Uma pesquisa publicada nesta terça-feira (20) encontrou um número desproporcionalmente alto de relatos de pensamentos suicidas entre pacientes que tomam o Ozempic, da Novo Nordisk, com base em uma análise de um banco de dados global.
A análise, que apareceu no jornal médico “JAMA Network Open”, reacendeu o que parecia ser uma questão encerrada sobre uma possível ligação entre pensamentos suicidas e agonistas [substâncias que se ligam a receptores no cérebro e imitam as ações de hormônios ou neurotransmissores] do receptor GLP-1, utilizados no tratamento de diabetes e obesidade. Essa classe de medicamentos inclui a semaglutida, o remédio da Novo Nordisk para perda de peso e diabetes, vendido sob os nomes comerciais Ozempic, Wegovy e Rybelsus.
As preocupações sobre pensamentos suicidas entre pacientes que usam agonistas do receptor GLP-1 atraíram grande atenção no verão passado, quando reguladores europeus iniciaram uma revisão dessa possível ligação. A agência reguladora americana Administração Federal de Alimentos e Medicamentos (FDA, na sigla em inglês) começou sua própria revisão pouco depois.
Os resultados dessas revisões pareciam encerrar a questão. Em janeiro, a FDA disse que não viu evidências de que o uso de agonistas do receptor GLP-1 causasse pensamentos ou ações suicidas. A Agência Europeia de Medicamentos (EMA), reguladora de medicamentos da Europa, chegou à mesma conclusão em abril.
Estudos anteriores também haviam acalmado as preocupações. Uma análise publicada na revista médica “Nature Medicine” em janeiro revisou mais de um milhão de registros de saúde e descobriu que, tanto entre pessoas com diabetes tipo 2 quanto entre aquelas que estavam obesas ou com sobrepeso, os pacientes que tomaram semaglutida tiveram um menor risco de ideação suicida.
O novo estudo, que se baseia em uma análise de um banco de dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre reações adversas a medicamentos, parece chegar à conclusão oposta. Ele encontrou o que os autores chamaram de “um sinal de desproporcionalidade de ideação suicida com a semaglutida”.
Os autores examinaram o banco de dados da OMS para reações adversas relacionadas ao suicídio associadas tanto à semaglutida quanto à liraglutida, um medicamento GLP-1 mais antigo da Novo vendido sob os nomes Victoza e Saxenda para tratar tanto o diabetes tipo 2 quanto a obesidade. Eles disseram que observaram uma incidência desproporcionalmente alta de pensamentos suicidas associados à semaglutida, mas não à liraglutida.
“Este estudo utilizando o banco de dados da OMS encontrou um sinal de ideação suicida associada à semaglutida, o que justifica uma clarificação urgente”, escreveram os autores.
Um comentário publicado junto ao estudo argumentou que os medicamentos GLP-1 devem ser “prescritos com grande cautela em pacientes com histórico de depressão ou tentativas de suicídio”. Ele disse que os médicos devem considerar suspender o uso do remédio nos pacientes que desenvolverem depressão enquanto usam medicamentos GLP-1.
Em uma declaração, a Novo disse que o novo estudo tinha várias limitações, que os autores divulgaram. Elas incluíam uma capacidade limitada de ajustar a ideação suicida ou depressão suicida que existia antes do início do tratamento.
“Nós defendemos a segurança e eficácia de todos os nossos medicamentos GLP-1RA quando usados conforme indicado e sob os cuidados de um profissional de saúde licenciado”, disse a Novo. “Os riscos conhecidos associados ao uso desses medicamentos estão refletidos em seus rótulos atuais aprovados pela FDA e EMA.”
A cotação do recibo de ações (ADR) da Novo permaneceu estável nesta terça-feira (20), na Bolsa de Nova Yrok (Nyse).
Os reguladores de medicamentos monitoram de perto os medicamentos para perda de peso em busca de ligações com pensamentos suicidas após uma experiência de uma década atrás, na qual os reguladores europeus aprovaram um tratamento para perda de peso chamado rimonabanto pouco antes de estudos o associarem a efeitos psiquiátricos graves.
Os rótulos da FDA tanto para o Wegovy quanto para o Zepbound da Lilly advertem que os pacientes que usam esses medicamentos devem ser monitorados para depressão ou pensamentos suicidas e deixar de tomar os medicamentos se exibirem sintomas.
Fonte: Valor Econômico