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Depois de sete anos em queda, finalmente o país pode comemorar uma melhoria nos seus indicadores de vacinação. Segundo o último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef, na sigla em inglês), em 2023, o Brasil saiu da lista dos 20 países com mais crianças não vacinadas, na qual ocupava o sétimo lugar em 2021.
De acordo com o relatório, o número de crianças que não receberam nenhuma dose da DTP1, que protege contra difteria, tétano e coqueluche, caiu de 418 mil em 2022 para 103 mil em 2023. Em nível global, o número de crianças que não receberam nenhuma dose dessa vacina cresceu de 13,9 milhões para 14,5 milhões no mesmo período.
O resultado começa a reverter a queda na cobertura vacinal, que vinha acontecendo desde 2016 e que havia se intensificado entre 2019 e 2022. Segundo Eder Gatti Fernandes, coordenador do Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde (MS), uma série de fatores levou à retração da imunização, de problemas operacionais e de infraestrutura à implantação do modelo de registro nominal das doses aplicadas. “O processo ficou mais complexo e muitos dados foram perdidos nessa transição”, diz. A retomada, segundo ele, se deve à prioridade dada pelo governo ao programa de vacinas, que ganhou departamento próprio na estrutura do ministério. “Isso facilitou a construção de políticas públicas”, diz. O próximo passo foi implementar uma estratégia de microplanejamento, elaborada com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
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“O microplanejamento considera a realidade local”, explica Fernandes. Para isso, foram repassados R$ 151 milhões aos municípios, condicionados à realização de ações de multivacinação. “Com isso, foi possível planejar melhor as ações para chegar de fato às pessoas que não foram vacinadas.” Ao mesmo tempo, as doses foram atreladas ao CPF dos cidadãos e as informações, integradas à rede nacional de dados de saúde. “Assim, resolvemos o problema do registro. Com informações mais precisas, direcionamos melhor os recursos.”
A estratégia, diz Fernandes, deu bom retorno, especialmente nas ações de rotina, como a vacinação infantil. Outra iniciativa bem-sucedida foi levar a vacinação contra o HPV para as escolas, o que elevou em 40% o número de doses aplicadas. “Queremos reforçar as ações de vacinação como parte da rotina do SUS e do ciclo de vida das pessoas”, afirma.
Mas o Ministério da Saúde ainda não está satisfeito com o resultado das campanhas específicas. A campanha de vacinação contra a dengue, por exemplo, ficou abaixo das expectativas. Houve limitação de capacidade produtiva e o volume de doses fornecidas foi insuficiente para que houvesse mais escala na imunização. “Direcionamos as doses para municípios prioritários”, explica Fernandes. Além disso, seguindo recomendações da OMS, a campanha se limitou a crianças de 10 a 14 anos.
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Fernandes destaca a importância de instituições públicas como a Fiocruz e o Instituto Butantan para o desenvolvimento de novas vacinas, e ressalta o papel das parcerias com o setor privado. “Basta lembrar, por exemplo, as novas tecnologias utilizadas para desenvolver as vacinas contra a covid-19 e o apoio de organizações privadas aos Estados e municípios na criação da estrutura necessária para manter as vacinas em câmaras frias.”
De fato, as estratégias de imunização teriam efeito limitado sem a evolução da cadeia produtiva. A tecnologia de RNA mensageiro, por exemplo, mudou o jogo ao usar fragmentos de RNA para criar vacinas de forma rápida, eficiente e segura, durante a pandemia da covid-19. “Essa tecnologia reduz a complexidade na produção de insumos e permite alta escala de produção em plantas de menor porte”, explica Thiago Barbosa, diretor da unidade de negócios de vacinas da Adium, parceira da Moderna Biotech para a distribuição dessas vacinas contra a covid-19 no Brasil.
Barbosa observa que os avanços são resultado de mais de 12 anos de estudos. “Temos trabalhado em vacinas contra vírus latentes, como o do herpes-zóster e o Epstein-Barr (vírus de herpes associado ao desenvolvimento de cânceres linfáticos), entre outros”, conta. Recentemente, a Moderna anunciou resultados promissores no desenvolvimento de uma nova vacina combinada contra a gripe e contra a covid-19, a Fluzone. “Também temos avançado nas pesquisas de uma vacina contra a bronqueolite, causada pelo vírus sincicial respiratório”, diz Barbosa. No futuro a ideia é combinar a Fluzone e a vacina da bronquiolite em uma única dose. “Com isso, teremos proteção contra 95% dos tipos de SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave).”
Barbosa acredita que o papel dos agentes privados poderia ser mais estratégico no aumento da cobertura vacinal. “Hoje, com poucas exceções, os planos de saúde não cobrem vacinas, especialmente as não incluídas no Programa Nacional de Imunização”, diz. Segundo ele, estudo feito na França, durante a pandemia, apontou que, a cada US$ 1 investido em vacinas, houve redução de US$ 18 nos gastos do sistema de saúde. “Isso mostra o impacto gigantesco das vacinas em todos os elos da cadeia.”
Para Camila Alves, diretora de primary care da Pfizer Brasil, “se a vacinação deve ser vista como pacto coletivo da população pela saúde, enfrentar barreiras que ameaçam essa rede de proteção precisa ser compromisso que envolva poder público e setor privado”. As vacinas foram um dos principais focos do investimento global de
US$ 10,7 bilhões da Pfizer na área de P&D em 2023. Esses esforços permitem à empresa trazer ao país inovações de seu portfólio como a vacina Abrysvo, contra o vírus sincicial respiratório, e a Prevenar-20, imunizante que oferece cobertura mais ampla contra a bactéria do pneumococo.
Depois de entregar mais de 350 milhões de doses de sua vacina contra a covid-19 ao Brasil, a Pfizer se prepara para começar a oferecer o imunizante à rede privada. “Com o término da pandemia, em 2023, apenas alguns grupos considerados prioritários pelo Ministério da Saúde estão elegíveis para continuar a se proteger contra a doença por meio do PNI”, diz Alves. “Estamos nos preparando para fornecer a vacina para a rede particular ainda neste ano, para que pessoas de faixas diferentes daquelas contempladas pelo PNI possam se proteger.”
Uma das maiores fabricantes globais, a GSK responde por cerca de 40% das doses de vacinas aplicadas em crianças em todo o mundo. Em 2023, a empresa investiu globalmente 6,2 bilhões de libras em pesquisa e desenvolvimento de vacinas e medicamentos. No país, foram mais de R$ 36 milhões em pesquisas globais gerenciadas pela GSK no Brasil. Segundo Esteban Gully, CFO e presidente interino da GSK, 11 das 19 doenças contempladas pelo PNI são prevenidas com vacinas de origem GSK. Entre as contribuições mais recentes está uma vacina contra o vírus sincicial respiratório, com eficácia de 94,6% para pessoas com 60 anos ou mais, com comorbidades como diabetes.
A GSK também ressalta a importância da parceria com o setor público. “Em 2023, reforçamos esse modelo colaborativo com acordos para um projeto pioneiro, tripartite, de transferência de tecnologia da GSK para produção de vacina meningocócica ACWY junto à Fundação Ezequiel Dias (Funed) e à Fiocruz”, diz Gully. A GSK, afirma, quer estimular o desenvolvimento de hubs de saúde no país, usando redes de farmácias como pontos de vacinação. “Em 2023, viabilizamos atendimento em mais de 1.500 salas de vacinação”, diz.
A importância estratégica das vacinas levou o Hcor, em São Paulo, a inaugurar, no começo de 2023, um centro de vacinação. São 200 a 300 atendimentos por mês e a unidade está aberta ao público. “Não limitamos os atendimentos aos nossos pacientes”, explica Juliana Oliveira da Silva, infectologista e coordenadora do Centro de Vacinação do Hcor. A iniciativa, segundo ela, segue estratégia voltada à prevenção. “Atendemos grande número de pacientes com doenças cardiovasculares e respiratórias, que podem sofrer intercorrências graves por enfermidades que poderiam ser prevenidas por meio de vacinas”, diz.
O Centro de Vacinação do Hcor segue o calendário do PNI, mas não se limita a ele. Para Juliana, as unidades privadas de vacinação têm papel importante na manutenção e ampliação da cobertura vacinal. “Mais que individual, a vacinação é proteção coletiva”, diz a infectologista, para quem os centros privados permitem que públicos não incluídos como prioritários no PNI tenham acesso às vacinas do PNI, além de oferecer novas vacinas mais completas. “Hoje, o PNI oferece uma vacina quadrivalente, contra quatro sorotipos do HPV. Temos uma vacina nonavalente, que protege contra outros cinco sorotipos da doença”, compara.
No entanto, nem todos os avanços da indústria farmacêutica e nem todos os esforços do setor público foram capazes de exterminar um dos maiores obstáculos à imunização: as fake news. “O Ministério da Saúde tem trabalhado fortemente para combater a desinformação, monitorando as redes para reagir com medidas específicas ao identificar notícias falsas”, diz Fernandes, coordenador do PNI. As empresas privadas também. “Criamos uma página específica em nosso site para desmistificar as notícias falsas”, conta Alves, da Pfizer.
Fonte: Valor Econômico