1 Feb 2024
LUÍZA LANZA
O anúncio da redução da Selic ontem pelo Banco Central (BC) em 0,5 ponto porcentual (para 11,25% ao ano) reforça as projeções do mercado de que a taxa básica de juros termine o ano em 9%, como prevê o último Boletim Focus, compilação das opiniões do mercado feita semanalmente pela autoridade monetária.
A perspectiva de que a Selic vai se estabilizar quando chegar à casa de um dígito mexe com as estratégias de investimentos desde que a taxa começou a cair, em agosto do ano passado. Isso porque retornos de 1% ao mês em ativos de renda fixa de baixo risco, como aconteceu ao longo de 2023, podem ficar cada vez mais difíceis de serem alcançados. No entanto, isso não significa que essa classe de ativos deva sair das carteiras de investimentos, de acordo com especialistas.
“Com o prolongado ciclo de corte de juros, ativos de risco ou de renda variável passam a chamar atenção”, diz João Coutinho, economista da RJ+Asset. “No entanto, o Brasil ainda tem um dos maiores juros reais do mundo, o que mantém o investimento em renda fixa ainda atrativo.”
Um levantamento feito por Rafael Haddad, planejador financeiro do C6 Bank, mostra que os ativos de renda fixa com maior retorno líquido com a Selic em 11,25% ao ano são as Letra de Crédito Imobiliário (LCIs), Letra de Crédito do Agronegócio (LCAs) e as Debêntures Incentivadas (DI). Por serem ativos isentos de Imposto de Renda (IR), esses investimentos garantem retornos superiores aos outros títulos mais conhecidos da renda fixa, como o Tesouro Selic ou até mesmo os Certificados de Depósito Bancário (CDBs).
O cálculo levou em consideração uma estimativa de CDI de 9,97% em um ano, com base no contrato de DI futuro, e uma expectativa de inflação em 12 meses de 3,86%, baseado na projeção mais recente do Boletim Focus.
A simulação mostra que uma LCI de 96% do CDI paga mais do que um CDB de 115% do CDI, por exemplo. Isso significa que um investimento de R$ 1 mil nos dois ativos renderia, após um ano, 9,57% versus 9,45% (mais informações no quadro nesta página).
“Títulos isentos ganham um destaque importante quando fazemos o cálculo. No dia a dia, o investidor não se atenta e busca a maior taxa nominal, mas o ideal é sempre fazer conta”, afirma Larissa Frias, planejadora financeira do C6. “Especialmente para valores e prazos maiores, a não incidência do IR faz muita diferença.”
PREFIXADO. Outra opção que também agrada os especialistas são os ativos prefixados ou híbridos, aqueles com uma taxa pré e um indexador pós-fixado, como o IPCA. Com a expectativa de continuidade da queda na Selic, essa pode ser uma boa chance de “travar” uma rentabilidade maior com uma taxa já pré-estabelecida.
Os dados do C6 mostram que, em um ano, um CDB prefixado a 11,3% ao ano tem rentabilidade líquida de 9,32%, muito semelhante à dos títulos isentos, por exemplo. Já ativos indexados à inflação, com uma taxa IPCA mais 6,35% ao ano, oferecem retorno líquido de 8,63% em um ano.
“Visando um cenário de vencimentos mais longos, o investidor ainda pode aplicar nos ativos de inflação. As pontas prefixadas estão atrativas, com prêmios acima de 5% de retorno real”, diz Jaqueline Benevides, chefe de renda fixa da InvestAi.
Ainda que um ativo pareça mais atrativo que outro, as especialistas reforçam que é preciso ter em mente o objetivo daquele investimento e o perfil de risco. Não é pelo fato de a taxa de juros estar em trajetória de queda que toda a carteira precisa ser de títulos prefixados, por exemplo.
Projeção Simulação feita pelo C6 Bank mostra que uma LCI de R$ 1 mil em um ano pode render 9,57%
EMERGÊNCIA. A reserva de emergência deve estar alocada em um ativo pós-fixado, que tenha segurança e liquidez diária, ainda que isso signifique retorno menor.
Nesse caso, CDBs ou o próprio Tesouro Selic são boas opções – a poupança tem o menor retorno da renda fixa. “A poupança tem ficado para trás em termos de rentabilidade mesmo considerando outras opções que pagam IR. O Tesouro e o próprio CDB acabam tendo rentabilidades superiores e com risco equivalente; em prazo um pouco mais longo, essa diferença fica maior ainda”, afirma Larissa. •
Fonte: O Estado de S. Paulo