O ataque do presidente Donald Trump aos custos dos medicamentos tem mais probabilidade de privar os europeus de alguns remédios do que de reduzir os preços nos EUA, de acordo com o ex-chefe da Novo Nordisk A/S.
“Se o governo dos EUA conseguir impor o mesmo preço globalmente, as empresas escolherão os preços americanos, não os europeus”, disse Lars Fruergaard Jorgensen, em entrevista na noite de quinta-feira (9). “E se os europeus se recusarem a pagar o preço americano, eles simplesmente não receberão o produto.”
Trump quer que os pacientes americanos paguem pelos medicamentos os mesmos custos mais baixos que os pacientes em países que ele chama de “parasitas”. Seu plano de “nação mais favorecida” se baseia no argumento de que os altos preços nos EUA estão subsidiando tarifas mais baixas em outros lugares. No mês passado, a Pfizer Inc. concordou em reduzir os preços de vários medicamentos em troca de uma suspensão de três anos das tarifas que ele está usando para pressionar os fabricantes de medicamentos.
No entanto, Jorgensen, que liderou a Novo por oito anos antes de ser demitido em maio, argumenta que as farmacêuticas poderiam adotar uma abordagem diferente, mantendo os preços nos EUA iguais e aumentando os preços na Europa para corresponder.
Enquanto isso, as empresas europeias — que abriram unidades de produção nos EUA — estão menos vulneráveis à pressão tarifária de Trump, disse ele, falando em sua nova função como presidente do grupo de lobby Healthcare Denmark.
“É por isso que acho que a Pfizer fez um acordo — eles foram muito agressivos em relação à terceirização para a Irlanda, onde os impostos são baixos”, disse ele.
A pressão sobre os preços é apenas um aspecto de um cenário em transformação drástica para as empresas farmacêuticas europeias, pressionadas a expandir a produção nos EUA e à medida que a China emerge como uma importante fonte de inovação. A Europa precisa reforçar as fontes de financiamento para não ficar para trás, afirmou.
Tanto a União Europeia quanto a Dinamarca veem a indústria farmacêutica como uma forma de aumentar a competitividade. Principalmente devido à Novo, o país nórdico é especialmente dependente dos produtos farmacêuticos, que no ano passado representaram cerca de um quinto das exportações de bens e contribuíram com quase metade do crescimento econômico geral.
“Corremos o risco de nos tornarmos meros consumidores da ciência alheia”, disse Jorgensen, enquanto especialistas e líderes da indústria se reuniam em Copenhague para uma cúpula sobre ciências da vida, como parte da presidência dinamarquesa do Conselho da União Europeia. “Este é um chamado à ação para a Europa.”
Fonte: Valor Econômico