Por Juliana Schincariol — Do Rio
12/07/2022 05h02 Atualizado há 3 horas
As práticas ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) demandam um novo tipo de comportamento dos investidores. O engajamento com as companhias precisa ser maior para que mudanças efetivamente aconteçam, segundo executivos da gestora Schroders.
No Brasil, não são todas as companhias que estão dispostas a mudar, segundo o diretor-presidente da Schroders Brasil, Daniel Celano. O executivo lembra que o tema é acompanhado de perto por entidades como Amec e Anbima, e há um trabalho por uma maior transparência das empresas. De forma geral, na visão dele, o movimento parte de companhias maiores, especialmente as que têm investidores globais. Estas já entenderam que precisam ser mais receptivas. “Se isso não ocorrer, companhias podem ser penalizadas. Em vez de comprar 5%, o investidor pode comprar apenas 1%, ou nada. Algumas companhias sabem que precisam atacar esses pontos, mas algumas ainda não estão lá, e participantes do mercado não estão necessariamente questionando-as”, diz Celano.
Do lado dos investidores, há pouco avanço, por exemplo, das fundações de previdência fechada, avalia. “Os fundos de pensão precisam estar lá, alguns poucos estão indo nesse caminho. Temos cerca de meia dúzia que estão olhando para isso de forma séria. Mas acho que o resto do mercado ainda está deixando muito para trás”, afirma Celano.
A gestora tem sede no Reino Unido e, globalmente, o patrimônio se aproxima de US$ 1 trilhão. No Brasil, a Schroders é uma das cinco maiores gestoras na B3, com mais de R$ 20 bilhões sob gestão. Em março de 2021, a empresa passou a integrar os fatores ESG em suas tomadas de decisão em todos os investimentos que gerencia, cumprindo uma intenção anunciada em novembro de 2019. “A gestão de recursos está mudando completamente o olhar para além do risco-retorno, com inclusão do impacto. Nosso objetivo é sobre como incorporar esse impacto como uma terceira dimensão sobre tudo o que fazemos em investimentos”, afirma a líder de estratégia de distribuição da área de ESG da Schroders em Londres, Sasha Miller, que esteve no Brasil recentemente para reuniões com empresas e investidores.
O tema é complexo e é muito mais do que questionar se as empresas estão ou não adotando certas posturas. “Não há uma única métrica que possa definir se um investimento é bom ou ruim. Temos processos para medir impacto, pegada de carbono, fluxos de capital e governança. Se o G não estiver lá, provavelmente o E e o S estarão de fora”, afirma Celano. Sem governança, continua, não é possível saber se as outras métricas estarão preenchidas. Em uma empresa que possui apenas um único especialista para cuidar do ESG, certamente pode haver um problema. “Provavelmente a companhia está deixando algo para trás ou está colocando aquela pessoa apenas para dizer que está fazendo algo sobre o tema”, completa.
Nas análises da gestora, se for identificado que uma métrica não está sendo alcançada pela empresa, os ativos não serão incluídos nos fundos ESG até que a postura mude, garante Celano. Outros produtos podem até ter esses ativos em carteira, mas a companhia continuará sendo questionada. E, se a empresa não se ajustar, a Schroders pode reduzir suas posições. O executivo dá um exemplo de uma empresa na Califórnia, nos Estados Unidos. Uma mudança na legislação local determinou que empresas deveriam prevenir incêndios, caso contrário seriam responsabilizados por negligência. A gestora conseguiu identificar que essa companhia se manteve inerte. “Vendemos títulos de dívida dessa empresa no mercado secundário e, seis meses depois, arquivaram o pedido de Chapter 11”, afirma. Uma vez que apresenta o pedido de proteção contra falência, os credores não podem mais pedir empréstimos ou exigir o pagamento de juros, os processos são pausados.
Miller lembra que sustentabilidade é uma área de fato complexa e requer pesquisa e dados ativos de inteligência o tempo todo. A executiva lembra que, apenas sob a perspectiva de clima, muitas empresas, que representam boa parte do Produto Interno Bruto (PIB) global, estão comprometidas com o carbono neutro. “Sabemos que os custos para enfrentar isso são muito altos. Há oportunidades e riscos a serem mitigados. O fluxo de capital vai impulsionar essas estratégias e acredito que será absolutamente massivo”, afirma a executiva. Muito se fala sobre o clima, mas há diferentes focos, dependendo do país. Nos EUA, por exemplo, há muita luz em questões ligadas a direitos de trabalhadores, diversidade e inclusão.
Fonte: Valor Econômico

