar chips da Micron, a fabricante de semicondutores de Idaho.
Biden também está preparando a emissão de uma ordem executiva que criaria um mecanismo para rastrear investimentos direcionados à China, num esforço para reduzir a possibilidade de investidores americanos ajudarem a apoiar os militares chineses.
Nos últimos meses, EUA e União Europeia (UE) enfatizaram que estão empenhados em “eliminar os riscos” em setores direcionados e não estão pressionando por medidas mais amplas. O primeiro-ministro chinês Li Qiang criticou esta semana essa política, dizendo que qualquer tentativa de eliminar o risco representado pela China é uma “proposta falsa”.
Espera-se que a atualização dos controles à exportação ocorra em algum momento do terceiro trimestre. Isso acontecerá enquanto os EUA e a China tentam estabilizar suas relações, que chegaram ao ponto mais baixo desde que os países estabeleceram laços diplomáticos em 1979.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, visitou a China na semana passada para se encontrar com o presidente Xi Jinping, o ministro das Relações Exteriores Qin Gang e Wang Yi, o diplomata chinês mais graduado.
Xi e Blinken descreveram a visita como “construtiva”. No entanto, os esforços nascentes para estabilizar as relações sofreram um revés imediato quando Biden descreveu Xi na semana passada com um “ditador”, em comentários feitos em um evento de arrecadação de fundos para a campanha presidencial.
O Departamento do Comércio dos EUA e a Nvidia não quiseram comentar a esperada atualização dos controles às exportações, que foi noticiada em primeira-mão pelo “The Wall Street Journal”. (Tradução de Mario Zamarian)
Fonte: Valor Econômico
