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Farmacêuticas brasileiras como Apsen, Cristália e Libbs têm adotado como estratégia focar pesquisa e desenvolvimento em medicamentos inovadores, seja com remédios inéditos (inovação radical) ou em novas formas de uso e combinações de produtos já existentes – conhecida como incremental.
Também está no radar a produção de Ingredientes Farmacêuticos Ativos (IFAs) nacionais, que representam menos de 10% dos insumos utilizados no país – dependente das importações para suprir 90% de suas necessidades -, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Farmoquímica e de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi).
Embora os genéricos correspondam por grande parte do mercado de medicamentos brasileiros, os projetos inovadores ganham destaque ao ampliar o tíquete médio do portfólio das farmacêuticas, incentivar a pesquisa e diminuir a dependência externa.
“A indústria nacional cresceu muito em cima dos biossimilares, brinco que é o feijão com arroz. Mas mesmo assim não é tão simples de desenvolvê-los, e agora não só a Libbs como outras indústrias estão avançando em projetos de maior complexidade. É uma nova onda para farmacêuticas que não focam (apenas) em expansão de volume”, diz Anna Guembs, diretora de desenvolvimento de negócio da Libbs.
A companhia teve faturamento bruto de R$ 3,9 bilhões no ano passado e planeja dobrar a receita nos próximos sete anos. Um dos lançamentos em inovação incremental é o Venzer, direcionado ao tratamento de hipertensão arterial não controlada. O medicamento combina os princípios ativos candesartana, anlodipino e clortalidona.
Guembs diz que esse tipo de inovação pode aumentar a adesão aos tratamentos, ao reduzir o número de comprimidos diários. Já outros formatos de medicação, como géis transdérmicos, reduzem os efeitos colaterais por não passarem pelo sistema digestivo.
A divisão de negócios de varejo da Libbs é composta por medicamentos para sistema nervoso central, saúde cardiometabólica, saúde feminina e dermatologia. Já na linha institucional, a farma é fornecedora de medicamentos oncológicos e hematológicos, além de doenças autoimunes.
A fábrica de alta potência da companhia, chamada de Planta Piloto Biotec, foi inaugurada em dezembro de 2024 após investimentos de R$ 83,1 milhões. A unidade será dedicada exclusivamente à produção de medicamentos orais contra o câncer, em produção a depender da aprovação dos projetos de pesquisa.
A companhia sediada em Embu das Artes (SP) prevê mais de R$ 1 bilhão em investimentos em inovação até 2032, distribuídos em mais de cinquenta projetos de produtos. No ano passado, os aportes em P&D somaram R$ 165,8 milhões.
O montante foi investido em novas tecnologias, ferramentas, inovação radical a chamada inovação aberta, em que a companhia financia desenvolvimentos de startups e universidades por meio de venture capital. Uma dessas parcerias foi com o Centro de Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que se prepara para produzir o IFA da primeira vacina totalmente brasileira contra a covid-19.
O projeto acaba de iniciar a terceira fase de estudos clínicos, com 5,4 mil voluntários. Essa é a última etapa antes do pedido de registro do imunizante à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A parceria com a UFMG também deve representar a farmacêutica no segmento de CDMO, sigla em inglês para prestadora de serviços para desenvolvimento e manufatura.
A Cristália, que inaugurou uma nova fábrica em Montes Claros (MG) para expandir sua produção, prepara a curto prazo o lançamento de “outros cinco ou seis” fármacos inovadores. Dentre os medicamentos pesquisados estão uma espécie de “resgate” para pessoas em overdose de drogas, inédito no mundo, além de uma vacina que pode prevenir a dependência química ao dessensibilizar o organismo contra certas substâncias.
A companhia já havia anunciado os resultados de pesquisas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para a polilaminina, medicamento que pode reverter a tetraplegia. A proteína existente na placenta humana, estudada pela UFRJ há mais de 20 anos, demonstrou forte potencial de recuperação da medula após acidentes.
O presidente da Cristália, Ogari Pacheco, diz que um grupo de pesquisadores procurou recentemente a companhia para discutir também pesquisas sobre a atuação da polilaminina em casos de degeneração ocular. “A polilaminina não é uma droga mágica que serve para tudo, mas atua na regeneração de neurônios e pode haver espaço para mais doenças. Não prometo que vai curar, mas vamos estudar tudo que pode ser alvo. Por enquanto, temos comprovação de regeneração neurônios motores, no caso da paraplegia”, diz.
A companhia teve faturamento de R$ 3,5 bilhões no ano passado, alta de 6% sobre 2023. Para este ano, a Cristália projeta faturamento de R$ 3,9 bilhões.
Já a Apsen lançou 180 novos projetos nos últimos dez anos, que representam 66% da receita total da companhia neste ano. A empresa teve receita de R$ 1,41 bilhão em 2024, alta de 12% em relação a 2023. Já o lucro líquido cresceu 8%, para R$ 96,3 milhões. Os aportes em P&D representam cerca de 7% da receita. A companhia investirá R$ 432 milhões nos próximos cinco anos, sendo R$ 338,1 milhões para uma nova fábrica e os R$ 94,4 milhões restantes em modernização.
O vice-presidente comercial da Apsen, Márcio Castanha, diz que a estratégia é trazer ao Brasil medicamentos até então inéditos. Um dos destaques do portfólio no Brasil é a marca Atentah, primeiro medicamento para o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) não-estimulante. Cerca de 200 mil pessoas utilizaram o cloridrato de atomoxetina no ano de lançamento do medicamento, o que representa cerca de 20% dos pacientes de TDAH em tratamento.
Fonte: Valor Econômico