Por Pak Yiu e Cheng Ting-Fang — Nikkei de Hong Kong e Taipé
13/12/2022 05h01 Atualizado há 4 horas
O setor industrial da China se prepara para um aumento dos novos casos de covid-19 que pode desacelerar ainda mais a produção, como resultado da inesperada guinada na política na política de tolerância zero contra o vírus na semana passada. Com a ômicron se espalhando rapidamente, os hospitais público reportam longas filas e dificuldade em atender o súbito aumento da demanda.
Na quarta-feira, Pequim aliviou algumas das medidas mais duras de combate à covid no mundo, que se basearam em anos de lockdowns e testes em massa para conter os surtos da doença.
A flexibilização das restrições, após protestos generalizados contra as medidas, tem sido elogiada por muitos moradores frustrados. Mas as empresas veem as notícias com cautela devido às preocupações com um esperado aumento nas infecções – algo semelhante ao que se viu em outros países logo após o alívio das restrições.
“Teremos de fazer algumas mudanças em nossa fábrica à medida que o vírus se espalhar e isso será difícil porque não temos como controlar os casos”, disse Fabien Gaussorgues, presidente-executivo da fabricante de produtos eletrônicos Agilian Technology.
Os funcionários da fábrica serão obrigados a fazer um teste diário rápido, disse Gaussorgues, que teme que os casos positivos possam provocar um fechamento de sua fábrica perto de Shenzhen, no sul.
Outro dono de uma fábrica que produz artigos de Natal e outros produtos para festas, teme que a disseminação do vírus venha a prejudicar a produção. “Você não pode permitir que os infectados trabalhem”, diz Richard Chan, empresário de Hong Kong que comanda uma fábrica em Dongguan, no sul do país. “Um passa para o outro, dois casos se tornam quatro, quatro se tornam oito.”
Os lockdowns contra a covid já causaram perturbações na produção: a fabril na China desacelerou no mês passado para o nível mais baixo em sete meses.
Os sistemas de circuito fechado – onde os trabalhadores moram e trabalham em ambientes controlados para manter a produção quando uma cidade encontra-se em lockdown – funcionaram amplamente, mas também semearam frustração entre os trabalhadores que ficaram isolados nas fábricas.
Em Zhengzhou, no centro do país, a fábrica da maior fabricante de iPhones do mundo, que entrou em produção de circuito fechado em outubro, foi abalada por protestos no mês passado devido a atrasos nos pagamentos de bonificações e escassez de alimentos.
O setor manufatureiro, uma grande força motriz da segunda maior economia do mundo, depende muito dos migrantes de áreas rurais que se dirigem para centros de exportação como Guangzhou para trabalhar. Retomar plenamente a atividade no setor seria fundamental para revitalizar a economia em queda da China, mas analistas afirmam que a jornada será longa e lenta, mesmo com o alívio das medidas.
“Uma flexibilização dessas restrições, como estamos vendo agora, poderá levar a algum estresse no curto prazo, quando surtos suspenderem as operações das fábricas, mas se consideramos as perspectivas em alguns meses, uma estabilização da pandemia e a normalização da logística serão grandes notícias para os fabricantes”, disse Xu Tianchen, economista da Economist Intelligence Unit.
A reviravolta na política para a covid na China mudou as expectativas de economistas e investidores, complicando as estimativas para saber como essas mudanças afetarão o crescimento. As ações chinesas caíram ontem em meio a alguma realização de lucros após seus fortes ganhos recentes e os investidores estão preparados para a turbulência do mercado em 2023, à medida que o país traça seu caminho de reabertura.
As autoridades não abandonaram totalmente as restrições da pandemia, mas agora recomendam que pacientes assintomáticos e pessoas com sintomas leves cumpram quarentena em suas casas, em vez de procurar hospitais públicos. Também estão acabando com os lockdowns em massa. Mas após três anos apontando a covid-19 como uma ameaça mortal, os chineses têm corrido aos hospitais aos primeiros sintomas da doença. Só que os hospitais, em especial os públicos, estão mal preparados – e com boa parte de seu pessoal doente – e enfrentam dificuldade para lidar com o aumento de casos. A população também enfrenta dificuldade em encontrar remédios, pois muitos serviços de entrega foram suspensos porque os entregadores adoeceram.
Alguns hospitais já estão suspendendo tratamentos não relacionados à covid, como diálise, tratamentos cardíacos e de câncer – o que pode aumentar as mortes não relacionadas à covid.
Médicos e enfermeiros de pelo menos um hospital de Pequim foram requisitados a continuar trabalhando, mesmo que tenham contraído covid, se seus sintomas forem leves, disse um funcionário. A equipe de outro hospital da cidade foi convocada de volta ao trabalho de férias, segundo outra fonte. (Com agências internacionais)
Fonte: Valor Econômico

