A pressão renovada que Donald Trump tem feito sobre o Federal Reserve (Fed) para reduzir as taxas de juros — incluindo o “bullying” quase diário contra Jerome Powell e a tentativa de demitir Lisa Cook — ligou um sinal de alerta entre ex-diretores do Fed, que mostram preocupação com a independência do banco central americano.
Em uma pesquisa feita com 25 ex-dirigentes do Fed pela Duke University, 24 avaliam que as chances de um erro na condução da política monetária pelo banco central americano devido à interferência política em um intervalo de três anos são “elevadas”, “sérias” ou “extremas”.
O levantamento foi divulgado na segunda-feira e é realizado sempre antes de cada reunião de política monetária do Fed. Desta vez, a maior unidade entre os entrevistados esteve, justamente, nas questões relativas à independência da autoridade monetária dos Estados Unidos.
De acordo com a universidade, contudo, poucos ex-dirigentes viram a perda de independência como algo “inevitável” e apontaram que uma reação adversa dos mercados ou resistências internas no próprio Fed poderiam resistir a pressões da Casa Branca e evitar erros na gestão dos juros.
As atenções dos entrevistados estão voltadas, sobretudo, ao caso envolvendo a diretora Lisa Cook, que tem travado uma batalha judicial contra Trump para poder permanecer no cargo.
“Se Trump não controlar o Fed por meio do Fomc [comitê federal de mercado aberto], atribuo uma probabilidade de 5% para um erro na condução dos juros devido à interferência política. Se ele controlar o Fomc, então, talvez, 50%”, disse um ex-dirigente do Fed à Duke University.
Outro apontou que se a tentativa de Trump de remover Lisa Cook for bem-sucedida, há o risco de que outros membros do comitê sejam demitidos. “Os presidentes dos bancos regionais também correm risco de serem destituídos. O controle de uma maioria com direito a voto no Fomc permitiria ao presidente obter juros ultrabaixos”, ressaltou outro entrevistado.
Outro dirigente afirmou que, caso um afrouxamento mais rápido dos juros se materialize, os mercados podem ser impulsionados em um primeiro momento, mas, em seguida, viria a percepção de que o Fed estaria perdendo a independência e, portanto, abriria mão da luta contra a inflação. “Isso poderia reverter a euforia inicial dos mercados e ter o efeito oposto sobre as taxas de juros de longo prazo, devido à alta das expectativas de inflação, e talvez reduzir o interesse estrangeiro em títulos do Tesouro dos EUA, à medida que a credibilidade do banco central é comprometida.”
Fonte: Valor Econômico