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As autoridades chinesas estavam preparadas para que Donald Trump desse más notícias em seu retorno à presidência dos EUA: tarifas imediatas de 60% sobre exportações que poderiam desferir um golpe sério na segunda maior economia do mundo.
O que eles obtiveram em vez disso pareceu moderado. Trump primeiro ordenou uma investigação sobre o comércio EUA-China, antes de reiterar na terça-feira (21) a ameaça de uma tarifa de 10% relacionada ao opioide mortal fentanil.
Isso foi o suficiente para atingir as ações e a moeda da China. O índice CSI 300 da China caiu 1% e o Hang Seng de Hong Kong recuou 1,6% nesta quarta-feira (22), enquanto o renminbi offshore enfraqueceu 0,25%.
Ainda assim, os movimentos iniciais de Trump sobre a China foram menos severos do que as tarifas de 25% que ele anunciou sobre os aliados dos EUA, México e Canadá. Ele também sugeriu um possível acordo mais amplo vinculando tarifas à propriedade do TikTok, a plataforma de vídeos curtos controlada pela China que os linha-dura em segurança dos EUA querem fechar.
Apesar da tendência de Trump para declarações erráticas e mudanças rápidas de curso, esse prelúdio mais suave do que o esperado reacendeu a esperança em Pequim de que haveria espaço para negociações para evitar uma segunda guerra comercial. Agora, a questão é que tipo de acordo seria aceitável para ambos os lados.
“Há uma possibilidade de que os dois lados possam fechar um acordo — você pode sentir que há um otimismo cauteloso”, disse Zhao Minghao, professor do Instituto de Estudos Internacionais da Universidade Fudan em Xangai. “Mas precisaremos ver se há uma boa correspondência entre o que Trump e Pequim podem oferecer um ao outro.”
Trump e o presidente da China, Xi Jinping, fizeram uma ligação telefônica no fim de semana antes da posse, a primeira em quatro anos, que o presidente dos EUA descreveu como “muito boa” e abordou “comércio, fentanil, TikTok e muitos outros assuntos”.
Xi também despachou o mais alto funcionário chinês a comparecer a uma posse nos EUA, o vice-presidente Han Zheng, que também se encontrou com líderes empresariais dos EUA, incluindo o confidente de Trump, Elon Musk.
Durante sua campanha, Trump prometeu atingir a China com tarifas de 60% quando assumisse o cargo e, mais tarde, ameaçou com mais 10% no primeiro dia para obrigar Pequim a reprimir os fluxos de medicamentos precursores de fentanil.
Em vez disso, na segunda-feira (20), ele emitiu um memorando orientando as autoridades a investigar o déficit comercial dos EUA e “elaborar medidas apropriadas, como uma tarifa suplementar global ou outras políticas, para remediar tais déficits”.
Ele também pediu ao Representante Comercial dos EUA (USTR) para estudar a conformidade de Pequim com o acordo de “fase um” acordado durante seu primeiro mandato como presidente e considerar tarifas adicionais “particularmente com relação às cadeias de suprimentos industriais e evasão por meio de terceiros países” — um movimento com implicações potencialmente muito mais abrangentes para a China.
Economistas acreditam que parte do comércio da China com os EUA foi desviado por meio de terceiros países para evitar tarifas desde a guerra comercial do primeiro governo de Trump. As autoridades dos EUA devem relatar suas descobertas em 1º de abril.
Embora Trump tenha assinado uma ordem permitindo que o TikTok opere por 75 dias — uma reviravolta em relação ao seu primeiro mandato, quando ele tentou banir o popular aplicativo dos EUA — ele também disse que Pequim precisaria permitir que uma entidade dos EUA ficasse com metade da empresa ou correria o risco de sofrer com tarifas de até 100%.
A vinculação de tarifas à propriedade do TikTok seguiu comentários quixotescos na segunda-feira (20) por Musk, que reclamou que, embora o primeiro tivesse permissão para operar nos EUA, seu site de mídia social X foi bloqueado na China.
Uma pessoa familiarizada com o assunto na China disse que Pequim pode concordar que o proprietário do TikTok, ByteDance, venda a plataforma como parte de um acordo mais amplo que cobriria uma série de questões, incluindo comércio. No entanto, quaisquer discussões desse tipo estariam em um estágio inicial, disse essa fonte.
Autoridades chinesas, que há muito se opõem a uma venda forçada do TikTok e precisariam aprová-la, nos últimos dias pareceram sinalizar uma abordagem mais passiva.
“Quando se trata de ações como a operação e aquisição de negócios, acreditamos que deve ser decidido de forma independente pelas empresas de acordo com os princípios de mercado”, disse o Ministério das Relações Exteriores na terça-feira (21), acrescentando que “as leis e regulamentações da China devem ser observadas”.
Gabriel Wildau, diretor administrativo da consultoria Teneo, escreveu em uma nota de analista que os líderes chineses podem “acreditar que uma resolução amigável da questão do TikTok pode estabelecer bases para a cooperação” em outras questões.
“Isso pode incluir tarifas, controles de exportação e — em um cenário de sonho para Pequim — até mesmo a política dos EUA em relação a Taiwan e ao Mar do Sul da China”, disse Wildau.
No entanto, economistas alertaram que era muito cedo para ter certeza de que o conflito comercial poderia ser evitado. Embora Trump dê sinais de estar mais aberto a acordos, sua administração está cheia de “falcões” (linha-dura) em relação a China, disseram eles.
“Estamos em um momento de espera por enquanto”, disse Fred Neumann, economista-chefe da Ásia no HSBC. “É um tanto encorajador que não tenhamos visto um aumento imediato e tarifas e que talvez haja algum espaço para discussões de antemão. Mas acho que seria uma conclusão errada dizer que a China agora está completamente fora de perigo.”
Além do comércio, Pequim poderia oferecer ajuda a Trump em outras questões, como resolver a guerra na Ucrânia, disse Wang Chong, especialista em política externa da Universidade de Estudos Internacionais de Zhejiang.
Wang alertou, no entanto, que Pequim está pronta para o caso de um rompimento das relações. Mesmo que os EUA comecem com pequenos aumentos de tarifas, isso minaria a confiança dos investidores na China. “Se tarifas forem impostas, a China deve lutar”, disse Wang. (Colaborou Arjun Neil Alim, de Hong Kong)
Fonte: Valor Econômico