O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) reforçou sua postura conservadora na ata da reunião dos dias 30 e 31 de janeiro do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês). Com isso, deixou ainda mais distante um corte de juros nos próximos encontros do colegiado. O documento foi divulgado na tarde de ontem.
O mercado já havia desfeito a ideia de um início mais imediato de reduções nos juros desde que indicadores de emprego e inflação em janeiro mostraram sinais de economia ainda aquecida. A ata, embora se refira a uma decisão tomada antes da divulgação desses dados, deu mais força a essa visão.
A ata mostrou grande preocupação dos membros do Federal Reserve com os riscos inflacionários nos Estados Unidos e a possibilidade de que as condições financeiras não estejam apertadas o suficiente – ou seja, que as altas nas taxas de juros não tenham surtido o efeito esperado. A maioria dos membros do colegiado notou que há maior risco de iniciar o processo de corte de juros muito cedo do que de começá-lo tarde demais. As taxas estão na faixa entre 5,25% e 5,50%.
Para Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, ata indica que o Fed só deve efetivar um corte de juros na reunião de junho do Fomc, e não nos próximos encontros do colegiado, agendados para março e maio. Ele destaca o fato de que os últimos dados do mercado de trabalho e da inflação nos Estados Unidos vieram bem mais fortes que o esperado.
Sob a mesma premissa, o UBS alterou o seu cenário-base para o início dos cortes, que passou de maio para junho, segundo nota assinada pelo economista-sênior para os EUA do banco, Brian Rose. Ele também aponta a resiliência da economia americana como o principal fator para o atraso do afrouxamento pelo Fed.
Leal, porém, diz que a cautela e a postura reativa do Fed podem trazer uma pressão desnecessária para a maior economia do mundo. O economista afirma não ter como cenário-base a tese de “pouso suave” neste ano, e espera ao menos dois trimestres de contração do PIB dos Estados Unidos. Assim, ele diz enxergar a possibilidade de que o Fed tenha que acelerar o ritmo de cortes no futuro próximo para combater um enfraquecimento mais robusto da atividade.
Segundo ele, essa previsão provém de dois motivos. O primeiro é que entre maio e junho fará um ano desde que a política monetária do Fed está efetivamente contracionista, já que o imbróglio envolvendo o teto da dívida fiscal americana atrasou o efeito do aperto do banco central no primeiro semestre de 2023. Mais importante que isso, Leal projeta um enfraquecimento dos gastos de consumidores em meados do ano, à medida que a poupança se esgotar. Segundo ele, isso deve retirar 1,1 ponto percentual do PIB por trimestre em base anualizada.
Fonte: Valor Econômico

