A grande onda global de inflação está em queda, mas os preços em alto patamar vistos nos últimos anos vieram para ficar, em um cenário de crescimento baixo, alto endividamento dos países e aumento das barreiras comerciais, alertou ontem Kristalina Georgieva, diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Georgieva ressaltou que o cenário de curto e médio prazo para a economia global pode limitar a atuação de governos em investimentos essenciais, disse ela em uma entrevista que antecede o início do encontro anual em Washington na próxima semana.
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“A grande onda de inflação global está recuando”, disse Georgieva. “E isso foi feito sem levar a economia global à recessão e perdas de empregos em larga escala — algo que muitos temiam que veríamos novamente.”
Números divulgados pela agência de estatísticas da União Europeia ontem mostraram que a taxa anual de inflação caiu para 1,7% em setembro, abaixo da meta de 2% do Banco Central Europeu pela primeira vez desde junho de 2021. No Reino Unido, a inflação também caiu para 1,7%, enquanto nos EUA os preços subiram 2,4%.
Os bancos centrais responderam à queda na inflação reduzindo os juros, aliviando a restrição aos gastos das famílias e ao investimento das empresas. Mesmo assim, a perspectiva é de um crescimento econômico global “sem brilho”, enquanto os juros sobre dívidas acumuladas pelos governos durante a pandemia são “assustadores”, disse Georgieva. “Mesmo os partidos políticos tradicionalmente conservadores em termos fiscais estão desenvolvendo um gosto por empréstimos para gastar.”
No início da semana, o FMI divulgou seu relatório Monitor Fiscal, no qual alertou que a dívida pública total deve ultrapassar os US$ 100 trilhões este ano, o equivalente à cerca de 93% do PIB global.
“Nossas previsões apontam para uma combinação implacável de baixo crescimento e dívida elevada — um futuro difícil”, disse Georgieva. “Podemos ver as difíceis escolhas de gastos se tornarem ainda mais difíceis. Escolas ou clima? Conectividade digital ou estradas e pontes?”, acrescentou.
Para a diretora-gerente do FMI, os riscos geopolíticos também pesam na previsão de crescimento baixo, especialmente com as tensões no Oriente Médio, que tem o potencial para desestabilizar economias regionais e os mercados globais de petróleo e gás.
Diante de um cenário de crescimento baixo e de tensões geopolíticas, Georgieva afirma que “grandes players” da economia global irão recorrer cada vez mais ao protecionismo sob pretexto de segurança nacional, o que irá provocar um efeito em cadeia de restrições comerciais. Com esse movimento, a diretora do FMI alerta que o comércio deixará de ser o motor de crescimento como foi no passado.
“Esse fraco crescimento não será suficiente para erradicar a pobreza mundial. Nem para criar o número de empregos necessários. Nem para gerar as receitas fiscais que os governos precisam para lidar com grandes dívidas enquanto atendem às enormes necessidades de investimento, incluindo a transição verde.”
O FMI irá divulgar novas previsões para o crescimento econômico global na próxima semana. Em julho, os economistas do Fybdo estimavam uma expansão de 3,2% para este ano e de 3,3% em 2025.
Apesar dos crescentes desafios para os próximos anos, Georgieva ressaltou que o mundo conseguiu escapar de um cenário de recessão graças a “combinação de ações decisivas de política monetária, alívio nas restrições das cadeias de suprimentos e moderação nos preços de alimentos e energia”, metas atingidas graças a “bases políticas sólidas” e “cooperação política internacional”. “Não tomemos as tensões globais como dadas, mas sim a determinação em trabalhar para diminuir a temperatura geopolítica e atender às tarefas que só podem ser enfrentadas em conjunto”, disse ela.
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Fonte: Valor Econômico

