Vários bancos de investimento reduziram as projeções de crescimento da China, acreditando que Pequim corre o risco de não atingir a meta oficial de expansão, de cerca de 5%, diante da diminuição da confiança na segunda maior economia do mundo.
Nesta quarta-feira (4), o Bank of America reduziu sua previsão de 5% para 4,8% e o banco de investimento canadense TD Securities, de 5,1% para 4,7%. Essas revisões veem na sequência de cortes similares do UBS, na semana passada, e uma série de pioras nas projeções ao longo do terceiro trimestre.
Nesta semana, economistas do Citigroup advertiram que a meta oficial de crescimento de Pequim — de “cerca de 5%”, a menor em décadas — “pode estar em risco”, o que se soma às preocupações cada vez maiores sobre o rumo da economia chinesa, diante das dificuldades das autoridades para enfrentar a longa recessão do setor imobiliário e a baixa confiança dos consumidores e dos investidores.
A mediana das previsões das dezenas de economistas consultados pela “Bloomberg” para o crescimento anual do Produto Interno Bruto (PIB) chinês caiu de 4,9%, em meados de agosto, para 4,8%. Em 2023, o PIB da China cresceu 5,2%, dentro das previsões.
Analistas do Bank of America disseram que o motor de crescimento da China vem “vacilando” no segundo e terceiro trimestres, acrescentando que a economia “continua sofrendo de um problema de confiança”.
Por décadas, o crescimento do PIB da China alcançou com facilidade as metas do governo, anunciadas no início de cada ano em uma reunião do Parlamento. No entanto, após a pandemia da covid-19, o número passou a ser acompanhado mais de perto e com mais receio.
“Acho que [a razão] pela qual isso agora adquiriu uma importância maior é [que], obviamente, há riscos de desaceleração para o crescimento”, disse Frederic Neumann, economista-chefe para a Ásia no HSBC, que projeta um crescimento de 4,9%. “Ao divulgar a meta de crescimento, você ancora as expectativas no mercado.”
Há “pouca dúvida”, segundo Neumann, de que as autoridades chinesas possam guiar o crescimento para os 5%, tendo em vista seu “forte domínio sobre a economia”.
Em julho, o anúncio de um crescimento abaixo do esperado de 4,7% no segundo trimestre desencadeou uma série de cortes nas estimativas. Goldman Sachs, Citigroup e Barclays reduziram em julho suas projeções de expansão anual, que estavam em 5%, para 4,9%, 4,8% e 4,8%, respectivamente. O JPMorgan prevê um crescimento de 4,6%.
Na semana passada, o UBS comunicou que agora também projeta um aumento de 4,6% em 2024 e de apenas 4% em 2025, destacando uma “recessão do setor imobiliário mais profunda do que a prevista” e seu impacto no consumo das famílias. “Nesse conjunto de políticas, o crescimento ainda é uma prioridade, mas provavelmente não tão importante quanto era no passado”, disse Ning Zhang, economista sênior para a China no banco suíço. “O governo ainda não está no modo de ‘fazer tudo o que for preciso’ para reviver o crescimento econômico.”
O UBS também revisou para baixo sua estimativa para o deflator do PIB da China, que reflete a diferença entre preços nominais e reais, por prever que as “pressões deflacionárias” persistirão “por mais tempo”.
Antes da divulgação dos dados de agosto sobre a economia e a inflação, marcada para a próxima semana, o Citigroup destacou na terça-feira que esse mês representou um “golpe duplo, de choques climáticos e de demanda fraca”, observando que houve uma queda de 8,5% na produção de aço, ainda maior que a de julho, de 5,3%.
Hunter Chan, economista do Standard Chartered, que prevê um crescimento de 4,8% em 2024, enfatizou também o risco de “escalada das tensões comerciais entre a China e outras economias” na esteira do impacto da desaceleração imobiliária na primeira metade do ano. “Neste momento, a política do governo para o setor imobiliário residencial é [tentar] uma estabilização”, disse.
A China não atingiu a meta de expansão de 5,5% do PIB em 2022, ao crescer apenas 3% em meio aos rigorosos lockdowns da covid-19. Em 2024, a série de dados decepcionantes divulgados até agora tem motivado apelos por mais estímulos governamentais.
Alex Loo, estrategista do TD Securities, projeta que, na ausência de uma expansão orçamentária no meio do ano, Pequim voltará a ficar abaixo da meta em 2024, diante do quadro de “gastos tímidos”, de falta de investimento privado e de “sedimentação do pessimismo” entre as empresas locais e os principais importadores.
Ele disse que, se os dados de agosto voltarem a ficar abaixo das expectativas, as autoridades provavelmente evitarão “mencionar a meta, assim como em 2022”.
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Fonte: Valor Econômico
