Por Marina Guimarães — Para o Valor, De Buenos Aires
23/11/2023 05h03 Atualizado há 5 horas
O nome do futuro ministro de Economia da Argentina é uma das grandes incógnitas do futuro governo de Javier Milei. Desde sua eleição no domingo, as negociações seguem intensas e fontes ouvidas pelo Valor sugerem que Milei ainda tem dúvidas sobre o titular da pasta. E ele já indicou que o mistério só terá fim em 10 de dezembro, dia da posse.
No dia seguinte à vitória, Milei afirmou que não revelaria o nome de seu ministro da Economia para que não seja alvo de críticas. “É melhor assim para preservá-lo”, disse um ex-presidente do BC.
Entre os mais cotados para fazer a transformação da economia argentina estão os ex-presidentes do Banco Central Federico Sturzenegger e Luis Caputo – que também foi ministro de Finanças no governo Macri. Correm por fora, o atual secretário de Economia da província de Córdoba, Osvaldo Giordano, e os economistas Luciano Laspina (deputado e assessor de economia do PRO, partido do ex-presidente Mauricio Macri), Mariano Flores Vidal e Damian Reidel. Estes dois últimos, ligados a Sturzenegger e parte da equipe de política monetária do partido de Milei, o La Libertad Avanza (LLA).
“A escolha não é simples, porque tem que ser alguém que se disponha a acatar ordens de duas personalidades fortes, como a do próprio presidente eleito, que é economista e tem suas receitas, e o provável presidente do BC, Emilio Ocampo, que elaborou o plano de dolarização desejado por Milei”, disse uma fonte próxima do LLA.
Por ter feito carreira como economista-chefe e analista em grandes consultorias, corporações e bancos, essa fonte acrescenta: “ele jamais deixará de ser seu próprio ministro de Ecomomia, o que significa que o nome a definir tem que estar totalmente alinhado ao projeto de Milei”.
Até ontem, havia uma forte versão no mercado de que Macri, líder do PRO/Juntos por el Cambio (JxC), tentava impor nomes para o Ministério da Economia. Mas integrantes da LLA sustentam que “os cargos de primeiro escalão do governo [ministros] serão uma decisão de Milei, enquanto que os nomes de segundo e terceiro escalão serão negociados com Macri e Patricia Bullrich [candidata derrotada do JxC]”, aliados que lhe garantiram os votos da vitória.
Embora Sturzenegger e Caputo sejam identificados com Macri, ambos fazem parte da equipe econômica de Milei desde a campanha. “Eles são parte da equipe, são vinculados a Milei e não seriam uma indicação de Macri. Além disso, há outros nomes sendo considerados”, observou a fonte.
Um ex-presidente do BC muito próximo das conversas do LLA, disse ao Valor que tudo “depende de que ‘Toto’ [apelido de Luis Caputo] aceite a oferta, mas ele está reticente”. Fonte do mercado informou que a resistência de Caputo reside no fato dele não estar 100% de acordo com o plano de dolarização e o estilo de Emilio Ocampo. “Ele [Ocampo] é conhecido pelo mercado como muito duro, disposto a executar qualquer medida sem muita ética”, disse essa fonte.
Caputo é reconhecido, inclusive por Milei, como um gestor muito “respeitado e humano”. O presidente eleito também faz muitos elogios a Sturzenegger, que considera um “colosso” de economista. Ele, porém, seria a segunda opção.
Também falta a definição de metade do Gabinete de oito ministros do futuro governo. Ontem, a assessora de política externa de Milei, e cotada para a ser chanceler, Diana Mondino, reiterou que o Gabinete só será oficializado após a posse do presidente eleito.
Na noite de segunda-feira, Milei se reuniu com Macri e Bullrich para discutir a formação do futuro governo. Macri teria encarregado Bullrich de comandar as negociações dos cargos. Ela, inclusive, é cotada para voltar ao comando da pasta de Segurança, cargo que ocupou durante a gestão macrista. Fonte do JxC disse que o clima não é dos melhores. “Os libertários são muito fechados e verticalistas porque o contato mais estreito é mesmo entre Macri e Milei”, reclamou.
Além de ter que atender as demandas de JxC, Milei terá que incluir no governo nomes ligados ao governador de Córdoba, candidato derrotado no primeiro turno Juan Schiaretti (Peronismo Federal) e também atrair uma parte da Unión Cívica Radical (UCR), diz o cientista político Ignacio Labaqui, da Medley Global Advisors.
“A composição de governo de Milei é fundamental para construir uma governabilidade porque é claro que não é suficiente somente o apoio do PRO”, disse Labaqui ao Valor. Embora Schiaretti não tenha declarado apoio a Milei para o segundo turno, como o fez Macri, fez fortes críticas às políticas econômicas do candidato governista derrotado, Sergio Massa, e deixou seus seguidores “livres” para votar. O resultado foi uma eleição expressiva a favor de Milei no segundo maior colégio eleitoral do país depois da província de Buenos Aires. Ele é uma referência do Peronismo Federal, uma ala do Partido Justicialista (PJ) que representa o peronismo do interior, conformado por governadores.
Ontem mesmo, Milei se reuniu com os governadores das províncias, pois precisará do respaldo político deles para realizar os cortes nos gastos públicos. “Tem todo o sentido dar-lhes espaço porque Milei é o presidente mais fraco em termos legislativos que a Argentina já teve, e o que é pior: foi eleito em segundo turno por aqueles que o viram como um mal menor comparado a Massa”, disse Labaqui.
Fonte: Valor Econômico

