Na decisão de ontem, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deu alguns sinais de que o espaço para os cortes de juros, neste momento, está ficando menor. No entanto, o diretor de investimentos da Jubarte Capital, Eduardo Camara Lopes, acredita que os ciclos de política monetária possuem componentes endógenos e exógenos e, assim, quando as condições globais permitirem, o afrouxamento monetário no Brasil deve ser retomado e a Selic deve alcançar níveis mais baixos.
“Existe um componente do ciclo que é endógeno e, por esse fator, vimos a Selic sair dos 13,75% até chegar nos níveis atuais. Mas, certamente, haverá uma segunda fase do ciclo que será impulsionada pelo ambiente global, que foi postergada recentemente. Ainda não sabemos se o Fed vai começar a cortar [os juros] em setembro ou dezembro. Mas, quando isso acontecer, o Brasil vai ter condições de ter uma segunda pernada de afrouxamento monetário”, afirma Lopes.
O profissional exemplifica ao lembrar do ciclo de flexibilização monetária entre 2016 e 2020, quando as taxas saíram dos 14,25% até tocarem as mínimas de 2% após a pandemia. “O ciclo não foi linear e não ocorreu em um movimento único. Todo ciclo tem esses componentes endógenos e exógenos e este não é diferente”, diz.
Lopes aponta que, de modo geral, os ciclos de política monetária — para cima ou para baixo — acabam sendo maiores que o esperado no primeiro momento. “Acabamos, normalmente, tendo ciclos maiores. Em 2026, poderemos contar a história de 2024, de uma taxa de juros que veio de 13,75% para 7%. Ainda estamos no meio do caminho, mas, juntando fatores endógenos e exógenos, veremos um ciclo mais extenso, ex-post. O diabo é que temos marcação a mercado todo dia e o caminho é bastante volátil”, afirma.
Sobre o Copom de ontem, Lopes avalia que há duas óticas para avaliar a divisão observada entre os membros do colegiado. A primeira é que a decisão ficou entre o 0,5 ponto e o 0,25 ponto — e não entre 0,25 ponto e zero —, o que indica que ainda há algum espaço para cortes de juros nas próximas reuniões.
“A segunda é um sinal ruim. Os quatro dissidentes foram os nomeados pelo governo. É uma coincidência inconveniente porque pode sugerir que os indicados pelo Lula tenham uma tendência a ser mais ‘doves’ [a favo de juros mais baixos]. Como no ano que vem teremos novos indicados, isso pode sugerir que essa será a nova característica do Banco Central. Se pegarmos pela memória, o BC do governo Dilma errou bastante a mão no controle da política monetária. As expectativas não conseguiram convergir para a meta e, naquele BC, o centro da meta acabava sendo o seu teto. Ainda estamos distantes de dizer que o cenário atual é semelhante, mas gera uma incerteza adiciona”, afirma.
“Neste contexto, eu acho que o Copom vai ter a oportunidade de explicar a dissidência na ata e, com isso, vamos ter mais informações. O medo, que eu acho que é um risco de cauda neste momento, é termos um BC semelhante ao que tivemos durante o governo Dilma. Isso seria muito ruim”, avalia o executivo.
Em termos de posicionamento, a Jubarte tem reduzido algumas apostas em Brasil nos últimos dias, diante da piora do cenário global e local. “Passamos a ter um portfólio um pouco mais defensivo, já que essa primeira fase do ciclo vai ser um pouco menos profunda — o que não invalida o fato de que, na hora que o Fed começar a cortar os juros, isso acaba tendo um efeito no Brasil”, aponta.
As preferências da Jubarte são em juros mais curtos e também nos juros reais. “Diminuímos bastante a parte de renda variável e temos também algumas proteções no dólar”, aponta Lopes.
fonte: valor econômico

