No momento em que o mercado tem precificado a política monetária em níveis ainda bastante restritivos, com uma Selic em torno de 9,75% neste ano, ex-diretores do Banco Central (BC) têm apontado para um ambiente em que a taxa básica de juros pode testar níveis mais baixos, mas com chances de uma redução no ritmo de flexibilização monetária a partir de junho. É o caso da ASA Investments, que projeta o juro básico em 8,5% no fim do ciclo, enquanto a Kapitalo espera uma queda da taxa a 9,5% e uma continuidade do ciclo no próximo ano, que leve a Selic a 8%.
“Eu tenho pensado em dois ciclos, o que tem a ver com a transição do BC. Óbvio que é difícil acertar o filme”, diz o chefe de pesquisa da Kapitalo Investimentos, Carlos Viana de Carvalho, ao projetar uma desaceleração do ritmo de cortes a partir de junho e uma taxa de 9,5% no fim do atual ciclo, possivelmente em setembro.
“E segue aberta a continuidade do ciclo no ano que vem, levando a Selic para um nível perto de 8%”, afirma. As declarações foram dadas em painel sobre os rumos da política monetária durante evento do Bradesco BBI na tarde desta terça.
O cenário básico da Kapitalo parte da hipótese de que haja alguma distensão na política do Federal Reserve (Fed, BC americano) e de outros bancos centrais de mercados desenvolvidos. Assim, ainda há uma redução do diferencial de juros, mas parte é compensada pela queda de juros no exterior. E o outro fator tem ligação com a transição do comando da autoridade monetária.
“O BC está comunicando que o plano de voo é parar em um nível contracionista. Acho que, depois, a pressão para que a política se torne menos contracionista vai acabar levando a uma distensão adicional.”
O também ex-diretor do BC e atual diretor de macroeconomia da ASA Investments, Fabio Kanczuk, avalia que o BC promoverá mais uma redução de 0,5 ponto percentual nos juros e, depois, irá desacelerar o ritmo de corte para 0,25 ponto.
“Em vez de dois ciclos, vejo um ciclo só, que vai até 8,5%, diz. “O Fed começará a cortar também, em ritmo de 0,25 ponto a cada duas reuniões e não irá atrapalhar”, afirma o economista, que, contudo, vê uma inflação “meio chatinha” que fica em torno de 4%.
Durante o painel, tanto Viana quanto Kanczuk opinaram sobre a condução da política monetária no Brasil à frente e sobre a possível composição futura da diretoria da autoridade monetária. Na visão do profissional da ASA, o próximo presidente do Banco Central será o atual diretor de política monetária, Gabriel Galípolo.
“O [presidente] Lula vai ficar atazanando para jogar os juros para baixo, mas ele [Galípolo] vai resistir da melhor forma possível”, na visão de Kanczuk, que, contudo, vê pouca blindagem exercida pela autonomia do BC para eventuais pressões sobre o próximo chefe do BC.
“Na hora de baixar juros, vai Congresso, presidente… é fácil juntar todo mundo e pedir para abaixar juros.”
Para Viana, a autonomia formal da autoridade monetária ajuda a evitar algumas pressões, mas pode influenciar o perfil de quem será indicado.
“Quem foi indicado vai ser [alguém] da confiança do presidente. Sou preocupado com a transição por conta disso. A autonomia protege qualquer pessoa, então a escolha do nome vai ser relevante.”
Fonte: Valor Econômico

