Apesar dos ruídos em torno das medidas do governo para ampliar a arrecadação e cumprir a meta de resultado primário deste ano, o viés externo de dólar fraco e de alocação de investimentos para ativos de risco pode continuar a favorecer os mercados domésticos. É o que avalia, em “call” mensal, o economista-chefe e sócio da Legacy Capital, Pedro Jobim, no momento em que a gestora tem atuado de forma tática com os ativos brasileiros.
“O governo, nas últimas semanas, acabou se atrapalhando com medidas de impostos”, diz Jobim, ao lembrar o anúncio inicial de aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e o posterior recuo, com sua substituição parcial pela elevação de Imposto de Renda (IR) sobre aplicações financeiras.
“O governo lança mão desses instrumentos quando precisa encontrar uma arrecadação ainda no curto prazo. As medidas não são boas para vários setores da economia; prejudicam o agro, o setor imobiliário, o setor de infraestrutura e várias empresas listadas.”
Jobim nota ainda que algumas das maiores empresas brasileiras “são muito atingidas pelo aumento da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e do IR sobre os juros sobre capital próprio (JCP), então acaba ficando, no curto prazo, um ambiente desfavorável para vários ativos do Brasil.”
Diante da polêmica em torno do IOF e das medidas arrecadatórias do governo, que se somam a um ritmo de expansão ainda bastante forte da atividade econômica doméstica, Jobim observa que ganhou força a chance de o Banco Central dar prosseguimento ao ciclo de elevação dos juros, com um aumento de 0,25 ponto percentual na Selic, que, assim, chegaria a 15%. O ciclo, porém, não deve ir além disso, na visão de Jobim.
O economista, inclusive, espera que a atividade econômica dê sinais mais claros de desaceleração na segunda metade do ano, diante do nível elevado das taxas de juros. Ao observar os dados mais recentes, Jobim nota que a economia seguiu robusta, em uma dinâmica “um pouco diferente” do restante do mundo, mesmo ao se desconsiderar a composição do PIB agrícola no primeiro trimestre.
Como o consumo permanece aquecido, a projeção da gestora para o ano de 2025 é de crescimento do PIB de 2,5%, mas com um processo de desaceleração no segundo semestre. Jobim, contudo, ressalta que ainda não é nítido o processo de desaquecimento da atividade nem no mercado de trabalho nem nas concessões de crédito.
Por outro lado, o economista afirma que a inflação, embora ainda esteja acima da meta, tem mostrado um comportamento “um pouco mais favorável”. “São números ainda elevados, mas, no caso de 2026, já começa a ficar próximo ao limite superior da meta de inflação”, diz Jobim, ao projetar o IPCA em 5,2% neste ano e em 4,8% para o fim de 2026.
Fonte: Valor Econômico

