Em menos de 20 anos, as mudanças demográficas do Brasil irão acelerar, pressionando o crescimento da economia para baixo e elevando os gastos com saúde e Previdência. Mas essas perspectivas não estão sendo levadas em conta nas decisões governamentais, avaliam economistas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). Do ponto de vista orçamentário, afirmam, o governo deveria ser mais cauteloso com gastos previstos em áreas como educação, diante da perspectiva de queda da população entre 18 e 64 anos e alta de gastos em outras áreas.
Levantamento feito por Braulio Borges, pesquisador do FGV Ibre e economista sênior da LCA Consultores, mostra que com as novas perspectivas demográficas divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em agosto deste ano, o cenário no curto prazo é menos impactante, mas a partir de 2040, os gastos envolvendo plano de saúde, medicamentos e aposentadoria devem começar a subir com força.
Com avanço da idade da população aumentam tanto gastos públicos com saúde quanto privados. Borges afirma que a mensalidade média do plano de saúde cresce a partir dos 40 anos de idade, assim como a despesa média mensal ambulatorial e hospitalar.
Além do impacto fiscal, diz o economista, pode haver mudanças na composição setorial do PIB, com mais serviços de saúde sendo consumidos. As projeções hoje preveem que o percentual da população entre 40 e 65 anos passe dos 32,3% atuais para 36,1% em 2040.
Assim como a saúde, a Previdência também será diretamente impactada pelas mudanças. O percentual da população entre 18 e 65 anos no total deve passar dos atuais 65,7% para 64,9% em 2040 e 61,5% em 2050.
Ao contrário de gastos com saúde e Previdência, os gastos com educação pública e privada deveriam diminuir, acompanhando a queda da população de até 18 anos, que passará de 25,3% da população atual para 19,3% em 2040.
“Não faz nenhum sentido conceber uma política educacional sem pensar no número alunos que terão de ser abastecidos por ela”, diz Fabio Giambiagi, pesquisador associado do FGV Ibre.
“No universo de 0 a 14 anos em 2060, na revisão de 2018 eram 33,6 milhões de crianças, e na de 2024, 26,8 milhões. Ou seja, 7 milhões de crianças a menos. Mesmo que o gasto real com educação se mantivesse constante, sem crescer, o gasto per capita aumentaria.”
Ele lembra que, após a PEC aprovada em 2020, o percentual da receita líquida destinada ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) vem crescendo desde 2021.
Borges afirma que, além do lado fiscal, as transformações demográficas impactam também taxa de poupança, juros de equilíbrio, e inflação.
O economista prevê, por exemplo, que a cesta de consumo da população da terceira idade, com maior peso de serviços de saúde e medicamentos, deve pesar mais sobre a inflação agregada, elevando-a em cerca de 0,2 ponto percentual ao ano.
“Mas essas mudanças [demográficas] não estão sendo levadas em conta na previsão de novos gastos, na elaboração do orçamento ou mesmo na definição de metas inflacionárias”, diz Borges.
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Fonte: Valor Econômico