No primeiro debate da história dos EUA entre um presidente e um ex-presidente, o democrata Joe Biden — que tinha como principal estratégia reduzir as especulações sobre seus 81 anos — estava mais afônico e parecia mais frágil do que o normal. Em contraste, seu adversário, o ex-presidente Donald Trump, mostrou-se assertivo.
Todo o confronto foi marcado pela aparência de cansaço do presidente, que gaguejava, esquecia palavras e não conseguia rebater Trump. Sem resistência, o republicano abusou de afirmações evasivas, distorcidas ou falsas — como quando disse que “milhares de imigrantes ilegais viviam em hotéis de luxo de Nova York” ou que os democratas defendiam o aborto “até depois do oitavo ou nono mês de gravidez”.
Para o jornalista John King, da emissora CNN, que organizou o debate, o desempenho do candidato à reeleição causou “pânico no Partido Democrata”.
Outros comentaristas que acompanhavam o debate qualificaram o desempenho de Biden como desastroso. “A tela dividida não é gentil com Biden. Enquanto Trump fala, o presidente observa, boquiaberto, com os olhos se movendo de um lado para o outro”, disse o comentarista do jornal “The New York Times” Reid Epstein. “Mas enquanto Biden fala, sua voz está rouca e ele está tendo problemas para expressar pensamentos completos. Se esperava dissipar as preocupações com a idade, Biden não fez isso.”
Trump fez uma declaração bombástica ao afirmar que, se ele não vencer a eleição de novembro, será porque a eleição não foi justa. Após a terceira indagação sobre se ele aceitaria uma derrota eleitoral, ele repetiu: “Se for limpa e justa…”.
Biden começou no ataque criticando o governo de Trump. “Trump não fez muita coisa quando deixou o cargo. Estava tudo um caos, tivemos de restabelecer a situação”, disse. “Tivemos a melhor economia da história deste país, todos os países do mundo nos copiavam e, na covid, gastamos o que era necessário”, rebateu.
O final do bloco sobre economia deu lugar a perguntas sobre aborto, um tema considerado mais confortável para Biden do que para Trump. Mas a vantagem do presidente, aparentemente, foi menor do que a que se esperava.
Trump defendeu-se das acusações de ter promovido a decisão da Suprema Corte de derrubar a jurisprudência Roe vs. Wade — que garantia nacionalmente o direito à interrupção da gravidez — argumentando que o melhor é transferir a responsabilidade da legislação para os Estados. E acusou os democratas de “matar bebês com até nove meses de gravidez. Biden respondeu com um “você simplesmente é um mentiroso”.
Biden esboçou uma reação quando os mediadores passaram a perguntar sobre temas de imigração. “Aumentamos a proteção nas fronteiras. Ele [Trump] colocou famílias em jaulas. Não é assim que se faz. Agora, 40% de pessoas a menos cruzam as fronteiras de forma ilegal”, diz Biden.
“Acho que ele (Biden) não sabe o que diz. Nós tínhamos a fronteira mais segura da história do país e tudo o que ele precisava era deixar assim. Tínhamos as políticas mais seguras e agora temos as piores”, respondeu Trump. “Temos criminosos entrando nos EUA aos milhares, todos os dias. E não só da América do Sul, mas também terroristas do Oriente Médio e outros”, disse.
Trump também deixou clara a discordância em relação ao trato americano com a guerra na Ucrânia. “Cada vez que [o presidente ucraniano, Volodymyr] Zelensky, vem aqui, ele sai com bilhões de dólares de americanos”, afirmou. Biden rebateu afirmando que Trump incentivou o líder russo Vladimir Putin a invadir a Ucrânia.
Alguns assuntos espinhosos fizeram Trump se mostrar mais agressivo do que o normal. Ao ser indagado sobre o ataque ao Congresso de 6 de janeiro de 2022, ele mudou de assunto. “O filho dele é um condenado”, disse Trump, referindo-se à condenação de Hunter Biden, acusado de comprar armas irregularmente.
Trump também negou que tivesse tido relações com a atriz pornô Stormy Daniels — um caso que rendeu uma condenação criminal ao republicano. “Você fez sexo com uma atriz pornô quando sua esposa estava grávida” disse Biden, elevando o tom e acrescentando que o oponente tem uma “moral de um gato de rua”.
Fonte: Valor Econômico

