O cobre excedente acumulando-se nos armazéns da China chegou ao maior patamar em quatro anos, após a alta das cotações e a fraca demanda dos consumidores terem levado as fábricas da maior economia da Ásia a reduzir a compra do metal industrial mais importante do mundo.
Os estoques do metal nos armazéns da Bolsa de Futuros de Xangai aumentaram para cerca de 330 mil toneladas em junho, o nível mais alto desde 2020, de acordo com dados da “Bloomberg”. A ocasião anterior que atingiram esse nível foi em 2015.
De acordo com Zhang Jiefu, analista sênior da Zhengxin Futures, o metal excedente “simplesmente não tem como ser consumido” e os fabricantes de fios e cabos estão sob “enorme pressão”, em razão da desaceleração no setor imobiliário da China.
O cobre é muito usado em fiações elétricas, encanamentos e eletrodomésticos, quando a construção de edifícios é concluída.
O aumento dos estoques de cobre coloca em evidência o frágil estado do setor industrial do país, que reduziu a demanda quando o metal atingiu o recorde de mais de US$ 11 mil por tonelada em maio, impulsionado por uma onda especulativa liderada pelos Estados Unidos.
Os estoques em armazéns vinculados às maiores bolsas de metais do mundo são usados por operadores e analistas como termômetros da força do mercado, pois crescem quando há excesso de oferta e se exaurem quando a demanda está alta.
“Se você é um fabricante de cobre na China, então tem todos os incentivos para reduzir os próprios estoques e adiar a compra no mercado porque a demanda está ok, mas não é extraordinária, e os preços internacionais dispararam”, disse David Wilson, estrategista de commodities do BNP Paribas.
O aumento dos estoques de cobre é reflexo da desaceleração do mercado imobiliário da China, assim como da fraca atividade na indústria e na concessão de crédito, em um momento em que Pequim evita estimular diretamente o consumo das famílias.
Nas quatro semanas desde o recorde, o cobre caiu 13%, para US$ 9,6 mil por tonelada, em função da fraca demanda chinesa.
Os estoques de cobre costumam aumentar nos primeiros meses do ano e começam a diminuir no segundo trimestre, após o feriado do Ano Novo Lunar chinês, quando as fábricas voltam a incrementar a produção. Neste ano, porém, a situação de altos estoques tem se prolongado além do normal.
Em contraste com o quadro na China, alguns operadores advertiram que os estoques mundiais de cobre ainda estão em níveis perigosamente baixos, com reservas para apenas alguns dias de consumo. Segundo argumentam esses operadores, isso cria um risco de volatilidade e disparada nos preços.
Diante da fraqueza do mercado na China, o cobre para entrega em Xangai é negociado com desconto em relação ao preço referencial internacional — algo raro.
No entanto, parece que as fábricas chinesas de cobre começaram recentemente a retomar as compras do metal e os estoques tiveram leves quedas nas últimas duas semanas.
Ainda assim, o acúmulo de estoques de cobre se soma à preocupação com as turbulências que o setor poderá enfrentar com o excesso de fundições pelo mundo. Indonésia, Índia e República Democrática do Congo estão seguindo os passos da China e, em breve, aumentarão de forma significativa sua capacidade de fundição do metal.
“Este é o maior volume de nova capacidade de fundição em um período de 12 a 24 meses que já tivemos”, disse Wilson.
No fim de 2023, o fechamento de uma mina gigante no Panamá e cortes na previsão de produção de cobre anunciados pelas maiores mineradoras do mundo levaram analistas a prever uma escassez do metal, já que as fundições concorrem por um volume limitado de matéria-prima.
Os gestores de fundos aproveitaram isso no início de 2024 e apostaram na alta dos preços do cobre, mas a escassez física do metal não se concretizou. Em parte, isso ocorreu porque a República Democrática do Congo conseguiu aumentar a produção em suas minas, enquanto a China reciclou mais sucata, ajudando a aliviar o quadro da oferta.
Qin Jingjing, principal analista de metais não ferrosos da corretora SDIC Securities, disse que o acúmulo de cobre na China também se deve ao fato de que as fundições não terem reduzido a produção — exceto para manutenção anual —, embora tenham aventado a ideia de reduzir a produção em março.
Com a recente queda nos preços, “agora a questão é se o declínio de mais de 10% é suficiente para mudar o sentimento na China”, disseram analistas do JPMorgan em nota.
Alguns analistas argumentam que o preço do cobre pode subir no segundo semestre como resultado da demanda reprimida. “Com a queda do preço, veremos as pessoas aproveitarem isso”, disse Boris Mikanikrezai, analista da Fastmarkets, uma provedora de dados sobre commodities.
No entanto, Daniel Smith, chefe de pesquisa da AMT, uma corretora de metais londrina, disse que os preços podem cair ainda mais neste ano se alguns dos fundos que vinham comprando o metal começarem a vender a descoberto — apostando na queda do preço.
“A China chegou a uma fase fraca”, disse Smith. “Acho que o perigo é termos feito demasiado com o cobre [o preço caiu demais] neste ano e, se os fundos começarem a vender a descoberto, então poderíamos voltar a US$ 9 mil por tonelada.”
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Fonte: Valor Econômico

