Por Arthur Cagliari, Eduardo Magossi e Daniel Gateno — De São Paulo
18/11/2022 05h02 Atualizado
Em mais uma sessão, os comentários dos integrantes do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) azedaram o humor dos investidores em Wall Street. Ontem, ainda que os índices acionários tenham oscilado bastante, flertando com ganhos em alguns momentos, o pregão terminou com as três referências no vermelho. Dos discursos e apresentações dos membros do banco central americano, o que surpreendeu foi um gráfico apresentado pelo chefe do Fed de St. Louis, James Bullard. A imagem sugeria que as taxas dos Fed funds poderiam alcançar 7%.
Ainda que ao longo da sessão os índices tenham buscado recuperar terreno (até mesmo nos minutos finais de negociação), não foi possível consolidar algum otimismo no pregão. No fim do dia, o índice Dow Jones registrou perdas de 0,02%, aos 33.546,32 pontos, enquanto o S&P 500 recuou 0,31%, a 3.946,56 pontos, e o Nasdaq exibiu queda de 0,35%, a 11.144,96 pontos.
Entre os 11 índices setoriais do S&P 500, o melhor desempenho ficou com o segmento de tecnologia, com alta de 0,21%. Entre os principais ganhadores do segmento estava a Cisco Systems, que viu suas ações avançarem 4,96%, depois de a companhia elevar sua orientação para o ano inteiro e registrar receita acima das estimativas dos analistas.
Ontem o presidente da distrital do Fed de St. Louis, James Bullard, disse que mesmo para quem assume uma postura menos agressiva em relação ao aumento dos juros, a atual taxa dos Fed funds ainda não está restritiva suficientemente para combater a inflação alta. “Minha abordagem sobre essa questão é baseada em suposições ‘generosas’ – suposições que tendem a favorecer uma política mais ‘dovish’ [favorável ao afrouxamento monetário] em detrimento de uma mais ‘hawkish’ [favorável ao aperto da política]”, disse ele, em evento organizado pela Greater Louisville.
Bullard afirmou ainda que no passado esperava uma taxa final dos Fed funds no intervalo de 4,75%/5%. Mas, “com base nesta análise de agora, diria 5%/5,25%. Esse é um nível mínimo”. Não bastasse todo esse discurso “hawkish” em pele “dovish”, Bullard ainda apresentou um gráfico sugerindo que uma regra de Taylor “menos generosa” para política monetária poderia elevar os juros para faixa de 5% a 7%.
Ainda ontem, Neel Kashkari, do Fed de Minneapolis, reforçou o que já vinha afirmando sobre o BC americano continuar aumentando as taxas de juros até ter certeza de que a inflação atingiu um teto. “O banco central não pode ser excessivamente persuadido pela inflação de um mês”, disse Kashkari, em um evento patrocinado pela Câmara de Comércio de Minneapolis.
Com tais comentários, os rendimentos dos títulos do Tesouro americano avançaram. O retorno da T-note de dez anos exibiu ganho, a 3,771%, de 3,693% do fechamento de quarta. Enquanto o retorno do papel de dois anos subiu a 4,458%, de 4,387%. Já o índice DXY, que mede o peso do dólar ante seis divisas de mercados desenvolvidos, operava perto do fechamento do mercado em alta de 0,35%, a 106,655 pontos.
Na manhã de ontem, indicadores econômicos mostraram uma fraqueza no setor imobiliário. A construção de novas casas no mês de outubro caiu 4,2% ante setembro, enquanto a projeção era um recuo de 2%.
Como apontou a Pantheon Macroeconomics, a demanda por casas desmoronou após o aumento nos custos de empréstimos, e a maioria das construtoras está agora com estoques excessivos substanciais. “As taxas de hipoteca agora atingiram o pico, portanto, é improvável que a demanda caia muito mais”, disse Kieran Clancy, economista sênior para Estados Unidos. “A maior parte dos danos às construtoras já foi feita, mas qualquer trégua no próximo ano será, na melhor das hipóteses, limitada.”
Fonte: Valor Econômico

