11 Apr 2022 JENNE ANDRADE
O Ibovespa consolidou o descolamento do resto do mundo e fechou o primeiro trimestre de 2022 com valorização acumulada de 15%, aos 119,9 mil pontos. Segundo levantamento da Economatica, foi o melhor desempenho entre os principais mercados latinos e os Estados Unidos.
O ‘céu de brigadeiro’ atravessado pelo principal índice de ações da Bolsa de Valores brasileira surpreende, uma vez que no ano passado o cenário foi o extremo oposto. O indicador terminou 2021 com queda de 11,9%, enquanto as bolsas estrangeiras seguiram em direção contrária.
Victor Natal, estrategista para pessoa física do Itaú BBA, explica que, em questão de fundamentos macroeconômicos, não houve nenhuma mudança significativa que justifique a performance do Ibovespa em 2022, mas avalia que a entrada de fluxo estrangeiro no País, iniciada em janeiro, foi o fator que puxou o índice para cima.
Como avalia esse movimento tão positivo no primeiro trimestre do ano?
Do ponto de vista macroeconômico não tivemos uma grande melhora no Brasil do fim do ano passado para o primeiro trimestre de 2022. Não há nada, do ponto de vista fundamental, que justificasse essa andada da Bolsa de Valores que nós vimos. O que vem fazendo a Bolsa subir tanto é a entrada do investidor estrangeiro, que começou a tomar muita força em janeiro. O estrangeiro que está procurando onde colocar o capital acaba encontrando possibilidades aquém da ideal nos demais mercados emergentes. E, quando ele olha para o Brasil, vê um fundamento que não é dos melhores, mas encontra um país que já está terminando o ciclo de alta de juros.
Além dos juros, quais fatores impulsionam esse capital estrangeiro para o mercado brasileiro?
Além do preço baixo, há a alocação de recursos de fundos que aplicam em mercados emergentes. Em 2006, tínhamos esses fundos investindo por volta de 12% (de seus recursos) no Brasil. Conforme o tempo foi passando, essa alocação diminuiu muito. No final do ano passado bateu por volta de 4%. Agora, com essa entrada de estrangeiros no Brasil, está subindo para próximo de 5,5%. Isso mostra que, ao longo do tempo, o estrangeiro colocou menos dinheiro no Brasil do que tinha capacidade de colocar. O estrangeiro vê que o Brasil já fez o ciclo de alta de juros, a Bolsa parece relativamente barata em relação ao passado e tem espaço para colocar dinheiro no País.
Onde esses investidores estrangeiros estão aportando?
O investidor estrangeiro gosta de empresas líquidas, com volume financeiro negociado em Bolsa muito alto. Ele prefere empresas que tenham uma grande ‘porta de entrada’ e uma grande ‘porta de saída’. Um exemplo é a mineradora Vale, que negocia muito diariamente. Nesse caso, o estrangeiro consegue montar uma posição sem mexer muito no preço da ação. E, se por acaso precisar sair rápido da posição, ele consegue fazer isso sem se prejudicar muito no preço (já que uma venda grande de ações pode fazer o preço cair).
O índice Ibovespa deve continuar subindo para além dos 120 mil pontos?
O nosso alvo para a Bolsa, publicado em janeiro, era de 115 mil pontos. Entretanto, esse alvo é construído de uma maneira muito fundamental. Olhamos muito para o desempenho das empresas e tentamos determinar, a partir disso, como serão as performances dessas empresas na Bolsa de Valores. Dado que tivemos esse movimento de entrada de estrangeiros muito forte, hoje já ultrapassamos o que seria nosso target para o final de 2022.
A guerra na Ucrânia pressionou o preço das commodities. Após um trimestre de altas, ainda há ações com potencial de crescimento no setor?
Empresas que trabalham com commodities ficam bastante atreladas ao preço dos insumos em si. Isso quer dizer que, quanto mais pressão tivermos de preço de commodities, mais essas empresas tendem a se valorizar na Bolsa. Se tivermos um final de conflito e as sanções à Rússia continuarem, provavelmente seguiremos tendo pressão de commodities. E, com essa pressão, iremos ver essas empresas se valorizando ainda mais. Eu ainda vejo espaço para commodities enquanto perdurar toda essa situação.
Do ponto de vista político, qual deveria ser a maior preocupação do investidor neste ano?
O que devemos fazer é assumir que este é um ano volátil e que volatilidade traz oportunidades e riscos. Temos de estar atentos e ter opiniões de pessoas competentes que olham só para esse assunto e vão conseguir adaptar a seleção de ativos olhando para fundamentos e perspectivas econômicas. •
Fonte: O Estado de S. Paulo

