Nova droga pode atrasar a progressão da doença em 5 meses; há, porém, efeitos colaterais perigosos, como sangramento cerebral
- O Estado de S. Paulo.
- 7 Jul 2023
- TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU
Uma nova droga chamada Leqembi, que teve ontem aprovação total da Food and Drug Administration (FDA, a agência sanitária dos Estados Unidos), é vista com esperança no tratamento contra o Alzheimer. A medicação não é uma cura e não restaura memórias destruídas pela doença neurodegenerativa, mas retarda um pouco sua progressão, ao mesmo tempo em que levanta questões sobre custo e segurança que estão causando intensa controvérsia.
Em ensaios clínicos, o Leqembi diminuiu o declínio cognitivo em 27% ao longo de 18 meses em comparação com um placebo. Isso representou um atraso de cinco meses na progressão do Alzheimer – algo visto como insignificante por alguns, mas saudado como um marco por outros.
Foi a primeira vez que a FDA concedeu autorização total a uma terapia que altera o curso da doença. Outras drogas contra o Alzheimer tratam os sintomas e, muitas vezes, não muito bem.
“Estou muito empolgado”, disse Allan Levey, neurologista da Escola de Medicina da Emory University, em Atlanta. Segundo ele, o Leqembi e outras drogas em desenvolvimento para o Alzheimer “trazem esperança para mim como especialista e para meus pacientes”. Reisa Sperling, pesquisadora de Alzheimer no Brigham and Women’s Hospital em Boston, disse que o Leqembi “parece o começo de uma nova era”.
Os céticos observam, porém, que a eficácia da droga é limitada – talvez sutil demais para os pacientes notarem – e que ela pode causar inchaço cerebral e sangramento potencialmente perigosos. A droga é cara: US$ 26.500 por ano.
NOVA CLASSE. O Leqembi, terapia intravenosa da empresa farmacêutica Eisai em Tóquio e da Biogen em Cambridge, Massachusetts, integra uma nova classe de remédios para Alzheimer: anticorpos monoclonais, ou proteínas artificiais, que reduzem drasticamente o acúmulo
tóxico de amiloide no cérebro. Consideradas marcas típicas de Alzheimer, amiloides são proteínas que se agrupam no sistema nervoso central, comprometendo a transmissão de sinapses e causando danos aos neurônios.
Por questões de segurança e logística, a maioria das prescrições
de Leqembi nos EUA deve inicialmente ocorrer só em centros médicos acadêmicos com experiência no tratamento de Alzheimer. O Leqembi é para pacientes com comprometimento cognitivo leve ou demência precoce causada por Alzheimer. Para obter a medicação no país, os pacientes vão precisar de evidências de acúmulo de amiloide no cérebro. Isso é determinado por PET scans de amiloide ou punções lombares.
Assim que começarem a tomar Leqembi, os pacientes precisarão de várias ressonâncias magnéticas cerebrais para verificar os efeitos colaterais. Inchaço e sangramento no cérebro geralmente podem ser controlados com segurança, dizem médicos envolvidos em ensaios clínicos de antiamiloides. Segundo eles, os efeitos colaterais não são piores do que os de alguns medicamentos contra o câncer.
RISCOS. Houve, porém, três mortes que talvez estejam ligadas ao Leqembi em uma parte estendida do estudo principal. E alguns pacientes – incluindo aqueles que tomam anticoagulantes ou com um problema que causa sangramentos cerebrais microscópicos – podem ser especialmente vulneráveis a efeitos colaterais perigosos. Se a droga não for manuseada corretamente, dizem alguns especialistas, mais pessoas podem ser prejudicadas.
Em janeiro, a FDA concedeu ao Leqembi aprovação acelerada com base em dados que mostraram que a substância reduzira acentuadamente a amiloide cerebral. A aprovação total exigiu um estudo maior para verificar se o remédio ofereceria benefício clínico. Em junho, especialistas externos da agência, revisando resultados de um ensaio confirmatório, concordaram unanimemente que o Leqembi ajuda os pacientes.
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