Um dos criadores do Google, Sergey Brin está financiando o desenvolvimento de um alucinógeno derivado de um arbusto de floresta tropical para uso como tratamento de saúde mental, marcando o mais recente acordo do Vale do Silício no nascente setor de psicodélicos.
Catalyst4, uma empresa de investimento sem fins lucrativos criado com os recursos da venda da participação do Brin na Tesla em 2021, comprometeu-se a cobrir cerca de US$ 15 milhões de uma rodada de financiamento de US$ 25 milhões para a start-up psicodélica Soneira, de acordo com várias pessoas informadas sobre as discussões. A companhia de biotecnologia está lançando ensaios clínicos analisando a ibogaína, um arbusto nativo da África Ocidental, como tratamento para lesão cerebral traumática (TCE, na sigla em inglês), disseram.
A ibogaína tem sido historicamente usada como parte de rituais espirituais por tribos que vivem nas florestas do Gabão devido aos seus efeitos de alteração da mente, e recentemente ganhou força entre os defensores psicodélicos e pesquisadores de saúde mental.
No início deste ano, uma pesquisa da Universidade de Stanford, financiada pela fundação de caridade de Brin, descobriu que a terapia com ibogaína melhorou os sintomas de saúde mental e a função cognitiva em 30 veteranos militares dos EUA com TCE.
A Soneira – que está sendo aconselhada pelo psiquiatra de Stanford, Nolan Williams, que trabalhou no estudo – está pesquisando como a ibogaína pode ser combinada com medicamentos para mitigar o risco fatal de arritmia cardíaca associada à planta. A empresa também está trabalhando no desenvolvimento de uma versão sintética do composto, disseram. A Soneira planeia lançar ensaios clínicos em fase inicial utilizando o financiamento.
O interesse da fundação de Brin, que foi criada em 2021, é o exemplo mais recente do entusiasmo do Vale do Silício pelos psicodélicos – para uso pessoal e como investimento. O Catalyst4 foi criado com US$ 366 milhões da venda de Brin de toda a sua participação na Tesla.
O fundador da Tesla, Elon Musk, falou publicamente sobre o uso de cetamina para tratar a depressão, e o bilionário investidor em tecnologia Peter Thiel foi um dos primeiros patrocinadores da Atai Life Sciences, uma empresa de biotecnologia que pesquisa tratamentos de saúde mental baseados em psicodélicos e que também está estudando ibogaína para tratar transtornos por uso de opioides.
Até agora, neste ano, quase US$ 180 milhões foram destinados por investidores de risco em biotecnologias psicadélicas, de acordo com dados do PitchBook. O investimento no setor atingiu um recorde em 2021, com US$ 528 milhões arrecadados.
Através da Sergey Brin Family Foundation, o cofundador do Google investiu centenas de milhões de dólares em pesquisas sobre condições neurodegenerativas e psicológicas. Brin, que é a sétima pessoa mais rica do mundo segundo a Forbes, descobriu em 2004 que possui uma mutação genética que o coloca em risco aumentado de contrair a doença de Parkinson.
A Catalyst4, que tinha ativos totais de US$ 430 milhões no final de 2022, tem como objetivo investir em tratamentos inovadores para doenças neurológicas e em tecnologia para mitigar as alterações climáticas, de acordo com um pedido apresentado ao Internal Revenue Service para obter o estatuto de isenção fiscal. Um membro do conselho da Catalyst4 também trabalha para o family office de Brin, o Bayshore Global Management, que tem pelo menos US$ 100 bilhões em ativos e é um dos maiores family offices do mundo.
Cerca de meia dúzia de outros investidores também mantiveram discussões sobre o investimento na Soneira, disseram as pessoas. Estes incluem Helena Special Investments, o investidor de impacto por trás da Lykos Therapeutics, que aguarda uma decisão de aprovação dos reguladores para o MDMA como tratamento para o transtorno de estresse pós-traumático, e o investidor inicial de saúde digital LifeForce Capital. A rodada de financiamento da Soneira deverá terminar depois do verão americano
Soneira e Helena não quiseram comentar a matéria. Catalyst4 e LifeForce não responderam aos pedidos de comentários.
Fonte: Valor Econômico